“Há muito tempo, eu era um ser humano vivo, que respirava. Fiquei louco. Servi a meus inimigos. Eles se tornaram meus únicos amigos. ”
(Chakas)
Atenção, o texto a seguir faz referência aos acontecimentos de Halo: Cryptum, o primeiro livro da Trilogia dos Forerunners.
Bornstellar, ao lado dos humanos Chakas e Elevação, libertou o poderoso e influente Didata, um lendário comandante das esquadras forerunners da classe dos guerreiros-servidores.
Sua Cryptum estava escondida na em Erde-Tyerene, futuramente Terra, um segredo que nem mesmo o conselho dos forerunners conhecia, um segredo criado pela Biblotecária, a esposa do Didata e uma das mais influentes personalidades dentro do conselho.
Tudo isso se entrelaça com o retorno do Flood, uma infestação que ameaça toda a vida na galáxia e se cruza com os poderosos Halos, armas de destruição em massa de um lado e campo de preservação de outro… (Veja mais sobre Halo: Cryptum AQUI)
Após serem capturados pelo poderoso Mestre Construtor em Cryptum, o quarteto de personagens do primeiro livro é separado e seus destinos se tornam incertos. Bornstellar retorna para sua família depois de receber as marcas evolutivas do Didata, o que o afasta de sua casta de origem dos Manipular, para desagrado de seu pai. Os humanos Chakas e Elevação estão desaparecidos e o destino do poderoso Didata é incerto, mas provavelmente está morto…
Na capital do império Forerunner, Bornostellar é convidado para integrar um novo conselho e participar do julgamento do Mestre Construtor, cujas ações e manipulações políticas tinham por objetivo distorcer a utilização dos Halos, no entanto uma Ancila nível Metarch (inteligência artificial designada para controlar o máximo possível de tecnologias forerunners, os Halos ou qualquer outra forma de tecnologia dispoível ao alcance) assume o comando da capital, das armaduras e dos Halos, colocando tudo em risco no mais poderoso império da galáxia desde a extinção dos Primordiais séculos atrás.
Em combate ditreto com as instalações dos Halos, as frotas forerunners se lançam umas contra as outras: de um lado as forças do Mestre Construtor manipuladas pela Ancila Metarch, do outro lado as naves de guerra de defesa da capital e outras vindas dos confins da galáxia por diversos portais de subespaço.
Nesse contexto Bornstellar e membros do conselho também desaparecem junto com um Halo após atravessarem um portal de origem desconhecida e destino idem.
Isso é que temos quando nos reencontramos novamente com o humano Chakas, perdido num dos Halos no confronto com a capital. A armadura dada a Chakas pelo Didata estava inoperante, como quase toda tecnologia forerunner dentro da instalação do Halo.
Cadáveres de guerreiros, destroços de naves… morte e destruição por todos os lados quando o jovem humano é resgatado pela também jovem e também humana Vinnevra, neta de um estranho ancião que atende pelo nome de Gamelpar, um ancião que é testemunha dos mistérios dentro do gigantesco anel e dos humanos ali prisioneiros.
Na companhia desses dois humanos segregados de sua própria aldeia dentro do imenso Halo, Chakas procura por respostas para suas indagações e acima de tudo, busca desesperadamente encontrar seu pequeno amigo Elevação, de quem se separou na ocasião do ataque do Mestre Construtor ao planeta dos San ‘Shyuum, ocasião em que o grupo de Bornstellar foi desmantelado e o Didata dado como morto após sua prisão.
Diferente de Halo Cryptum, Halo Primordium é um livro mais contido, detalhado e reflexivo. A ação do estilo combate, tão característica da série de games Halo, dá uma longa pausa nessa obra e Bear realiza um verdadeiro trabalho de construção de uma Sci-fi Hard em todos os sentidos.
O leitor fã dessa vertente, que já deve ter lido coisas como Solaris (Stanislaw Lem), 2001: Um Odsséia no Espaço (Arthur C. Clarke), A mão Esquerda da Escuridão (Ursula K. Le Guin) e tantos outros. Mas de todas as influências presentes nessa obra, é impossível não nos recordarmos do soberbo Encontro com Rama, também de Arthur C. Clarke.
Em Rama nos deparamos com a aproximação de uma gigantesca estrutura cilíndrica vindo em direção ao nosso sistema solar. De origem desconhecida, o assustador objeto de proporções igualmente assustadoras é interceptado por uma missão humana cujo objetivo é descobrir o máximo possível sobre algo tão gigantesco, avançado e estéril em vida e linguagem, ao menos uma linguagem minimamente capaz de ser entendida por humanos…
Caso não seja possível compreender Rama, então a missão é impedir o objeto de se aproximar ainda mais do planeta Terra.
Essa sensação de grandeza, imponência, poder desmedido, mistério, medo e fascinação impressos em Rama estão também impressos em Halo Primordium.
O Halo em que Chakas, Vinnevra e Gamelpar buscam por respostas (ou fuga), é praticamente idêntico a espaçonave Rama em termos de contexto e dúvida. O pouco que está sendo revelado ao leitor é feito pela estreita perspectiva que os três humanos tem de uma construção forerunner, cuja diâmetro supera o de um planeta médio com extrema facilidade…
Justamente por ter uma percepção finita, mínima e cercada por superstições típicas de um ser menos instruído é que Halo Primordium se constrói. Ao percebermos os desígnios de raças tão antigas e poderosas pelos olhos de Chakas é que somos remetidos para nosso papel dentro de um cosmo antigo e cheio de perguntas sem respostas.
