Vamos falar sobre música? E sobre série? E sobre Netflix? Vamos? Pois então vamos. E no caso desse tema, eu não posso deixar de me incluir aqui nesse texto. Vai ficar em primeira pessoa mesmo. Isso porque vou falar sobre The Get Down, série da Netflix, a última que eu acompanhei, e que já é, com toda certeza, uma das minhas favoritas.

Se a gente parar pra pensar no que torna uma série (ou filme, ou novela, ou qualquer conteúdo audiovisual) tão especial, com certeza cada um vai citar motivos diferentes – a trama, a direção, a fotografia, os personagens, o elenco, a trilha sonora… Ok, realmente muitos fatores tornam cada série especial. Mas em se tratando de The Get Down é IMPOSSÍVEL citar só um.

Na verdade são todos os motivos que citei anteriormente. A trama é maravilhosa e, em resumo, aborda as origens do Hip Hop no Bronx, em Nova York, lá nos anos 70, quando a Disco Music era uma verdadeira febre. É claro que há muito mais por trás disso. Discussões sobre racismo, liberdade sexual e artística, diferenças sociais, entre muitos outros temas. É uma história muito rica, e que mistura muito bem ficção com realidade. Falando sobre a direção, só tenho uma coisa a dizer: Baz Luhrmann.

The Get Down – Sob nova direção

Ele mesmo, diretor de “O Grande Gatsby” e “Moulin Rouge”, que aqui faz um trabalho lindo – como diretor e produtor executivo –, como já era de se esperar. Sem esquecer, claro, que Luhrmann contou com a ajuda de uma equipe incrível, que contou com nomes como o rapper Nas, os DJs Kool Herc e Grandmaster Flash, além do historiador Nelson George.

Os personagens são cativantes, tanto quanto o elenco. Temos aqui um protagonista tímido, bondoso, no início sem muita ambição – talvez por medo, por não aceitar o talento que tinha, e pela falta de esperança por ter conhecido desde cedo os obstáculos de ser um jovem negro vivendo em condições de pobreza e exclusão –, mas que depois se mostra mais forte e ambicioso.

Ezekiel “Zeke” Figuero (Justice Smith) tem o dom com as palavras e vai encontrar, no decorrer dos episódios, uma forma de utilizá-las. Zeke é apaixonado por Mylene Cruz (Herizen Guardiola), filha de um pastor rigoroso, e que luta para realizar seu maior sonho, que é ser uma diva da Disco Music. É claro que ela vai enfrentar muitas dificuldades, já que a família não aceita muito bem essa ideia.

Um dos personagens mais interessantes, que muda o destino de Zeke logo no primeiro episódio, é Shaolin Fantastic (Shameik Moore), aspirante a DJ, fã incondicional de Grandmaster Flash (aqui interpretado por Mamoudou Athie) – é claro que, depois de começar a assistir The Get Down, fui procurar pela discografia do Grandmaster Flash, esse cara que influenciou e influencia se não todos, mas grande parte dos nomes do Rap e Hip Hop. Enfim. A lista de personagens maravilhosos segue.

Um dos que eu mais gosto é o Dizzee, interpretado por Jaden Smith (não vou dar spoilers para quem ainda não viu, mas uma das minhas cenas favoritas foi protagonizada por ele – provavelmente a cena mais comentada da série até o momento). O trio de meninas é incrível também, a parte #GirlPower da série – Mylene, Yolanda (Stefanée Martin) e Regina (Shyrley Rodriguez). Quando estão juntas, elas roubam a cena. <3

Os embalos de The Get Down

Mas a intenção do texto era falar, em especial, sobre a trilha sonora da série, que recentemente foi liberada no Spotify. Como já era de se esperar, clássicos dos anos 70 fazem parte da trilha – como “Bad Girls”, de Donna Summer, e “Wild In the Streets”, de Garland Jeffreys –, que também conta com muitas canções inéditas de um time forte – “Telepathy”, de Christina Aguilera e Niles Rodgers, “Cadillac”, de Miguel, “Hum Along and Dance (Gotta Get Down)”, de Janelle Monáe”, e “You Can’t Hide / You Can’t from from Yourself (Touch of Class GMF Remix)”, uma colaboração entre Zayn Malik, Teddy Pendergrass e Grandmaster Flash (o próprio, que é retratado na série).

Entre um clássico e outro e uma canção inédita e outra de nomes conhecidos da música, estão momentos musicais da série que, quem assistiu, vai relembrar e cantar junto. É o caso, por exemplo, da versão de “Up The Ladder to the Roof”, das Supremes, que aqui ganha uma versão linda na voz de Herizen Guardiola, que interpreta Mylene.

O poema do Zeke também ganha espaço na trilha sonora. E outro musical da série – o meu favorito! – também faz parte da trilha, o grande momento dos The Get Down Brothers – não vou explicar, porque é bem melhor assistir na série, pfvr. Jaden Smith, que faz parte do elenco, também está na trilha de The Get Down, abrindo o álbum, com “Welcome to The Get Down”, uma ótima introdução, de pouco mais de um minuto.

Mais destaques: o inglês Michael Kiwanuka participa em duas músicas da trilha da série, uma com “Rule The World” e a outra com “Black Man in a White World” – as duas em versões novas, com participação de Nasir Jones, o Nas, rapper e ator americano. Nas participou como consultor da série e assina a trilha interpretando os raps do personagem de Justice Smith.

Resumindo, The Get Down não é apenas uma série para quem gosta de Hip Hop, mas também para quem gosta de música em geral, para quem gosta de mergulhar nas origens, para quem gosta da cultura negra, para quem se interessa por grafite e arte urbana, para quem gosta dos anos 70, ou simplesmente para quem se interessa por um bom conteúdo audiovisual, já que a série não decepciona.

Os episódios não são curtos e talvez o piloto possa ser cansativo no início, mas a história logo cativa e a gente não consegue parar de acompanhar. Atualmente o elenco está ensaiando e gravando os novos episódios da série, que chegam à Netflix no ano que vem. Contando os dias, grasshoppers!