OSCAR 2017 | UM LIMITE ENTRE NÓS

UM LIMITE ENTRE NÓS (Fences. 2016. Direção: Denzel Washington. Roteiro: August Wilson. Elenco: Denzel Washington, Viola Davis, Stephen Henderson, Jovan Adepo, Russell Hornsby, Mykelti Williamson.)

Um Limite Entre Nós [dropcap size=small]P[/dropcap]egue um dos melhores atores de todos os tempos. Coloque-o como protagonista e diretor no mesmo filme. Adapte para os cinemas uma das peças mais cultuadas pela crítica e público. Convoque uma das melhores e mais amadas atrizes da nossa era. Junte tudo isso em uma só produção.

O resultado é a produção Um Limite Entre Nós, e que (já adiantando) foi um dos filmes mais aclamados pela crítica e público em 2016.

Provavelmente vocês nem conhecem esse filme. Mas, se eu chamar o filme de “Cercas”, vocês darão nome aos bois. Antes da distribuidora brasileira dar o nome oficial ao filme, os “distribuidores clandestinos” adaptaram livremente o nome do filme do original, “Fences”, e traduziram ao pé da letra pra dar o nome mais popular do filme. Mais popular que o próprio nome oficial.

Fences, inclusive, é o nome da peça original na qual o filme se baseia. Ela faz parte de uma série de peças, a The Pittsburgh Cycle, todas escritas por August Wilson. Todas as peças dessa série abordam temáticas ligadas aos afro-americanos, à vida deles nos EUA, e às relações deles com as pessoas das demais etnias. Todas as peças foram muito cultuadas, todavia, Fences foi a única que garantiu o Prêmio Pulitzer (para a melhor produção escrita) e o Tony Award (para a melhor peça), tornando-a aclamada.

O próprio Wilson adaptou a peça para um roteiro cinematográfico. Mas, infelizmente, o escritor morreu em 2005, há quase 12 anos atrás, deixando pra trás seu legado e seu roteiro já pronto, sem poder vê-lo tomar vida.

O roteiro, assim como a peça, conta a história da família Maxson, focado no pai, Troy, um homem que sonhava em ser jogador profissional de beisebol, mas teve que lidar com as desventuras da vida, terminando como varredor de rua. A história mostra as frustrações de Troy por não ter atingido seus sonhos, bem como desenvolve a relação dele com a esposa, Rose Lee, e com seus filhos, em meio às temáticas envolvendo os afro-americanos.

Troy Maxson é interpretado pelo veterano e já imortal Denzel Washington, vencedor do Oscar de melhor ator coadjuvante para Tempo de Glória e de melhor ator por Dia de Treinamento. Além de ser o protagonista, ele também é o diretor do filme, em seu terceiro trabalho na direção de um filme, após Voltando a Viver e O Grande Desafio.

Um Limite Entre Nós

E em nenhuma das duas tarefas, Washington deixa a desejar. O homem guia o filme dentro e fora das telas. Como diretor, ele consegue captar a essência da criação de August Wilson, sendo fiel à peça e ao roteiro que o escritor escreveu, mas sem perder o seu toque na direção. Como ator, ele está presente em todas as cenas do filme, sendo o elemento que liga todos os pontos em um único nó, e funcionando como o motor da produção, seja pelas histórias que conta, pelos dilemas que tem, ou pelos problemas que causa.

Denzel Washington, obviamente, não trabalha sozinho pra conseguir dar o seu show. Todos os atores em cena, que estão com ele na jornada, entregam atuações fenomenais. Stephen Henderson, Mykelti Williamson, Russell Hornsby e Jovan Adepo, que estão frequentemente em cena com o protagonista, contracenam em momentos fortes com Washington, e mostram toda a sua capacidade para estar em cena com o veterano.

Como é perceptível, o filme é forte em suas atuações e em seu elenco dedicado à produção. Mas um dos nomes é simplesmente espetacular em cena: Viola Davis.

Davis é uma das atrizes com mais experiência no entretenimento, dos nossos tempos. Por todos os que conhecem todo o trabalho dela, consideram ela “a deusa dos nossos tempos”, e a sucessora espiritual da rainha Meryl Streep. E pelos sorrisos que elas trocaram no Globo de Ouro, parece que Streep aprova sua sucessora.

Davis tem indicações ao Oscar de melhor atriz, por Histórias Cruzadas, e de melhor atriz coadjuvante, por Dúvida. Além disso, ela já atuou como a clássica personagem dos quadrinhos da DC, Amanda Waller, no decepcionante Esquadrão Suicida. Todavia, mesmo com o fracasso do filme, a atuação de Davis como a personagem foi considerado o ponto mais forte do filme, e com todas as avaliações positivas. Mas o sucesso dela é como a advogada criminal Annalise Keating, da série de TV How To Get Away With Murder, e que a garantiu o Emmy de melhor atriz em 2015, tornando-a a primeira atriz negra a ganhar o prêmio.

Em Um Limite Entre Nós, ela interpreta a mãe dos Maxson, Rose Lee, uma dona de casa que tem que lidar diariamente com as frustrações do marido Troy, com a forma como ele reage a isso e a tudo ao seu redor, com o tratamento que ele dá aos filhos, e com os erros que ele comete. É o papel mais difícil do filme, pois ela sofre as consequências dos atos do protagonista. Mas, pra Viola Davis, não é difícil. Pelo contrário: ela torna muito fácil, e dá um show em cena, maior que o de Denzel Washington.

Na verdade, quando estão juntos em cena, Denzel Washington e Viola Davis são geniais. Eles têm um entrosamento e uma química que fazem o filme todo funcionar, e faz valer a pena estar assistindo à produção. Certamente, são papéis que se tornarão memoráveis para eles, como já são para todos os espectadores.

Não é à toa que os dois foram indicados ao Globo de Ouro por Um Limite Entre Nós, de melhor ator para Washington e melhor atriz coadjuvante para Davis. Ele não levou o dele, mas ela nem fez esforço pra ganhar o dela.

Com uma bela e emocionante história, que nos envolve no drama familiar dos Maxson, e que nos encanta a cada palavra dita pelos atores, a cada olhar, a cada espetáculo singular e conjunto, Um Limite Entre Nós (ou Cercas) é um dos melhores filmes do ano, e que já deixou sua marca em todos os pontos.

August Wilson, de onde ele estiver assistindo a produção, certamente está orgulhoso.

Um Limite Entre Nós foi indicado a 4 Oscars em 2017:

Melhor Filme;
Melhor Ator, para Denzel Washington;
Melhor Atriz Coadjuvante, para Viola Davis;
Melhor Roteiro Adaptado, baseado na peça “Fences”, ambos de autoria de August Wilson.