Dia do Quadrinho Nacional
Chegamos a mais um Dia do Quadrinho Nacional, 30 de Janeiro foi dia de festejar nossa produção, obras, artistas e público leitor, sem o qual nada disso faria sentido.
A celebração foi idealizada pela Associação dos Quadrinhistas e Cartunistas do Estado de São Paulo (AQC-ESP) em 1984. A entidade desde então passou a organizar o Prêmio Ângelo Agostini, com o intuito de destacar e prestigiar os profissionais brasileiros que colaboram com a produção nacional de histórias em quadrinhos.
O dia 30 de Janeiro passou a ser a data que se comera a produção de quadrinhos nacionais justamente pelo fato que em 1869, nesta mesma data, Angelo Agostini publicou na revista Vida Fluminense, (1868-1875), aquela reconhecida como a 1ª história em quadrinhos do Brasil: As Aventuras de Nhô Quim ou Impressões de Uma Viagem à Corte.
Este ano para comemorar a data resolvemos indicar a série Pátria Armada e a HQ Rio Negro e, aproveitando a oportunidade, resenhar a terceira edição (veja resenha das edições 1 e 2, respectivamente AQUI e AQUI).
Série esta que acompanhamos desde o inicio, e temos agora a oportunidade de ver o primeiro arco sendo concluído, o que já é uma grande vitória para todos.
Pátria Armada – Fechando um Arco
E se numa linha temporal diferente da nossa o governo de João Goulart tivesse resistido ao golpe e assim gerado um guerra civil que dividiu o Brasil, onde Legalistas e Federalistas passam a travar uma luta pelo poder e pelo destino de nossa nação? Com esta premissa Pátria Armada une guerra e realidade alternativa, numa visão instigante e cheia de possibilidades, onde seres superpoderosos vivem entre nós, e ao partir de fatos históricos como sustentação para a trama acaba ganhando um aditivo bem alinhado com a atual conjuntura de nosso país…
Este é o cenário bolado por Klebs Jr., para trazer até nós as aventuras do supergrupo Tropa de Impacto, formado por Cristina, Guari, Teco, Rasta, Glória, Zeverildo, Renata e Gustavo, comandados pelo Coronel Venâncio.
A história da terceira edição gira em torno de uma ação tática para localizar uma ambulância que transporta uma bomba para ser detonada em São Paulo, numa ofensiva dos Federalistas.
Com o plano em andamento e a Tropa de Impacto ainda se recobrando dos eventos da segunda edição, temos o palco armado para os acontecimentos tenebroso que esta investida Federalista pode causar se obtiverem êxito, já que a bomba em questão tem três vezes e meia a potência da bomba de 1972.
A expectativa gerada pelos acontecimentos acaba esbarrando nos mesmos problemas detectados desde o inicio da série, um roteiro entrecortado e por vezes desconexo o que acaba se refletindo na fluidez do mesmo. Um exemplo disso é a falta de articulação do roteiro em aproveitar os elementos da trama proporcionando a narrativa uma cadência. Outro fator que se evidência e a inexistência de uma abordagem mais eficiente da manifestação dos poderes da Tropa de Impacto.
Vemos isso claramente quando Venâncio instrui Glória (a velocista) a fazer uma varredura percorrendo toda a extensão das marginais da cidade, logo em seguida observamos um quadro pequeno onde a personagem não ganha destaque algum nem seus poderes são usados para favorecer a dinâmica da ação, nas paginas seguintes à ausência visual desta dinâmica continua.
Outro momento em que notamos problemas na própria narrativa gráfica é quando a ambulância é avistada, estamos no helicóptero de Venâncio e temos a visão da trava da mira do mesmo, pronta para alvejar o veículo, repentinamente, a aeronave é abatida, num corte mal elaborado aprece um dos ocupantes da ambulância no que parece ser a capota do veículo.
A ação segue descoordenada e desempolgante, vemos Cristina usar seus poderes (manipulação de emoções) e mais uma vez o roteiro abre mão de construir cenas onde a manifestação destes seja o fio condutor da cena e da ação em curso de forma gráfica, se ela manipula emoções por que não apresentar uma distorção da realidade? Clichê mais que bem-vindo neste tipo de interação…
Neste ponto tudo o que temos é uma ação burocrática que visa chegar ao desfecho do que tinha tudo para ser a edição mais interessante da série, pois com a falência moral do grupo, o comando sendo afetado pelas oscilações de humor de Venâncio, assombrado por um passado que vai sendo desvendado, poderia resultar em um excelente clímax para este primeiro arco, mas os elementos apresentados parecem não afetar os acontecimentos, quebrando a noção de causa e efeito sugerida pelos fatos mostrados no decorrer da série.
