A Piada Mortal: 25 anos depois

O texto a seguir é dividido em duas partes, uma escrita por Jorge Trindade e outra por Orlando Simões

A Piada Mortal: 25 anos depois Alan Moore continua chutando bundas e o genial marqueteiro Grant Morrison pega carona

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Cara, engraçado como todo mundo esta caindo na pilha do escritor escocês Grant Morrison, o final da graphic novel “A Piada Mortal” é aberto, livre a interpretação de cada leitor.

Vamos à análise, Morrison diz que a mão do homem-morcego vai em direção ao pescoço do Coringa, contudo aparece uma mão do Batman no ombro outra para trás, é só ver as costas dele, e temos uma do Coringa aparecendo e a outra não. Vamos elucubrar, nesta linha de raciocínio quem garante que a Piada Mortal não seja o inverso do que Morrison diz e acaba sendo o Coringa a matar o Batman na primeira vez que o morcego baixa à guarda? Afinal ambos riem “juntos”, para um combatente do crime isto seria um erro fatal, além do mais as risadas do Coringa sempre foram fora de contexto, prenuncio de coisas trágicas.

Outro final possível, ambos se matam. Coringa enfia um estoque ou um punhal no Batman, este, por sua vez, antes de morrer, quebra o pescoço do palhaço do crime…

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Grant Morrison

Final aberto meu caro, e Grant Morrison mais do que ninguém sabe disto, mas como é um autor refinado, pegou carona nesta brecha, sem esquecer que este tem uma rixa com Moore, aproveita e ainda cutuca seu desafeto. Não me surpreenderia nada que depois disso “A Piada Mortal” tivesse um pico de vendas, quem sabe Morrison não leva um bônus nesta? Seria merecido…

Por Jorge Trindade

O óbvio, o básico e o subjetivo…

Não vi nada de magnífico nas declarações de Grant Morrison a respeito do tão “aclamado final descoberto” da espetacular obra “A piada mortal” de Alan Moore. Li a graphic novel em 1993, quando tinha 13 anos, e sinceramente? Para mim, já naquela época, imaginei que essa final da morte do homem-morcego pelo Coringa fosse a visão mais básica, superficial e primária para um desfecho tão escancaradamente aberto… confesso, não me surpreendi em nada com mais essa declaração oportunista do Morrison, sabidamente um ótimo escrito, desafeto de Moore e de longa data e um dos melhores marketeiros de sua própria imagem.

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Alan Moore, o “pai” da obra e seuespetacular final aberto para cada um de nós

Querer fechar um final aberto tão bem insinuado e de carga tão subjetiva para uma obra assim é besteira. Alan Moore, como bom autor que é, não se pronuciou e jamais se pronunciará sobre isso porque é esperto, muito esperto, e não vai estragar a magia de seu final subjetivo, uma vez que é nisso que reside a força da obra: deixar o leitor participar de sua conclusão.

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A página do tão alardeado final “descoberto” por Morrison. Clique na imagem para ver ampliada.

Querer fechar a interpretação de todo mundo é uma grande besteira. Batman matar o Coringa é meio óbvio demais e é espantoso as pessoas agirem como se isso realmente fosse a descoberta da pólvora… e quem disse que não os dois que morrem juntos, ou o terminam como sempre com Batman prendendo o Coringa, ou o Batman morrendo por um golpe traiçoeiro, ou a policia chegando e matando os dois, haja vista a aproximação de uma viatura, quem garante que os policiais, vendo os dois na maior galhofa, não supuseram uma cumplicidade entre ambos que vinha sendo exercida de longa data? E assim vai.

É final aberto e vai continuar sendo assim. Tem sido essa a grande força desta trama magnificamente bem construída, tanto em texto quanto em imagem, um grande tributo aos dois antagonistas de longas eras. A função de uma obra assim é liberar a imaginação para alçar voos sem limites, Morrison sabe disso e adora sair alfinetando e disparando sua metralhadora verbal como poucos, afinal é um profundo conhecedor da história dos comics e não perde oportunidade de estar sob a luz dos holofotes.

Sou grande apreciador do trabalho de Morrison, um autor com uma produção acima da média e com uma bagagem intelectual invejável, mas desta vez ele falou uma grande besteira, e lamentavelmente uma que eu, com meus 13 anos lá no já distante ano de 1993, concluí ao final da leitura, só que passados alguns anos e um bom bocado de acréscimo ao repertório, percebi que essa era a visão mais básica e primária para aquele final tão subjetivo e tão vasto de possibilidades.

Sendo assim: menos senhor Morrison, bem menos, por favor.

Por Orlando Simões

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