A Vingança está na Moda (The Dressmaker, 2016) / Direção: Jocelyn Moorhouse / Roteiro: Rosalie Ham; P. J. Hogan / Elenco: Kate Winslet, Liam Hemsworth, Hugo Weaving, Judy Davis, Sarah Snook. 

[dropcap size=small]M[/dropcap]yrtle Dunnage (Kate Winslet) — ou “Tilly” como prefere ser chamada — era apenas uma criança quando foi acusada de assassinar Stewart Pettyman (Rory Potter) e tirada dos braços da mãe, Molly Dunnage (Judy Davis). Em 1951, após 25 anos, Tilly retorna para Dungatar (Austrália), uma cidade rural com poucos habitantes que sabem uns da vida dos outros e que mostram-se ao decorrer do filme verdadeiramente odiosos.

Tilly deu os primeiros passos de costura ainda com a mãe, e, mesmo tendo vivido longe dela por tanto tempo, a garota aperfeiçoou o seu talento para tal e se transformou em uma grande e cobiçada estilista que esteve envolvida com grandes nomes da moda na França entre outros países. Atormentada pelo passado, Tilly decide voltar para mostrar aos habitantes de Dungatar que ela é mais do que eles pensam que ela é. Assim como para descobrir se ela realmente foi culpada pela morte de Stewart Pettyman, filho do prefeito Pettyman (Shane Bourne), um homem de péssimo caráter e de sua esposa debilitada e com mania de limpeza, Marigold Pettyman (Alison Whyte).

Logo após seu retorno, Tilly encontra a mãe mergulhada em alcoolismo e com problemas de memória que nos confundem em muitos pontos se há realmente uma doença em questão ou se é a forma em que ela encontrou de lidar e rejeitar a ideia de Tilly voltar para aquele lugar que não tem nada a lhe oferecer. Durante a ausência da filha, Molly recebeu a ajuda de Teddy McSwiney (Liam Hemsworth) e sua família. Teddy, por sua vez, logo demonstra interesse em Tilly — que corresponde-o.

Os demais habitantes da cidade vão sendo-nos apresentados logo quando os mesmos se dão conta do retorno de Myrtle. Hugo Weaving, por exemplo, interpreta o sargento Farrat — o primeiro que a vê — e pode-se dizer que o ator revive parcialmente o seu famoso papel em Priscilla: A Rainha do Deserto (1994). O sargento é fascinado por moda, desenha vários croquis e possui um guarda-roupa fabuloso em segredo, pelo menos da maioria.

O filme passeia sutilmente por vários temas que fortificam a nossa indignação em relação aos personagens: violência doméstica, abuso, adultério, interesse etc. A questão é que todos estavam muito focados em julgar Tilly; seus vestidos, seu caráter, seu passado, sua mãe, mas ninguém olhava para si e via que estava agindo de uma forma muito pior. Concluindo: a hipocrisia reinava em Dungatar. Um retrato bem típico de cidade pequena, não? — ainda mais em tempos conservadores.

A principio, Tilly vai usar o seu talento com a moda para ajudar as mulheres de Dungatar a se vestirem melhor — imagine, haute coutoure em pleno deserto — na esperança de ser apreciada por elas. Porém, as coisas tomam outro rumo nos planos da estilista quando o prefeito Pettyman convida uma nova dressmaker para se hospedar em sua casa — claramente, há um interesse de destruir a nova reputação de Myrtle — e é neste momento que a garota percebe que não tem a menor chance com os seus conterrâneos.

De modo geral, o filme equilibra-se entre drama e comédia. Por esse fato, as situações dramáticas que a jovem tem de lidar são quebradas por diálogos levemente engraçados — principalmente quando são com a mãe, Molly. A extravagância está presente do começo ao fim: no figurino facilmente destacado em contraste à fotografia desértica; na própria atuação dos personagens.

Resumidamente, Myrtle nos mostra que às vezes a vingança veste alta-costura.

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