Bem Bat-fãs, estamos nós aqui nesta complicada missão de ver o que acontece neste segundo episódio de Gotham, e para aqueles que acharam que este colunista desistiria após as torturas do primeiro episódio, acabei por aceitar o desafio de continuar a adentar neste universo que nos esta sendo ofertado.
Selina Kyle é o pretenso foco do episódio, onde o caso da semana é o desaparecimento de jovens moradores de rua, onde Selina “Cat” Kyle se encaixa perfeitamente, estes são capturados por uma dupla no mínimo insólita Patti (Lili Taylor) e Doug (Frank Whaley), ai vem um agrado para os fãs, afinal eles trabalham para o Dollmaker, que não dá as caras logicamente. Em os Novos 52, o Dollmaker remove cirurgicamente o rosto do Coringa no arco denominado Faces da Morte.
No episódio que foi ao ar ontem aqui no Brasil, os vilões e seus capangas parecem saídos diretamente do famoso seriado dos anos 60, a sensação é que a qualquer momento veria Adam West e Burt Ward aparecendo do nada e começariam a socar estes facínoras, onomatopeias jogadas na nossa cara, plano holandês para aumentar a tensão da cena e o velho golpe onde Robin com uma ajudinha de Batman sai girando e derrubando todo mundo, seria o paraíso, contudo estamos em Gotham, a série com uma pegada mais “realista” e policial…
Chegamos a Bárbara Gordon (Erin Richards), esta sinceramente é tão desnecessária nesta série que só serviu neste episódio para fazer uma denuncia anônima ao Gotham Gazette sobre o desaparecimento de crianças, mesmo que Gordon (Ben McKenzie) tenha pedido sigilo à mesma, esta contra-argumenta que era o certo a ser feito, Erin Richards consegue a façanha de manter sua atuação pífia do piloto…
No outro dia, pressionados pela capitã de polícia, Sarah Essen (Zabryna Guevara), Bullock (Donal Logue) e Gordon negam ter vazado tal informação. Contudo como parece que ninguém guarda segredos nesta série, na sequência o nosso intrépido e incorruptível Jim Gordon abre o bocão e conta para Bullock, um sujeito inescrupuloso e ao que tudo indica corrupto, que quem fez a denuncia foi Bárbara, sua namorada.
Bem, afinal estamos em Gotham, uma série com uma pegada policial mais séria e onde se deve desconfiar de tudo e de todos, mas pode-se abrir uma exceção para o cara que te obrigou a matar uma pessoa…
O legista Edward Nygma (Cory Michael Smith) entra em cena, com seus enigmas é lógico, e traz um elemento elucidativo para o caso da semana: o componente químico usado nos crimes relacionado ao desaparecimento de crianças é o mesmo usado no, pausa dramática, Asilo Arkham! Sim temos o famoso local para criminosos insanos introduzido em Gotham, mais uma migalha para agradar aos fãs, contudo ele esta desativado há 15 anos, mas do jeito que a série esta indo, logo será reativado e não faltarão candidatos para o mesmo, inclusive os roteiristas da série.
Vamos ao Pinguim no episódio, este esta na estrada pedindo carona quando dois jovens “inocentes” e “desavisados” param para um cara todo esfarrapado, com um olhar no mínimo estranho e uma risadinha esquizofrênica e, não bastando ainda, tiram uma com a cara do sujeito antes de o deixarem subir no veículo, e pra completar chamam o cara de pinguim, resultado? Um acaba morto e o outro vira refém, fornecendo dinheiro e um veículo para nosso querido Cobblepot, afinal temos que ter violência no episódio, pois Gotham é uma série policial com uma pegada mais “séria”…
Oswald Cobblepot, parece ser uma das poucas coisas que vale neste seriado, inicialmente não gostei muito do mesmo, mas o ator Robin Lord Taylor esta conseguindo encontrar um tom interessante para o personagem, a grande questão é se a série vai conseguir se sustentar com um roteiro tão falho e dar tempo dos personagens evoluírem para algo que faça sentido.
Bruce Wayne (David Mazouz), o garoto esta sofrendo com a perda dos pais, e o sisudo Alfred vai pedir ajuda para Gordon para lidar com o menino que agora anda com comportamentos de autoflagelação, afinal por uma “sutileza” do roteiro, psiquiatras são proibidos para o garoto Wayne, se o mesmo se tratar não ficará louco e se vestirá de morcego quando crescer, santa sacada, Batman!