O desfecho, porém trás outro problema, o gancho para um próximo arco que se traduz na aparição repentina de um personagem na ultima pagina, levanta questões que incomodam, pois Anarquista sequer foi explorado de forma mais ativa no decorrer da trama. Ele parece transitar pela história sem um nexo convincente, vimos uma breve aparição deste na segunda edição sem grandes desdobramentos o que acaba não potencializando sua relevância no arco e joga o mesmo num ostracismo até a cena da pagina final da terceira edição dando um destaque forçado e mirabolante…
Falta Carisma
Pátria Armada entre outras coisas promete uma protagonista forte e exuberante decisiva para o andamento da série, focando sua atenção em Cristina, que é tratada como peça chave do que iriamos vislumbrar. Contudo após três edições vemos a personagem ser engolida pelos acontecimentos e a cada edição ela perde força e atenção na trama.
Mesmo sendo o peão que decide a jogada num momento crucial para o desfecho do arco nesta terceira edição, isto não consegue manter a relevância da mesma na jornada que fora sugerida no início do arco. Cristina carece de empatia com o leitor e as características da mesma não evoluem de forma convincente no decorrer de sua jornada.
O mesmo acontece com o super grupo Tropa de Impacto, a interação dos mesmos não progrediu, em três edições acabamos conhecendo muito pouco dos seus integrantes e a sucessão de fatos para um maior entrosamento e afinidade dos membros não é o suficiente para que decolem.
No final Pátria Armada promete muito com sua instigante premissa, porém perde folego e chega com várias lacunas no final do seu primeiro arco, que parecem não ter sido planejadas no roteiro.
A terceira edição de Pátria Armada consegue resgatar a qualidade da arte vista na primeira edição, porém a revista sofreu um reajuste de preço que pesa contra seu custo benefício.
Pátria Armada – Créditos para quem é devido Parte II
Abordamos na análise da segunda edição de Pátria Armada AQUI, a questão dos créditos no meio de produção de HQs, e que isso não estava acontecendo de forma devida na série.
Para nossa alegria constatamos que isso foi revisto, e agora podemos contemplar a equipe devidamente creditada na capa da terceira edição.
Fazer quadrinhos de qualidade não passa apenas pelos pontos de confecção física da revista ou processo criativo, mas sim de todos os conceitos que regem um projeto destes. Para quem esta na indústria atuando como profissional é de suma importância ter seus créditos expostos de maneira correta, e ter seu nome creditado em uma capa de um projeto é algo que tem um peso inestimável, sem contar que passa por um ponto fundamental para o fortalecimento de qualquer área, o conceito de valorização profissional, ponto para Pátria Armada…
Pátria Armada – A Série
Com uma premissa instigante, três edições que oscilam bastante, mas que mostram que o universo criado por Klebs Jr. tem muitos desdobramentos que podem ser explorados e render excelentes histórias e arcos bem engenhosos. Temos um vislumbre disso nos anexos da terceira edição onde são mostrados o Reino de Guanabara e as Indústrias Tucano Estrela.
No primeiro caso um território que prima pela aparente “neutralidade” em relação à guerra Federalistas e Legalistas, o segundo elemento interessante são as Industrias Tucano Estrela que operam justamente com a reconstrução decorrida das destruições produzidas pela guerra, algo que lembrou a equipe do Controle de Danos/Marvel (Criada em 1989 por Dwayne McDuffie e Ernie Colón) responsável por limpar os estragos que os super-heróis causam após suas batalhas.
Ambos podem proporcionar o catalisador para impulsionar Pátria Armada a buscar um aprofundamento em sua mitologia. Espionagem, terrorismo, tramas políticas e uma série de nuances que dependem do que se quer extrair desta obra, que em alguns aspectos se mostrou uma das mais instigantes em termos de possibilidades, já que se apropria de forma alusiva do insólito cenário criado pelos governantes e poderosos do nosso país.
Desdobramentos disso já estão acontecendo com a edição Pátria Armada: Visões de Guerra! Onde vários autores entre roteiristas e desenhistas são convidados a produzir uma antologia sobre este universo.
Leia e conheça este universo, tire suas conclusões, Pátria Armada merece ser apreciada e divulgada!
Pátria Armada – A Revista
- PÁTRIA ARMANA n° 3
- Formato 17 x 26 cm
- 44 páginas em cores
- Preço: R$ 12,90
- IHQEditora: www.ihqeditora.com
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Sobre o Autor
É Bacharel em Psicologia, porém optou por sua grande paixão trabalhando como ilustrador e quadrinhista. É sócio do Pencil Blue Studio e Ponto Zero, podendo assim viver e falar do que gosta: quadrinhos, cinema, séries de TV e literatura.