Furacão Marvel – A semana que abalou os marvetes

Esta semana foi cheia de novidades “bombásticas” na Casa das Ideias. Iniciando com o anuncio que o novo Thor é uma mulher, já que o filho de Odin deve fazer algo que o torne indigno de empunhar o martelo místico, afinal a inscrição do Mijönir diz:

“‘Quem quer que tenha este martelo, se Ele for digno, possuirá o poder de Thor.”

Imagem 001 Isto na verdade não é necessariamente uma novidade, vários personagens já empunharam o martelo e tiveram os poderes do Deus do Trovão uma destas versões mais antigas é a de 1978, numa edição da revista What If? #10…, Jane Foster aparecia transformada em ThorJason Aaron, o roteirista, enfatiza “Não é She-Thor, nem uma Lady Thor, ou Thorita, é Thor”. Tanto que a nova publicação com a nova versão do personagem se chamará Thor, God of Thunder, no masculino, deixando claro se tratar de Thor, a arte fica a cargo de Russell Dauterman. Bem, se isto trouxer boas historias e uma dinâmica renovada para Thor o Deus do Trovão, tá valendo, contudo duvido muito que seja algo definitivo…

Já a segunda “bomba” é que o novo Capitão América é Sam Wilson, esta nova fase conta com roteiro de Rick Remender e arte por Stuart Immonen. Steve Rogers se aposentou depois que o soro do Super Soldado foi retirado de seu corpo, o deixando sem poderes e envelhecido. Com isso seu sidekick, Sam Wilson O Falcão, assume o traje do “bandeiroso” e passa a empunhar o escudo do Sentinela da Liberdade. Quem sabe isto não seja um plano maior da Marvel/Disney e possa se refletir no universo cinematográfico brevemente? Imagem 002 Aqui uma coisa me chamou atenção, vi alguns meios de comunicação destacando a questão da etnia do personagem como uma revolução.

Se formos analisar a historia da Marvel, na verdade isto já aconteceu antes, o primeiro Capitão América na verdade foi um negro, isso foi introduzido à cronologia do herói na minissérie Truth: Red, White & Black (publicada nos EUA de janeiro a julho de 2003), vemos nesta uma interessante e ousada proposta de acrescentar a origem do personagem camadas bem plausíveis do que poderia ser realmente um experimento com um soro que buscava produzir um homem superior.

A história por trás da origem do Capitão América mostra os bastidores do programa do Supersoldado, os eventos que levaram a isso e os homens que participaram do experimento e tiveram suas vidas transformadas pelo mesmo, na série nos é revelado que existiu um homem que empunhou o escudo por um tempo antes de Steve Rogers, e ele era negro, com poderes equivalentes ao do herói que conhecemos.

Truth relata esta passagem, escrita por Robert Morales com arte de Kyle Baker. Axel Alonso, já editor da Marvel na época, narrou que quando o projeto foi proposto, já havia escutado antes a possibilidade de um Capitão América negro, certa vez Bill Jemas (Vice-Presidente da Marvel na época) havia sugerido isso para uma versão Ultimate do personagem. Alonso diz ter achado a ideia interessante, pois a mesma trouxe imediatamente uma questão a sua mente:

“Será que o programa conduziria seus primeiros testes em loiros de olhos azuis? Provavelmente, esse não seria o caso”.

O fato ao qual o editor se refere é que a minissérie de Morales e Baker parte de uma premissa inusitada e polêmica e que mostra toda a sordidez do que chamamos de civilização, esta premissa sériam Os Experimentos Tuskegee (nome do centro de saúde onde fora realizado), um torpe estudo clínico realizado entre 1932 e 1972 pelo Serviço de Saúde Pública dos Estados Unidos cujo projeto escrito nunca foi localizado, que envolveu 600 homens negros, sendo 399 com sífilis e 201 sem a doença, da cidade de Macon, no estado do Alabama.

