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Oscar 2017 | Estrelas Além do Tempo

ESTRELAS ALÉM DO TEMPO (Hidden Figures. 2016. Direção: Theodore Melfi. Roteiro: Allison Schroeder e Theodore Melfi. Elenco: Taraji P. Henson, Octavia Spencer, Janelle Monáe, Kevin Costner, Kirsten Dunst, Jim Parsons.)

[dropcap size=small]É[/dropcap] impressionante a quantidade de histórias sobre pessoas revolucionárias e corajosas que nós desconhecemos, por não fazerem questão de nos ensinar nas escolas, ou por terem sido mantidas em segredo até pouco tempo.

Felizmente, nos últimos anos, os filmes têm nos revelado histórias como essas.

Argo, Clube de Compras Dallas, O Jogo da Imitação, e Spotlight: Segredos Revelados são alguns desses.

Esse ano, fomos surpreendidos pela inédita história de Estrelas Além do Tempo, o filme dirigido pelo ainda considerado estreante Theodore Melfi, que também escreveu o roteiro, juntamente com Allison Schroeder.

A produção, baseada no livro Hidden Figures: The Story of the African-American Women Who Helped Win the Space Race, de autoria de Margot Lee Shetterly, conta a história de um grupo de mulheres negras, que trabalham como matemáticas na NASA à época da Guerra Fria, mais especificamente no Projeto Mercury, que lançou o primeiro homem estadunidense na órbita do planeta Terra.

O foco do filme está em, especificamente, três das matemáticas: Katherine Goble Johnson, Dorothy Vaughan e Mary Jackson, mostrando trabalho e habilidade excepcionais, enquanto lutam contra o preconceito e a segregação, tanto no meio de trabalho, quanto na sociedade em geral, por serem mulheres e por serem negras.

As três protagonistas são interpretadas, respectivamente, pelas excepcionais Taraji P. Henson, Octavia Spencer e Janelle Monáe.

Janelle Monáe é, de fato, talentosa. A cantora fez sua estreia esse ano como atriz, em Moonlight: Sob a Luz do Luar, e já aparece em Estrelas Além do Tempo, ambos filmes aclamados pela crítica e público. No primeiro, sua atuação foi altamente elogiada, e aqui neste, ela é igualmente aclamada, como Mary Jackson, a primeira mulher negra a se tornar engenheira na NASA e nos EUA, em toda a sua luta contra todos os obstáculos para atingir tal patamar. Monáe mostra toda sua capacidade em cena, em um papel marcante e que abrirá várias portas em sua nova carreira cinematográfica.

Octavia Spencer não nos surpreende mais. A vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante por Histórias Cruzadas sempre arrasa em cena, e aqui, mais uma vez, ela mostra que nunca brinca em serviço quando é convocada. Spencer encarna com maestria Dorothy Vaughan, a primeira supervisora negra da NASA, que liderava o chamado “Grupo de Matemáticas de Cor”.

No filme, a personagem de Spencer luta todos os dias pelo reconhecimento do seu trabalho como líder da equipe, bem como pelo reconhecimento do trabalho de cada uma de suas meninas matemáticas, que são segregadas em um campus isolado dentro da NASA.

Em cena, a veterana não sente qualquer dificuldade para interpretar o desafiador papel, e transmite toda a sua revolta, cena a cena, com o tratamento desigual que lhes é dado, sem nunca baixar a cabeça ou desistir de lutar.

Taraji P. Henson, por sua vez, lidera as protagonistas como o verdadeiro foco entre as três: Katherine Goble Johnson, a matemática que trabalhou diretamente na equipe principal do Projeto Mercury, sendo responsável, dentre vários trabalhos, pelos cálculos de reentrada de John Glenn, o primeiro astronauta estadunidense a dar múltiplas voltas na órbita do planeta Terra e retornar com sucesso.

Estrelas Além do Tempo

Henson, que já foi indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante por O Curioso Caso de Benjamin Button, e que já ganhou um Globo de Ouro pelo papel de Cookie Lyon na série dramática Empire, jamais será questionada pelo seu talento, principalmente após Estrelas Além do Tempo. Neste filme, ela carrega toda a emoção e a revolta do preconceito e do machismo sofrido pela personagem, numa sala onde só haviam engenheiros homens e brancos, sendo segregada até na garrafa de café. Mas, sem nunca abaixar a cabeça, Henson mostra a volta por cima que Goble Johnson dá dentro da NASA, e guia a personagem para momentos épicos em cena.

No elenco, para complementar essa equipe, o veterano Kevin Costner interpreta Al Harrison, o líder do Projeto Mercury, que quebrou vários bloqueios ao trabalho das matemáticas negras na NASA. Além dele, Jim Parsons e Kirsten Dunst também estão na equipe, brindada com a presença do talentoso Mahershala Ali como o segundo marido de Katherine Goble Johnson, Jim Johnson (que, com ela, está casado há mais de 56 anos).

Ali, assim como Janelle Monáe, está presente em dois sucessos de 2016, tanto em Estrelas Além do Tempo, quanto em Moonlight: Sob a Luz do Luar.

A história, extremamente surpreendente, ao mesmo tempo que é revoltante (por toda a segregação que as mulheres negras sofrem, decorrente do racismo e do machismo), nos emociona de formas fenomenais, através de um filme divertido e envolvente, que nos prende para saber até onde elas foram capazes de chegar (e motivando qualquer pessoa a chegar aonde quiser chegar).

O elenco fenomenal do filme, mais que merecidamente, levou o Screen Actors Guild Awards de melhor elenco, pela performance espetacular em cena.

Estrelas Além do Tempo se junta a vários outros filmes de histórias jamais reveladas ou amplamente divulgadas, assim como na classe dos filmes que vêm quebrando todos os paradigmas sobre cor, sexo, raça, religião ou qualquer outro tema que gere intolerância nos dias atuais. É um filme que deve ser assistido, por já ser, como o próprio nome diz, além do tempo.

P.S.: Ao longo do filme, vocês irão escutar a voz marcante de Pharrell Williams nas músicas que embalam a produção. O cantor, além de reger a trilha sonora com músicas originais, também aparece nos créditos como o produtor de Estrelas Além do Tempo.

Estrelas Além do Tempo foi indicado a 3 Oscars em 2017:

Melhor Filme;
Melhor Atriz Coadjuvante, para Octavia Spencer;
Melhor Roteiro Adaptado, para Allison Schroeder e Theodore Melfi, baseado no livro “Hidden Figures: The Story of the African-American Women Who Helped Win the Space Race”, de Margot Lee Shetterly;