Mas esperem um instante, foi a este cara que não sabe lidar com um garoto que os Wayne confiaram a guarda do seu único e bilionário filho? Foi a isto que reduziram o Alfred, para com isso poder forçar ainda mais a aproximação do menino com Gordon? Sem mais comentários, assista ao episódio e veja você mesmo o mais insuportável e bunda-mole Alfred de todos os tempos, sem contar com a interpretação canastrona de Sean Pertwee…
Ei e a Selina “Cat” Kyle do título do episódio?
Bem a “Cat” deveria ter ficado calada, a atriz que até se saiu bem se esgueirando e muda no primeiro episódio, abriu a boca e perdeu o encanto que tinha por conta de sua semelhança com a bela Michelle Pfeiffer. A atriz parece insegura e desconfortável com suas falas, bem, quem não ficaria com este texto pobre e confuso? Sem contar que ela foi a protagonista da cena mais controversa deste episódio, afinal Gotham pretendia manter uma pegada mais realista e policial, sem superpodres, e simplesmente em um momento decisivo da trama quando nossa bela “Cat” esta encurralada em um ônibus, a menina fica “invisível” e consegue fugir de seus algozes. Assista ao episódio e confira o “novo poder de invisibilidade” da Selina “Cat” Kyle…
Além de Oswald Cobblepot, Fish Mooney (Jada Pinkett Smith), é a única que se salva neste complexo jogo de “como sabotar uma série que tinha tudo para ser excelente”, com méritos para Sra. Smith que de longe entrega a melhor atuação deste circo de horrores…
A sensação que fica é de um episódio sem rumo, diálogos mal resolvidos, uma trama cheia de furos, e principalmente forçada demais, e ai chegamos ao cerne dos problemas do seriado, a não definição de qual estilo o mesmo vai seguir, parece que fizeram uma colagem bizarra do seriado dos anos 60 com o filme de Tim Burton de 89, olhem a mãe de Cobblepot, não parece uma personagem criada por Burton? E para acabar a mistura acrescentaram um pouco do Nolanverso para dar um toque de realismo.
O desperdício que foi ver a excelente Lili Taylor em um personagem tosco e sem a menor relevância, mostra que a série conta e pode contar com excelentes recursos e atores, mas parece que não sabe o que fazer ou para onde ir com estes elementos, o mais irônico é que a DC Comics consegue se sair muito melhor em suas animações…
E não me venham com o lance da classificação etária ou que isto é apenas entretenimento e não realidade, isso não é desculpa afinal Frank Miller escreveu uma historia muito mais densa e coerente e que principalmente respeitava o leitor lá nos idos dos anos 80, e nem estou falando de Cavaleiro das Trevas e sim de Ano Um, e se não estiver enganado parece que deveria ser uma das inspirações desta bizarra Gotham que está indo ao ar!
Em Gotham, tudo transcorre de forma artificial demais, e insistir em fazer vista grossa para o roteiro inconsistente como forma de minimizar os problemas da série somente porque ela se inspira no universo do Homem-Morcego é simplesmente entrar num beco sem saída. A não ser que o objetivo de quem esteja assistindo, seja apenas acompanhar uma historia confusa e visualmente agradável, que se vale de um universo fantástico, e no final desta experiência se contentar com uma saraivada de referências aos quadrinhos a cada episódio.
Talvez isto fosse o suficiente lá no inicio dos anos 2000 quando estreava na TV Smallville, contudo quase duas décadas depois, acredito que se poderia ter um produto mais coerente e bem escrito, afinal super-heróis não estão restritos a nichos tem algum tempo, o grande público já tem uma ideia do que são estes universos de forma bem mais palpável…
Aos que leram tudo, é isso, de boas premissas o inferno esta cheio, bem sabe nosso amigo John Constantine.
Sobre o Autor
É Bacharel em Psicologia, porém optou por sua grande paixão trabalhando como ilustrador e quadrinhista. É sócio do Pencil Blue Studio e Ponto Zero, podendo assim viver e falar do que gosta: quadrinhos, cinema, séries de TV e literatura.