Quando Penny Dreadful estreou por aqui, a redação do PZ adorou o material e jogou as expectativas a respeito da série nas alturas (AQUI). Etapa concluída, a série mostrou a que veio e cumpriu a contento tudo que havia deixado em vislumbres logo no excelentíssimo primeiro episódio.
Sir Malcolm, Ms. Vanessa Ives e Cia LTDA em breve retornam para fechar as pontas que o finale season deixou de brinde para o espectador. O texto abaixo está lotado de spoilers
A busca por Mina Harker, filha de Sir Malcolm Murray (Timothy Dalton) tinha todos os indícios de uma conclusão nada satisfatória para o estranho grupo montado pelo explorador inglês. Desde o encontro de Vanessa Ives (Eva Green) com Ethan Chandler (Josh Hartnett) no primeiro episódio, já podíamos antever que o pistoleiro americano tinha seus próprios problemas e segredos obscuros para guardar.
Também não tardou para que o jovem Victor Frankenstein (Harry Treadaway) fosse atormentado por sua Criatura (Rory Kinnear), que retorna para cobrar de seu criador os erros do passado (sim, é o personagem de Mary Shelley em uma nova e interessantíssima abordagem).
Paralelamente a chegada do misterioso Dorian Gray (Reeve Carney) trás mais sombras e elementos literários ao roteiro do seriado… Drácula, o monstro de Frankeinstein, Dorian Gray… o universo de PD flerta abertamente com a Literatura assombrada, mas toma seus próprios rumos no curso de sua narrativa e claro, não tem como não associar a série e seu elenco de personagens emprestados com uma das maiores obras do escritor inglês Alan Moore: A Liga Extraordinária.
Com um ritmo que alterna entre mostrar a origem e o passado de seus protagonistas em alguns episódios e o curso da ação do grupo de Malcom em outros, PD se desenvolve muitíssimo bem tanto nas cenas de ação quanto nos diálogos inspirados e conduzidos por uma direção de elenco mais que competente, resultado este obviamente fruto do talento que cada ator/atriz do elenco traz para a tela.
Fica difícil escolher um momento ou um personagem para dar destaque, são tantas situações, falas e cenas memoráveis por capítulo que é injusto apontar tal ou qual é o ponto alto dessa primeira temporada.
Mesmo assim arrisco apontar que as cenas finais entre Victor e a Criatura são extremamente sensíveis. Tanto Kinnear quanto Treadaway impõe um ar de cumplicidade, amor e ódio ao conjunto da cena, deixando seus diálogos com uma carga emocional perfeita e de um tom quase teatral de interpretação e ritmo.
Também ganha destaque completo o episódio que narra a origem da relação de Vanessa com Malcom e sua filha raptada, Mina… e claro, é tocante a degradação de Vanessa na ocasião de mais uma possessão, deixando a cargo da equipe de maquiagem e figurino da série o difícil trabalho de transformar a lindíssima Eva Green num verdadeiro bagulho demoníaco.
A tônica da primeira temporada de PD é deixar em foco as questões das singularidades de cada um de seus personagens. Todos com seus segredos e terrores ocultos acabam encontrando em seus companheiros de caçada algum tipo de apoio, por mais diametral que seus quase-pares possam ser. Malcom alimenta o sentido de paternidade para com Victor numa tentativa de remediar a perda do filho durante suas incursões ao continente africano…
Victor por sua vez alimenta indícios de construir uma pequena amizade com Ethan; o homem experiente, bruto, forte e selvagem que vem do Novo Mundo e é o extremo oposto do jovem cientista e todas as suas limitações físicas. Ethan, extremamente culpabilizado por seu passado obscuro parece não buscar redenção e sim algum tipo de autodestruição ao se jogar em um relacionamento amoroso com Brona Croft, prostituta e tuberculosa.
Já Vanessa se afunda também em relações profanas consigo mesmo ao desfrutar a cama e o corpo de Dorian Gray, cuja escuridão interior ativa a possessão psicossexual de Vanessa, disparando o surto de possessão que quase a faz sucumbir ao mal ancestral que a persegue oculto de tudo, menos da própria Vanessa.
É interessante notar como o envolvimento do grupo formado por Malcom gira em torno da necessidade de um pelo outro e de como isso irá gerar mais dinâmicas na futura segunda temporada da série. Com a morte de Brona pelas mãos de Victor, fica evidente que este rumo é o caminho certo do embate contra Ethan, entretanto não diretamente contra o médico franzino, mas talvez contra sua Criatura revivida, já que o cowboy galanteador é o monstro que anda aterrorizando as noites de Londres na forma do mítico Lobisomem… as coisas devem atingir altos níveis de tons de vermelho daqui para frente.
Com a busca por Mina encerrada, os laços tênues entre essas pessoas marcadas pelas escuridão deve se tornar não só mais fraco, mas sobretudo mais perigoso com toda certeza.
Para a vindoura temporada a dinâmica de grupo em busca de algo específico provavelmente ganhará outra premissa, já que Mina não está mais em cena e uma parte dos personagens já teve seu passado posta as claras para o espectador. No entanto ainda temos o imortal Dorian Gray cujos mistérios e função no panorama sombrio geral da série ainda não foi devidamente explorado, mantendo assim em aberto os motivos de sua interferência na sensibilidade de Vanessa.
Já Ethan, cujo passado permanece ainda nublado, precisará lidar com a morte de Brona como já citado mais acima e a crescente tensão entre ele e Vanessa, bem como com a busca empreendida para leva-lo de volta aos EUA por ordem de seu pai. O pistoleiro americano vai ter muito o que resolver na próxima temporada e bem provavelmente seu passado virá a tona, revelando a origem de sua maldição e a trajetória de sua saída do território americano.
Acredito que o papel de Sir Malcom na trama vai sair de pai em busca da filha raptada para o de pai em busca de vingança, o que pode colocar o velho explorador em rota de colisão com o poderoso Drácula, cuja presença ainda é uma ameaça palpável, o que parece ser algo bem óbvio, já que Mina Harker é a personagem do livro de Bram Stoker… outro aditivo que seria bem-vindo seria o próprio Jonathan Harker, esposo de Mina, também personagem de Stoker.
Penny Dreadful | Segunda Temporada
Segundo o criador do seriado, John Logan, os personagens nessa nova aventura deixarão de ser caçadores para serem as presas. Para a nova temporada o mal tem um nome e um rosto: Madame Kali (Helen McCrory). A misteriosa sensitiva vista rapidamente em alguns episódios da primeira temporada se revelará um poderosa inimigo no comando de um culto obscuro de adoradores de Lúcifer, cujo objetivo é entregar Vanessa Ives ao senhor das trevas como sua noiva.
A estreia desta nova temporada, com 10 episódios, está prevista para o dia o domingo, 3 de maio próximo, no canal Show Time.
Penny Dreadful | Trailer
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Sobre o Autor
Designer de produtos e gráfico, mestre em comunicação, professor.