Apesar de todas as limitações involutivas impostas aos humanos pelos forerunners, Chakas se esfoça para compreender qual o papel de nossa raça no grande jogo de tabuleiro que envolve o império forerunner e seu intrincado jogo de poder e dominação… e como se só as maquinações e manipulações envolvendo os poderosos Halos não fosse suficiente, a criatura conhecida como Cativo ou Primordial vaga pela mesma instalação, levando consigo dezenas de humanos enquanto o Halo se autorrepara em um trajetória de destino incerto.
Dotados das geas (memórias, pedaços de consciência e inteligência de antigos guerreiros humanos), dadas pela Bibliotecária, os humanos do Halo perdido rumam no sentido oposto ao qual aparentemente se dirigia o Primordial.
Impelidos pela sugestão das geas de Vinnevra a avançar em destino incerto, a busca do trio esbarra com as necessidades básicas de qualquer humano: sono, alimento, água potável, conforto… e no caminho só os cadáveres de forerunners, hologramas que acreditam ainda estar vivos e o pior de tudo, o Flood consumindo o que lhe é de direito.
Ao cruzarem caminho novamente, Chakas e Elevação precisam liberar os antigos espíritos que habitam suas geas para que alguma coisa em sua jornada possa ter alguma mínima resposta, algum desfecho além da insignificância a qual a raça humana havia sido destinada pelos forerunners.
A dupla de amigos rememora pelas palavras de seus “espíritos transportados” as antigas glórias das esquadras humanas e de como é possível retomarmos nosso lugar de direito no cosmos novamente agora que o Flood ameaça o poderoso império dos Forerunners uma vez mais, enquanto os humanos em sua maioria são imunes aos efeitos da infecção.
Diante do mistério que por si só são os Halos, os personagens de Halo Primordium não lutam, não empunham armas, não disparam tiros, não, a aqui a luta é psicológica, filosófica e autorreflexiva.
Constantemente Chakas e Elevação se perguntam qual papel é destinado a cada um deles e qual é destinado aos espíritos em suas geas, bem como qual é destinado aos que os cercam: os desaparecido Bornstellar e Didata, Gamelpar, Vinnevra, Mestre Construtor, a Bibliotecária e por fim qual o papel do antigo e poderoso Primordial nos acontecimentos desde que Bornstellar abriu a Cryptum do Didata em Erde-Tyrene.
Dotado de um senso narrativo intenso, detalhadíssimo e cheio de conceitos instigantes e criativos, Bear inverte sua ordem narrativa e dá aos menores de seus personagens papel fundamental no desenrolar de sua Saga dos Forerunners.
Sem ação física, talvez Halo Primordium desagrade ao leitor mais moderno, sobretudo se for um leitor inteiramente oriundo dos games e toda sua agitação com saltos, tiros e guerras frenéticas sem interrupção…
Mas com absoluta certeza, Halo Primordium carrega a marca do que há de melhor na Sci-fi Hard clássica, a ponto de me fazer crer que talvez Bear tenha uma geas contendo um dos grandes mestres das antigas…
De qualquer modo o desfile constante de boas ideias próprias aliadas aos conceitos do Haloverso dos games enriquece sobremaneira a experiência de viajar pela perspectiva que permitiram a Bear desenvolver, já que o universo expandido de Halo está aí há uns bons anos e conseguir sintonizar obras de outras pessoas com ideias originais de fatos nunca antes revelados se mostrou um trabalho de fôlego potente e sem sombra de dúvidas desafiador.
Claro, tudo embalado por um belo processo narrativo que carrega com grande facilidade a capacidade de nos por ali, no meio de todo aquele caos e desesperança que cercam Chakas e seus amigos perdidos em um anel gigante vagando pelo espaço indo e direção a “uma bola com cara de lobo”.
Para os fãs da franquia as chances de se maravilhar com a obra são de um potencial fantástico, já que são muitas as vezes que referências aos games e seus acontecimentos são feitas de forma bem clara e direta, ao mesmo tempo que outras são mais sutis e veladas. Para os não iniciados no Haloverso continuo achando que vale a experiência pela ótima e criativa abordagem que Bear empresta a um universo que não foi obra de sua inteira criação, mas que ainda assim abraço com amor e um carinho de quem revê um velho amigo há muito distante.
A única resslava aqui é para o fato de que Primordium é extremamente atrelado a Cryptum, sendo assim, a Saga dos Forerunners faz, e com facilidade, jas ao título de trilogia, então se for comprar um, compre logo os três, o pacote vale a pena.
Halo Primordium | Fiha técnica
Na companhia de uma jovem e de um velho, Chakas inicia uma jornada épica, através de um Halo danificado e perdido no espaço, em busca do caminho de volta ao lar, de uma explicação para a existência de um espírito guerreiro que emerge dentro de si e de um jeito de mudar o destino da humanidade conduzido pela Bibliotecária.
Essa viagem vai levá-los para os domínios de uma inteligência poderosa, que afirma ser o último dos Precursores, e que agora tem o controle tanto desse Halo quanto dos destinos dos Forerunners e dos seres humanos.
Chamada de Cativo pelos Forerunners, e de Primordial pelos antigos guerreiros humanos, essa inteligência pode controlar o destino não apenas de Chakas, de Elevação e do restante da humanidade, mas também de toda a vida consciente do Universo.
- Edição: 1
- Editora: Planeta do Brasil
- ISBN: 9788542200706
- Ano: 2013
- Páginas: 376
- Tradutor: Julio de Andrade Filho, Cecília Dourado, S. Carvalho
- Volume 2 da coleção “A Saga dos Forerunners”
Aproveite a oportunidade e leia AQUI nosso especial dos 10 anos da franquia Halo.
Sobre o Autor
Designer de produtos e gráfico, mestre em comunicação, professor.