Superman – O Filme, lançado em 15 de dezembro do ano 1978, é um marco na indústria cinematográfica. O próprio slogan do filme era uma ode ao maior de todos os personagens das HQs: You’ll believe a man can fly (você acreditará que um homem pode voar). Sob a excelente direção de Richard Donner, Superman – O Filme também marcou na memória, não só dos fãs de quadrinhos, mas do público em geral também, a atuação do ator Christopher Reeve como o Homem de Aço; praticamente eternizando o rosto do ator no personagem.
Ao lado de Reeve brilharam também os igualmente icônicos Gene Heckman como o genial vilão Lex Luthor; Marlon Brando pai biológico do Superman, Jor-El; e Margot Kidder como a intrépida repórter Lois Lane, grande amor do herói. Claro, outros tantos nomes ficaram marcados de diferentes modos na produção do longa que, alguns anos depois ganhou três sequências, totalizando quatro filmes, sendo essas três continuações com qualidade cada vez mais baixa a medida que o tempo avançava.
Mas isso jamais tirou o brilho, a força e a magia do primeiro filme. Como se não fosse suficiente o casamento perfeito da direção de Donner com toda a abordagem da obra aliada ao elenco milimetricamente no lugar certo, John Williams compôs aquela que talvez seja a música tema mais emblemática de uma trilha sonora, encontrando apenas uma outra música cuja a qualidade rivaliza com o tema de Superman: o tema de Star Wars, não por acaso, também uma composição de Williams.
A grandiosidade do tema de Superman casou ponto a ponto com o porte altivo de Reeve e com a cenas de heroísmo que transcorriam ao longo da película, o senso de grandeza, honra, nobreza e abnegação do verdadeiro herói transbordavam nas crescentes da sinfonia e com absoluta certeza não são poucos os que ainda sentem aquela sensação de grandeza no conjunto da obra.
Em uma época que adaptações de quadrinhos sequer eram cogitadas para faturar pequenas fortunas ao redor do mundo e nem o super-heróis de gibis eram tão amplamente difundidos entre o público leigo, Superman – O Filme tem sobre si o feito de ser uma abertura enorme não só para o Superman como ícone da cultura pop, mas para toda a indústria de HQs dentro de outras mídias, mostrando que não só uma meia dúzia de nerds espalhados ao redor do mundo eram capazes de sonhar com um voo tão alto.
A Cena É…
Em um clássico como este filme, é até uma tarefa inglória escolher uma única cena em meio a tantas tão emblemáticas: a destruição de Krypton, a viagem no tempo, a prisão do ladrão escalador, o lindo voo romântico do herói e Lois Lane, Superman no trilho do trem, o monólogo de Jor-El com seu filho antes de sua primeira transformação e tantas outras eternizadas. Mas a escolha aqui levou alguns fatores para representar uma das melhores adaptações de quadrinhos para o cinema: heroísmo, força, romantismo e bom humor.
Lois Lane, uma das mais importantes repórteres do Planeta Diário se prepara para decolar do heliponto do prédio do jornal para cobrir uma matéria no aeroporto de Metrópolis, durante a decolagem o pé do helicóptero engata num cabo de aço que se solta e acaba por ocasionar a perda do controle da aeronave na decolagem. Fora de controle e com o piloto inconsciente, à beira do terraço do prédio do Planeta Diário, Lois acaba ficando pendurada pela porta do helicóptero desesperada…
Coincidentemente Clark Kent deixava o prédio do Planeta Diário e se depara com a multidão desesperada e o chapéu de sua colega de trabalho rolando pela calçada. Atento para o perigo Clark se dirige para a cabine telefônica mais próxima, mas não encontra exatamente o que procura e parte em direção a uma porta rotativa e numa fração de segundos com sua super-velocidade o tímido repórter dá lugar ao super-herói até então desconhecido da população de Metrópolis.
Fazendo jus ao slogan sobre voar, Superman parte para resgatar Lois Lane em plena queda e segue um de seus vôos mais emblemáticos para segurar o helicóptero que vinha despencando logo em seguida. Numa demostração de calma, tranquilidade, autoconfiança e força, o herói com apenas uma mão detém a queda da aeronave enquanto segura com todo cuidado a repórter do Planeta Diário que o observa atônita.
Ao pousar no terraço, Superman chama o socorro para auxiliar o piloto e ainda tranquiliza Lois sobre a segurança de voar. A repórter ainda com olhos arregalados e sem entender o que houve pergunta ao estranho quem ele é e dizendo apenas ser “um amigo”, o herói alça novamente outro voo pela noite para continuar sua patrulha.
Talvez o telespectador de hoje, acostumado a centenas de efeitos de computação gráfica para todo o lado, não se admire ou se espante com a magia desta cena, talvez até encontre uma centena de pequenos problemas, ou a ache inocente e boba demais. Mas há de se convir que a primazia da direção de Donner comanda a sequência toda numa cena tensa e de perigo possível. A situação de Lois num contexto real seria a tragédia certa, mas num roteiro pautada pela narrativa do herói que oportunamente está na hora certa e no lugar certo resgatam toda a beleza e sim, a inocência de uma narrativa fantasiosa e positiva.
Superman está ali naturalmente saindo do trabalho após um frustrado convite para jantar que Lois recusou minutos antes do acidente quase fatal. A percepção do perigo imediato não deixa o herói se descuidar de sua identidade secreta e, mesmo no limite da situação, completamente seguro de suas habilidades e poderes, oculta sua transformação com velocidade e parte para o resgate sorrindo. A aeronave despenca e o personagem continua ascendendo em seu voo para conter a queda e evitar que o piloto, bem como a multidão abaixo, acabem mortos com o final da queda.
Isso tudo em aproximadamente 4 minutos tensos e ao mesmo tempo divertidos, onde o herói realiza seus feitos acompanhado de uma trilha sonora potente e cheia de uma força que se iguala com a do próprio personagem, e tudo sem perder a beleza e graciosidade estética. Segundo a segundo somos guiados em uma narrativa
Ao conjunto da obra não há como negar, Superman – O Filme nos faz acreditar até hoje que um homem pode voar… voar, salvar pessoas, amar, ser amado, salvar o mundo, ser um estranho de outro mundo e ainda assim ser o mais humano de nós. Obrigado Donner, Obrigado Williams, obrigado Reeve por nos manter voando para sempre.
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Sobre o Autor
Designer de produtos e gráfico, mestre em comunicação, professor.