The Strain – Terror, Ciência e Sobrenatural de mãos dadas

“Fome, certa vez um poeta disse, é a coisa mais importante que conhecemos, a primeira lição que aprendemos. Mas a fome pode ser facilmente aquietada, facilmente saciada.Há uma outra força, um tipo diferente de fome, uma sede insaciável que não pode ser extinta. É sua existência que nos define, que nos torna humanos… Essa força é o amor.”

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Há muitos anos alguém deve ter chamado Guilherme Del Toro de nerd gordo e deve ter soado como se essa pessoa estivesse ofendendo o diretor… e sim, ele é mesmo um nerd gordo, mas e daí? É de sua mente brilhante que saíram coisas como o belíssimo O Labirinto do Fauno, com suas criaturas fantásticas construídas com o que há de melhor em maquiagem e figurino, área que Del Toro usa muitíssimo bem em seus filmes, exigindo horas a fio de suas equipes no processo de maquiagem em filmes como Hellboy, por exemplo.

Del Toro também é o cara por trás de Pacific Rim e seus mechas gigantescos criados no que há de melhor em CGI atualmente. Del Toro é, sem sombra de dúvidas um dos profissionais mais influentes, importantes e criativos do atual panorama da indústria do entretenimento pop, um verdadeiro semideus para todos os nerds, gordos ou magros…

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Ok, Del Toro é foda, já sabíamos disso, então obviamente The Strain tinha de vir com o DNA foda de seu criador; e veio. A série se baseia na Trilogia da Escuridão escrita por Del Toro e pelo romancista Chuck Hogan. Na ocasião de lançamento dos livros, praticamente passei batido pelos mesmos por algum motivo oculto que não me recordo agora… mas isso em breve vai ser sanado.

O piloto da telessérie nos situa no dia 8 de fevereiro, a chamada Noite Zero, ocasião do pouso de um boing 777 vindo da cidade de Berlin e que simplesmente “apaga” na pista de pouso do aeroporto JFK, Nova York, EUA. Daí a típica paranóia americana toma conta dos procedimentos e todas as agências de controle, segurança e defesa dos americanos são acionadas para averiguar o estranho acontecimento, claro, a palavra “terrorismo” não deixa de ser a grande tônica do que está acontecendo.

No entanto é o Centro de Controle de Doenças (Center for Disease Control – CDC no original) americano que entra em cena para checar o que está havendo no voo após os estranhos acontecimentos.

Na ocasião do chamado já nos deparamos com o Dr. Ephraim “Eph” Goodweather (Corey Stoll) com problemas de ordem pessoal em mais uma de muitas sessões para salvar seu casamento da falência… sem sucesso algum pelo visto, muito provavelmente a subtrama do doutor permeia outras etapas desta primeira temporada, dando bastante espaço para a existência do drama humano em meio ao caos que em breve se anunciará.

É de Eprahaim e seu núcleo que vem toda a parte moderna da série, com os homens da tecnologia e da ciência tentando ao máximo controlar e entender o que vem adiante.

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De volta às instalações do aeroporto JFK, Goodweather e sua companheira de equipe, Dra. Nora Martinez (Mia Maestro), são os primeiros a fazer incursão ao interior da aeronave auxiliados por Jim Kent (Sean Astin).

Com a exceção de quatro sobreviventes, todo o restante da tripulação está completamente morta por causa desconhecida e toda a aeronave é posta sobre custódia do CDC e mesmo com as tentativas de não “vazar” o quão delicada é a situação, a poderosa imprensa americana já faz os primeiros estardalhaços sobre o caso, deixando já uma fagulha de preocupação contagiar o público em geral através dos noticiários. Achei um ponto bem positivo da trama geral essa abordagem da imprensa moderna que, nos tempos atuais, dificilmente passaria despercebida em algo nesse sentido caso ocorresse no mundo real.

Corta para uma tentativa de assalto à loja  do professor Abraham Setrakian (David Bradley), um velho senhor que, mais adiante, sabe-se ser um sobrevivente dos campos de concentração nazista da segunda grande guerra. Setrakian demonstra ser profundo conhecedor do que assola o voo vindo de Berlin, o que vem até Nova York e o velho comprador de prata já cruzaram caminhos antes e vão cruzar novamente agora… É de Setrakian que vem a parte da série que aborda um tema mais sobrenatural e com atmosfera mais sombria ligada a forças ocultas, muito mais antigas do que julga os seres humanos.

O velho vendedor de antiguidades tem muitos mistérios a nos revelar e tem potencial de sobra a ser explorada em suas muitas facetas desde seu passado nos campos de concentração nazistas. Esse é minha aposta para o cargo de “ladrão de cena”.