O objetivo do Estudo Tuskegee, era observar a evolução da doença, livre de tratamento, para descobrir como a sífilis, uma doença sexualmente transmissível, afetava negros diferentemente dos brancos. Os participantes não eram informados que tinham sífilis e nem dos efeitos da mesma, o diagnóstico dado era de “sangue ruim”. Esta denominação era a mesma utilizada pelos Eugenistas norte-americanos, no final da década de 1920, para justificar a esterilização de pessoas portadoras de deficiências. As cobaias eram recompensadas pela participação no projeto com acompanhamento médico, uma refeição quente no dia dos exames e o pagamento das despesas com o funeral. Durante o projeto foram dados, também, alguns prêmios em dinheiro pela participação…

Imagem 003

As novidades do furacão Marvel, a semana que abalou os Marvetes, não acabam por aqui, além dos novos Capitão América e Thor, o início da próxima fase da iniciativa Marvel NOW!, é Avengers NOW!, focada nos Vingadores e seus novos integrantes… Além disso, teremos em novembro a estreia da série mensal Superior Iron Man, roteiros de Tom Taylor e arte de Yildray Cinar, onde Tony Stark passa a usar uma nova armadura e se muda para São Francisco, segundo diz Axel Alonso:

“Nesta nova fase Stark está com planos bastante ambiciosos para a cidade, onde suas atitudes acabam dividindo opiniões com uma parte da população apoiando e outra não”.

Com uma conduta mais agressiva por parte do Homem de Ferro podemos esperar problemas com outros heróis em breve… A Marvel promete mais novidades de Avengers NOW!, na próxima semana durante a San Diego Comic Con. Parece que a Marvel busca renovar seus símbolos, justamente mostrando que o que importa é o mito e não a pessoa que esta por trás do mesmo… Ei! já vimos isto em algum lugar, muitos devem ter lembrado que a Trilogia do Cavaleiro das Trevas de Nolan, aborda isso. Contudo se formos buscar mais a fundo temos um herói que se encaixa nesta premissa perfeitamente, O Fantasma de Lee Falk, onde o mito do Homem-Que-Não-Pode-Morrer ou O Espírito-que-Anda é mantido por uma dinastia de combatentes do crime que assumem o posto do guardião de Bangala, sem que ninguém saiba, mantendo assim envolta em mistério o segredo de sua imortalidade…

Dentre as novidades de uma semana tão conturbada para os fãs da Marvel, uma merece um destaque especial, é o inusitado e lamentável cancelamento de um dos melhores títulos da Casa das Ideias atualmente, sim estamos falando do fim de Hawkeye, que será descontinuada em outubro em sua edição #22. Pra quem não conhece o título estamos falando da série que sem duvidas destoa do que é publicado na indústria de quadrinhos mainstream, com uma abordagem ousada e experimental, Matt Fraction nos traz excelentes histórias. Centradas no cotidiano e nas aventuras de Clint Barton longe dos Vingadores, onde ele é auxiliado por Kate Bishop, a Gavião Arqueira dos Jovens Vingadores, as histórias do título são descontraídas e bem construídas e valem ser conferidas, inclusive para aqueles que nunca tenham lido nada do personagem.

hawkeye-2Não podemos deixar de ressaltar outro ponto alto da série e que sem duvidas contribuiu muito para seu enorme sucesso, a exuberante arte de David Aja, que nos entrega paginas sensacionais, sem exageros narrativos ou cenas exageradas, mas com um belíssimo apelo gráfico que complementa perfeitamente os roteiros minimalistas de Fraction. As historias aqui no Brasil saem na revista mensal Capitão América & Gavião Arqueiro, restando à torcida para que ao menos a Panini lance futuramente um encadernado com esta fase sensacional do personagem.

Agora resta esperar que todas estas mudanças reflitam em historias realmente boas, e não sejam só  apenas estratégias midiáticas para por os personagens em evidência em meios não habituais, e conseguir alguns picos de venda, falo isso, pois o fim de Gavião Arqueiro nos faz pensar que boas historias parecem não serem suficientes para manter um titulo, mesmo que este seja aclamado por crítica e público e ainda ser uma série indicada e premiada com o Weisner 2013 em uma das categorias que concorreu, e estar entre as indicadas em 2014 novamente…

Sobre o Autor

+ posts

É Bacharel em Psicologia, porém optou por sua grande paixão trabalhando como ilustrador e quadrinhista. É sócio do Pencil Blue Studio e Ponto Zero, podendo assim viver e falar do que gosta: quadrinhos, cinema, séries de TV e literatura.

985 views