Acabei de ver o episódio piloto de uma das mais aguardadas séries de TV deste ano. Afinal, estamos falando de Gotham que promete mais um vislumbre do intrincado e fascinante universo de um dos personagens mais icônicos dos quadrinhos. Quem é fã do Cavaleiro das Trevas e disser que não ficou no mínimo curioso com esta estreia, deve estar mentindo. Para os fãs de carteirinha, conferir este piloto é obrigatório, e não consegui me esquivar desta até então convidativa proposta, afinal já estamos há quase dois anos sem uma aparição live-action deste universo. Porem, é bom deixar claro que a série não pretende mostrar o Batman e sim o universo que precede o lendário combatente do crime…
Vamos a uma breve contextualização, a série se passa alguns anos antes do surgimento do Homem-Morcego, e tem na figura do novato James Gordon (Ben McKenzie) o fio condutor da mesma, ao menos é o que tudo indica. Somos apresentados a uma cidade onde a corrupção impera e onde Gordon terá que aprender as regras do jogo com o seu parceiro, Harvey Bullock (Donal Logue) que se mostra bem à vontade com as vicissitudes de Gotham…
O evento principal deste primeiro episódio é a fatídica cena do assassinato do casal Wayne, que a meu ver já conta negativamente para a série, uma passagem que poderia ter ficado sugerida, ou sei lá, aparecesse em um ponto mais adiante do seriado, afinal Batman Begins não esta tão distante e apresentou aos fãs e aos não-iniciados no universo do Cruzado de Capas uma versão deste evento deveras convincente.
Aqui vou deixar registrado um vislumbre do futuro:
2016, Superman vs Batman Dawn of Justice: você esta sentado em sua poltrona, em uma sala de cinema qualquer e em algum momento do tão aguardado filme as cores da tela somem e vemos uma cena de um familiar flashback, a morte do casal Wayne, tudo em slow motion, cartuchos de bala voando e pérolas quicando e indo em direção ao espectador, afinal é pra isso que serve o 3D…
Ou alguém acha que Zack Snyder vai perder a oportunidade de filmar a versão dele desta emblemática e decisiva passagem na origem do Cavaleiro das Trevas?
Voltando para 2014, já que a proposta de Gotham é ser uma série que tem uma abordagem mais policial, por que não partir de uma investigação de um caso não solucionado, como um “arquivo morto”? Sem contar que a cena do assassinato do casal Wayne foi resolvida de uma forma um tanto desleixada, e com direito a versão mirim da Mulher-Gato como testemunha ocular dos fatos. Uma coisa que parece que esta se tornando rotineira nos roteiros que envolvem os eventos de origem do Universo DC na telinha é esta famigerada rede de casualidades, vide Smalville e a fatídica chuva de meteóros e no vindouro Flash, quem ainda não assistiu o piloto vazado, vai encontrar algo muito semelhante, mote que acaba originando e interligando a origem de vários personagens dos referidos universos. Sem contar com a atuação canastrona do ator que vive Thomas Wayne, e o desfecho “vergonha alheia” da mesma com direito a câmera se elevando e com gritinho de desespero do jovem Wayne, mais clichê impossível…
Já que a série não contará com o Batman, parece que a solução encontrada pelos roteiristas para compensar e manter as expectativas dos fãs é logo de cara apresentar cinco vilões da mitologia do Cruzado de Capas, alguns em suas versões anteriores as caracterizações as quais conhecemos e estamos acostumados, sendo assim temos contato com a Mulher-Gato (Camren Bicondova), Pinguim (Robin Lord Taylor), Charada (Cory Michael Smith), Hera Venenosa (Claire Foley) e Carmine Falcone (John Doman).
Chegamos a mais um ponto deste piloto que incomoda bastante, os vilões são inseridos de forma que sejam facilmente identificáveis não só pela verbalização de seus nomes, mas também por comportamentos peculiares que poderiam ser abordados com sutileza, contudo nos são apresentados com a mesma leveza de um “elefante em uma loja de cristais”. Uma Mulher-Gato que bota leite para um gatinho, uma Hera Venenosa cuidando de plantas a cada cena em que aparece e um Charada com enigmas a cada fala. Ao que tudo indica ou alguém quis ter certeza absoluta de deixar muito claro quem eram os personagens em questão ou simplesmente não confiaram no poder de dedução dos fãs do maior detetive dos quadrinhos…
Pra dizer que não existe nada agradável em Gotham, temos um ponto que merece uma ressalva, a ambientação acaba sendo satisfatória, tentando passar uma atmosfera noir de uma cidade que esta sucumbindo perante a corrupção que brota de seus esgotos. Poderia ter sido bem mais envolvente se tivesse contado com um roteiro mais interessante…
Fish Mooney (Jada Pinkett Smith) talvez por ser um personagem criado para a série acaba passando incólume, já que não tem como ser comparada a outras encarnações, mas pára por ai, pois não se pode dizer o mesmo de um personagem que poderia ter um bom destaque e sempre rende muito bem em quase todas suas aparições, Alfred Pennyworth (Sean Pertwee) figura austera como um cão de guarda protegendo e guiando o jovem Bruce Wayne (David Mazouz) passa quase despercebido, com gags tão sem graça quanto sua presença em cena.
Gotham acaba ficando tão indefinida como antes de sua estreia, não da para saber qual a linha que o seriado irá assumir, e aqui cabe uma reflexão:
Será que esta sensação de que a série tem potencial para crescer não esta sendo confundida com o fato de esta ser originada em um universo tão rico e que amamos tanto e que acabamos torcendo para que de certo a qualquer custo e, com isso acabamos sendo benevolentes demais?
O que ficou foi a sensação de um piloto perdido o qual se vale de um grande referencial. Sem as peculiaridades do universo do Homem-Morcego dificilmente daria a chance de ver mais alguns episódios deste programa, estou bem relutante em continuar esta jornada. Se não fosse por sua fonte de inspiração, seria mais um genérico policial bem descartável!
Gotham estreou na Warner nesta segunda, 29 de setembro às 22h30, e dia 22 nos EUA.
Sobre o Autor
É Bacharel em Psicologia, porém optou por sua grande paixão trabalhando como ilustrador e quadrinhista. É sócio do Pencil Blue Studio e Ponto Zero, podendo assim viver e falar do que gosta: quadrinhos, cinema, séries de TV e literatura.