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Corta para o edifício do grupo Stoneheart, Manhattan, onde o misterioso Thomas Eichorst (Richard Sammel) manipula acontecimentos das sombras para que a misteriosa carga vinda de Berlin possa chegar ao centro da cidade em segurança.  Eldritch Palmer (Jonathan Hyde), um dos homens mais ricos do mundo compactua com o estranho alemão cujas aparências e idade escondem algo além da compressão, ao que tudo indica, Palmer pretende ser tão especial quanto Eichorst é… mesmo que o preço a se pagar seja sua própria alma.

Eichorst já cruzou caminho com o velho Setrakian em seus anos durante a segunda guerra e provavelmente vão medir forças novamente em território americano. É interessante notar como sempre é possível cruzar eventos fictícios com os atos do nazismo alemão e suas atrocidades e TS usa muito bem este link em sua trama principal e Sammel tem toda aquela pinta de alto comando nazista com todo aquele ar de superioridade atribuído aos oficiais do Führer… vai ser outro que vai roubar cena com facilidade.

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Corta para o aeroporto JFK na ocasião que um tipo de enorme caixão é encontrado. Sua origem e procedência são um completo mistério, pois nenhum tipo de registro de embarca foi encontrado, nem o local de origem do macabro objeto, cujos entelhes revelam o apuro dos trabalhos da equipe de Del Toro em retratar as coisas da melhor forma física possível. Na ocasião o velho Setrakian tenta avisar Jim e os demais membros do CDC sobre o misterioso visitante que veio abordo do boing 777…

Bom, daí pra frente é se deliciar com uma trama que esconde nuances e manipulações para desencadear algo extremamente sombrio e poderoso sobre o mundo. The Strain conta com um excelente trabalho de produção, tendo seu piloto todo situado numa grande noite cujas aparências são uma armadilha para os persoangens, cujas facetas básicas foram apresentadas neste episódio piloto de forma bem sutil em uma narrativa rápida e coesa, não dando muito tempo ao espectador de soltar o fôlego por longos intervalos.

Misto de ficção, terror e sobrenatural, The Strain é um trabalho que vem engrossar as fileiras dos que querem trazer as criaturas da noite e das trevas ao seu devido lugar. Passado o furor das besteiras de “vampiros que brilham ao sol”, a série de Del Toro faz, a meu ver, par com a espetacular Penny Dreadful (veja mais AQUI), cuja temática também é centrada nas criaturas ocultas e sobrenaturais.

A diferença básica entre TS e PD é que a primeira é uma obra centrada nos tempos atuais e que dialoga com a ciência e seus desdobramentos como a presença de vírus e afins, enquanto a segunda tem uma abordagem mais similar a suas inspirações literárias numa Londres vitoriana.

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Pelo que se tem de material de divulgação até o momento e pelos vislumbres do episódio piloto de TS, é possível notar que a equipe de Del Toro vai arregaçar as mangas na produção visual mais uma vez e isso fica claro no ocasião em que vislumbramos o caixão e a criatura que vem em seu interior a primeira vez.

As duas situações são bem perturbadores e a atmosfera sombria e úmida que dá o clima do piloto só reforçam a tensão crescente. Também colaboram para o clima geral a sensação de conspiração envolvendo os personagens para que a criatura deixe a área do aeroporto, mostrando ao telespectador que o plano em curso é muito maior do que aparenta ser.

O episódio piloto de TS tem todos os pontos positivos para uma série de ponta, deixando antever o básico de seus personagens, a ponta do iceberg de sua trama e como ela vai se enredar em torno dos que estavam envolvidos no contato da noite zero, bem como dos que logo mais aparecerão para engrandecer a narrativa. Até o momento foi o velho Bradley que roubou a cena… narrador da intro e do encerramento do piloto, o ator veterano dá imponência ao seu personagem tanto na aparência quanto na entonação da voz, não há como não prestar atenção nas expressões e no olhar do veterano. Claro, não desmereço o restante do elenco visto até o momento, mas sabe como é, o velho é bom mesmo diante das câmeras e ouso dizer que é dele a alma da série, vai ser difícil não o ver roubando a cena.

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Ainda não deu as caras, mas diz aí, é ou não é macabro?

The Strain foi ao ar no dia 13 de julho pelo canal FX, Del Toro está assinando o roteiro conjuntamente com Hogan, a direção fica por conta do nerd gordo mesmo. A expectativa é de que a série tenha 13 episódios nessa primeira temporada. Na torcida e já acompanhando… E vale lembrar que Del Toro é um dos caras que tem tudo para realizar a adaptação do aclamado Nas montanhas da loucura do escritor H.P. Love Craft, então fica aí já no piloto de The Strain o que aguarda os fãs para um futuro no caso da adaptação sair do papel mesmo, quem sabe…

Trailer

Dados no IMDB

[imdb id=tt2654620]

 

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Designer de produtos e gráfico, mestre em comunicação, professor.

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