Sempre fui fã de zumbis, principalmente na literatura. Posso dizer que a obra que mais gosto deste gênero é Eu Sou A Lenda, do escritor Richard Matheson, (em breve farei a resenha aqui no PZ); tudo bem que não são bem zumbis propriamente ditos, mas as criaturas que Matheson usou me lembram mais zumbis do que vampiros.
Quando conheci a obra de Rodrigo de Oliveira, fiquei muito interessado e, graças a uma parceria com o autor e com a Faro Editorial, pude conferir essa obra e é com grande prazer que faço esta resenha, assim como farei com os demais títulos da saga, além de uma entrevista bem interessante com o autor no final deste, por assim dizer, especial. Aqui falaremos de O Vale dos Mortos, o primeiro livro da série Crônicas dos Mortos.
Muitos previram o fim do mundo, tantas e tantas vezes, mas sempre falhando. Porém, quando cientistas descobrem que um planeta estava em rota de colisão com a terra, todos tiveram certeza que o fim chegaria. A esse planeta foi dado o nome de Absinto, como a Bíblia havia previsto no livro de Apocalipse.
Em meio ao terror e ao caos, os cientistas descobriram que o planeta não colidiria com a terra, mas sim passaria “raspando”, um pouco mais longe do que a Lua. Todos ficaram aliviados e o terror teve fim. Um verdadeiro espetáculo estava a caminho, pois Absinto seria visível da terra, proporcionando uma vista que não aconteceria mais. Provido de anéis como os de Saturno, então parecia ser o evento do século, e todos estavam ansiosos. Mas eis que o planeta enfim chegou, e o espetáculo começou.
Tudo aconteceu em Agosto de 2017. No segundo capítulo do livro, conhecemos Ivan e Estela, casados e com um casal de filhos, ambos profissionais da área de informática, morando em São José dos Campos. Ivan escolheu a área de informática após se desligar das forças armadas, onde foi um excelente combatente.
Em um sábado que prometia ser incrível, com direito à ida ao shopping passear em família, o casal começa a notar que a temperatura está subindo muito para a época do ano. Em pleno inverno, os termômetros apontavam quase 50°. Decidem rumar para o shopping Colinas, mas chegando lá descobrem que o shopping está fechado. Lembrando que o shopping estava com problema no gás, rumam para outro shopping ali perto. Lá chegando, vão para a praça de alimentação. De repente, um tumulto começa. Pessoas começam a desmaiar aos montes, e todos pensam se tratar da onda de calor. Mas eis que as pessoas começam a acordar, e elas não são mais as mesmas.
Com olhos opacos da cor do leite e expressão voraz, começam a atacar todos que estão à sua volta. Mordendo e arrancando pedaços, dilacerando as pessoas, e então todos que haviam sido atacados caem mortos no chão, mas acordam iguais aqueles seres ferozes e irracionais, multiplicando mais e mais a quantidade de pessoas “estranhas”. Estela e Ivan conseguem fugir junto com seus dois filhos, perseguidos por uma horda de monstros canibais e pessoas ainda saudáveis, sem saber o que fazer.
Conseguem escapar do shopping e fogem para casa. Mas lá chegando, encontram uma enorme horda de criaturas, e decidem fugir para São Paulo, plano também frustrado pela excessiva quantidade de zumbis, como Estela enfim deduziu serem aquelas criaturas, e conseguem se esconder em um prédio em construções; também conseguem algumas armas e assim podem se defender por um curto período de tempo. Conforme a fome aperta, Ivan decide rumar para o shopping fechado onde poderia alimentar sua família. Conseguem fugir e chegam a salvo ao shopping, mas não sem antes passar por vários perigos, e lá encontram sobreviventes da equipe que fazia a manutenção. Enfim, conseguem um local para ficar, enquanto tentam entender o que fazer.
– O mundo está mudando, meu marido. Os motivos não importam, mas haverá um número incontável de mortos. Bilhões perecerão, não só na China, mas nos quatro cantos da Terra.
O caos havia se instalado em todo o mundo. O autor nos mostra inclusive o que aconteceu com líderes mundiais, coisa que eu achei muito legal. Temos cenas que mostram os governantes brasileiros virando zumbis, assim como os líderes da China, Estados Unidos e também da França. O mundo todo havia sido tomado por zumbis.
Em um determinado dia, Ivan descobre que havia sobreviventes num condomínio fechado logo ali perto, e decide resgatar todos. Para isso, conseguem invadir uma base do exército, onde conseguem muitos armamentos, carros blindados, e alguns soldados que estavam se escondendo. Com esse armamento, libertam o condomínio dos zumbis que infestavam o lugar e começam a criar uma comunidade auto-sustentável.
Mas como conviver com a horda de zumbis que os cerca? E, mais perigoso ainda, como conviver com os seres humanos que estão sob pressão? E mais uma coisa: uma peculiaridade havia acontecido. Um presídio ali perto, cheio de criminosos extremamente perigosos, não havia sido tão atingido. Muitos criminosos sobreviveram e agora foram para as ruas. O perigo estará à solta. Zumbis, humanos, em quem confiar? Quem será o mais perigoso?
Com uma escrita ágil, repleta de momentos de tensão e terror, Rodrigo nos traz uma obra de zumbis original, já me conquistando em seu primeiro livro. A vontade de continuar lendo a todo o momento não passa, e é com muita frustração que eu tinha que fechar o livro para poder dormir, às vezes nem percebendo que já estava avançando pela madrugada. Rodrigo tem a capacidade de fazer um tema terrível, tenebroso e assustador ficar muito atrativo, conseguindo fisgar a atenção do leitor com uma escrita direta, descritiva (os ataques são muito bem narrados, e são bem sanguinários) e sem rodeios.
Nunca se esqueça disso: vale muito mais a pena sermos o que somos, humanos cheios de dúvidas e fraquezas, do que nos igualarmos a esses monstros.
Temos também pequenos momentos de humor, afinal acompanhamos a vida de um casal bastante intenso, vivenciando seus dramas e suas alegrias, seus momentos de tensão e prazer, e sem perder o foco do mais importante: os zumbis que estão ao redor. Para o início da saga, Rodrigo nos traz um livro bem interessante, com intensidade e muito bem escrito. O autor nos mostra que veio para ficar, podendo sim se tornar um dos principais autores de terror nacional, eu tenho certeza. Recomendo muito para aqueles que querem um terror bem feito, comparável ao de mestres como Romero e até o próprio Matheson.
Digo isso porque muitas vezes me senti lendo Eu Sou A Lenda (fiquem ligados, será resenhado no PZ em breve, hein), com os momentos de tensão e terror sendo bem cadenciados e escritos. Creio que há uma inspiração aí. Leiam e não vão se arrepender.
Também é digna de nota a qualidade que a Faro Editorial tem. Um livro muito bonito, com algumas ilustrações no interior e um trabalho gráfico primoroso. Um papel de excelente qualidade e impressão bem feita. Parabéns à editora pela qualidade e pela ótima história lançada. Em breve, trarei a resenha de A Batalha dos Mortos, segundo livro da série.
Caso o leitor tenha interesse em degustar a série antes de comprar seu exemplar, basta entrar no site da editora e baixar gratuitamente o spin-off Elevador 16, que também será resenhado aqui em breve.
Veja a página do livro na Faro Editorial AQUI
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Sobre o Autor
Um leitor assíduo da fantasia e do terror, vem descobrindo aos poucos as maravilhas da Ficção Científica e dos Romances Históricos. Crítico e perfeccionista, procura falhas até nos livros mais perfeitos. Nas horas vagas escuta Heavy Metal e lê ainda mais.