[divider]Perdidos na teia de Marc Webb.[/divider]
Após os acontecimentos do primeiro filme, que passa mais tempo tentando negar a cada cena qualquer possível similaridade com a franquia anterior (Trilogia de Sam Raimi), sacrificando com isso um desempenho melhor da película, chegamos dois anos depois neste segundo filme que promete manter os acertos do primeiro, principalmente no que diz respeito a elenco, e na construção da personalidade do Homem-Aranha em ação, e arrumar a casa de vez para continuar a construção do tão almejado “Aranha-verso” da Sony.
A trama continua a se aprofundar no mistério sobre os pais de Parker, uma trama arrastada e forçada desde o primeiro filme. Se em OEHA1 tudo esta interligado de maneira “casual”, no segundo o tal acerto é que a Oscorp é a grande responsável por tudo, mas espera um pouco, ela já não estava lá desde o primeiro filme? E pior já não havia indícios de que Norman Osborn estava por trás de alguns mistérios? Bem não vi como uma evolução apenas um simples ajuste, para tirar a responsabilidade da infame teia de coincidências que Marc Webb e seus roteiristas teceram no primeiro episódio.
O Inicio de O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro conta com uma cena de ação muito bem executada, com os melhores movimentos do Homem-Aranha já criados para o cinema até o momento, nos sentimos dentro de uma historia em quadrinhos do Cabeça de Teia literalmente, são nestas horas que esquecemos as fragilidades do roteiro, e que esta nova aventura tem no ponto de vista estético seu maior trunfo, pois o Homem-Aranha deste filme sem dúvidas foi a encarnação mais fiel aos quadrinhos, lembrando muito o esguio traço de Steve Ditiko e mais recentemente o traço de Mark Bagley na linha Ultimates. Contudo o fantasma de Raimi & Cia, ainda persistem nesta nova franquia, por que insisto nisso? O universo do Homem-Aranha, sempre teve sua maior força no elenco de apoio riquíssimo e nos inúmeras ambientes e situações corriqueiras que nosso herói tinha de lidar, com isso podia ter problemas gerados justamente de onde menos se esperava, fugindo desta maldita sensação de que tudo deve estar interligado o tempo todo.
Um exemplo da riqueza desse universo de coadjuvantes e ambientes é o universo do Clarim Diário, que não é explorado nesta nova franquia de forma satisfatória e que insiste em apostar na ausência de J.Jonah Jameson, ele sempre foi o principal elemento a divulgar as façanhas do herói aracnídeo ao tentar desacredita-lo perante a cidade de Nova York. Essas franquias de super-heróis deviam se espelhar mais em 007, a mais longeva franquia dos cinemas, onde se mudam atores e outros permanecem, onde diretores e seus estilos são trocados, mas de um jeito ou de outro existe uma continuidade do universo de Bond, cada um servindo as necessidades de sua época. Então fica a pergunta por que não chamar J.K.Simmons para reviver o papel de J.Jonah Jameson já que é tudo uma grande franquia da Sony?
Chegamos ao vilão principal do filme, Electro (Jamie Foxx), que tem seu visual e a forma como manifesta seus poderes baseado na versão Ultimate do mesmo, o personagem Maxwell Dillon é extremamente caricato, contudo este não é o problema… o mesmo carece de profundidade, jogado na trama mais pelo visual e pelo que os poderes de Electro poderiam render em ação, não conta com uma motivação plausível. Servindo como um alívio cômico até determinado momento, quando se transforma finalmente em Electro os roteiristas tentam imprimir uma aura mais séria que não convence pela falta de espaço na “teia de acontecimentos” para que possa ser desenvolvido de forma crível, afinal o mistério dos pais de Peter tem que ser desvendado…
O Harry Osborn de Dane DeHaan (Chronicle, Lincoln) mostra-se uma excelente escolha, ele prova mais uma vez ser um ótimo ator e consegue segurar o interesse em Harry mesmo que o roteiro mais uma vez sacrifique um personagem tão icônico no universo do Cabeça de Teia, não deixando claras ou melhor dizendo convincentes suas reais intensões e o seu caráter, já que o filme tem que resolver tudo apressadamente, resultando em mais um personagem mal resolvido e um Duende Verde sem carisma algum, porem sendo fundamental para a trama deste segundo filme e para os próximos.
O filme tem algumas qualidades sim, uma é a movimentação do Homem-Aranha, está perfeita e envolvente, sua veia piadista esta finalmente ajustada, isso é um grande mérito dessa nova franquia, pois isso sempre foi um fator determinante para nos identificarmos com o mesmo nas paginas dos quadrinhos. A Tia May de Sally Field continua legal, talvez com um roteiro melhor tivessem aproveitado mais a veterana atriz. Outro ponto muito bem explorado é o romance entre Peter Parker (Andrew Garfield) e Gwen Stacy (Emma Stone) que sustenta a trama do filme com os vários obstáculos e revezes que o casal tem que enfrentar para permanecer juntos. Contudo talvez o maior acerto desta nova franquia tenha sido o casal de protagonistas. Garfield consegue convencer mais que seu antecessor, porém é Stone o ponto máximo do elenco sendo a encarnação perfeita de Gwen Stacy; ela dá credibilidade a essa importante fase da carreira do nosso amado aracnídeo.
O Rino (Paul Giamatti) é trabalhado como mais um elemento descartável da trama, validando sua presença apenas no final da película, mesmo assim sem grande relevância, vale apenas por Giamatti e seu carisma mesmo em um papel menor se sai bem, talvez alguns não achem a criatura das paginas dos quadrinhos legal, contudo podiam ter encontrado um meio termo mais interessante, acredito que o que ficou pesado foi à questão do design da armadura que não convence, artifício recorrente para se adaptar personagens que os diretores acham que não vão render bem se mantiverem suas características originais, daí transformam numa armadura e está resolvido o problema. Ele serve como mais um alívio cômico e como prenuncio do supergrupo de vilões denominado de Sexteto Sinistro, que devem estar presente nas próximas películas da série, vemos menções ao Abutre e Doutor Octopus, bem como algumas outras citações a outros possíveis vilões e personagens da mitologia do herói…
A trilha sonora não envolve em momento algum, mesmo sendo de Hans Zimmer (Trilogia Batman, A Origem e O Homem de Aço) desta vez não conta a favor da trama.
Depois de cinco filmes do Cabeça de Teia, chegamos a conclusão de que esta é a franquia que mais sofreu com a pavorosa necessidade dos reboots por parte de Hollywood. A de Raimi contou com o ineditismo, contudo esta longe de ter sido perfeita, notamos que nas duas franquias os roteiros acabam fugindo de situações que fazem parte de um universo maior e consagrado e que de certa forma pode ser sim adaptado de forma a manter mais semelhanças com o universo original. Ambas optaram por não primar pelo respeito das bases que consolidaram o mesmo através de décadas juntos aos fãs, mas fazer o que? Parece que o que temos para o momento é esse espetáculo visual em alguns momentos deslumbrante em detrimento de um bom roteiro, vamos ver como a franquia de Marc Webb chega a seu terceiro episódio e principalmente como vai se sustentar com as mudanças inevitáveis que a trama sofreu neste segundo filme.
[divider]Ficha Técnica – The Amazing Spider-Man 2[/divider]
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Sobre o Autor
É Bacharel em Psicologia, porém optou por sua grande paixão trabalhando como ilustrador e quadrinhista. É sócio do Pencil Blue Studio e Ponto Zero, podendo assim viver e falar do que gosta: quadrinhos, cinema, séries de TV e literatura.