Solomon Kane é um personagem criado por uma das mentes mais brilhantes que eu conheço, o grande Robert E. Howard. Caso você não conheça o nome, com certeza conhece ou já ouviu falar de sua maior criação literária: Conan, o Bárbaro.
[dropcap size=small]C[/dropcap]riador do gênero de fantasia Sword & Sorcery (Espada & Magia), Howard trouxe a fantasia ao mundo antes de Tolkien sequer pensar em Hobbits e, pra mim, sendo o precursor da fantasia com elementos mágicos, além da Dark Fantasy.
Solomon Kane foi criado por Howard em 1927 como um vingador puritano, destinado a combater o mal do mundo na forma de Satan e demônios que viesse a encontrar.
Seus contos foram publicados em sua maioria pela Weird Tales, dividindo espaço com nomes do calibre de H.P. Lovecraft, que, aliás, foi o mestre de Howard.
Este livro reúne todos os contos de Kane em ordem cronológica, deixando de fora apenas poesias, e posso dizer com segurança que Solomon Kane é um dos maiores representantes da Dark Fantasy mundial, mesmo que essa não tenha sido a intenção de Howard ao criar essa figura épica.
A resenha hoje será feita de uma forma totalmente diferente, pois, por se tratar de uma antologia de contos, decidi que seria mais justo uma resenha conto por conto, mesmo sabendo que ficaria extremamente longa. Então vamos lá.
Solomon Kane | Sombras Vermelhas
O primeiro conto criado por Howard de Solomon Kane, que já introduz de maneira clara e crua esse estranho e temível personagem. Kane encontra uma garota molestada e ferida, que viria a morrer em seus braços, jogada no mato. Antes de morrer, a garota conta quem havia feito aquela barbaridade com ela, que também atingiu todos os habitantes da vila onde ela residia.
Uma gangue liderada por um homem terrível, conhecido por Le Loup, havia roubado e dizimado toda a vila e seus habitantes, juntamente com sua gangue de bandidos. Kane jura vingança e justiça, e parte para matar todos os envolvidos, caçando um por um, chegando aos confins da Africa, onde Le Loup se refugiou e se encontra protegido por um Deus da floresta e uma tribo de rituais sombrios, onde conhece uma figura que será extremamente importante em outros contos, um feiticeiro vodu chamado N’Longa.
Muito sangue, além de ocultismo e deuses pagãos permeiam esse excelente conto. Adianto que o final desse livro é estarrecedor.
Solomon Kane | As Caveiras Nas Estrelas
Em mais uma de suas andanças pelo mundo, Kane acaba por encontrar uma bifurcação na estrada que seguia. Ao tentar avançar, é detido por um habitante que conta o horror que habita aquele lado da estrada, onde nenhum ser sai vivo.
Recomenda então que Kane siga pelo outro lado e se hospede na casa de um habitante misterioso. Kane vê ali um mal que precisa ser combatido e parte em busca desse horror assassino. Um conto bem curto, mas também muito bom, com uma revelação surpreendente no final.
Solomon Kane | O Chacoalhar de Ossos
Mais um conto bem pequeno, o que me impede de falar muito sobre ele. Kane encontra um estranho viajante na Floresta Negra, e decidem procurar uma estalagem para passar a noite. Encontram uma estalagem muito estranha, com um estalajadeiro mais estranho ainda, e Kane vai descobrir que este local guarda muitos segredos, e que não se deve confiar em qualquer um.
Solomon Kane | A Lua das Caveiras
O conto mais longo do livro, e que conseguiu também se tornar o mais arrastado de todos. Kane vai à um reino Africano em busca da herdeira de uma família muito rica da Inglaterra. Por meio de um duelo, Kane descobre que a herdeira natural das posses da família havia sido raptada e dada como morta para que outra pessoa herdasse a fortuna. Kane então a encontra nesse reino obscuro, na espera de seu sacrifício a um deus pagão.
Kane lutará para salvar a garota de todo o exército e também da própria rainha desse estranho reino de cultistas.
Considero esse conto a prova que nem tudo é perfeito, pois o conto é extremamente lento, plot twists rasos e muitas soluções milagrosas. Até me abstive de falar demais, pois todas as situações de perigo que Kane passa nesse conto são resolvidas de maneira fácil demais.
Esse conto também visita o mito de Atlântida, pois em certo momento da narrativa Kane encontra um sobrevivente do desastre que culminou na extinção desse reino. Se eu fosse dar notas a todos os contos, esse conto levaria um 5 de 10.
Solomon Kane | As Colinas dos Mortos
A partir deste conto, Howard cria um sequencia do primeiro conto, Sombras Vermelhas. Solomon Kane retorna aos confins da África para reencontrar aquele que foi feito seu irmão, o feiticeiro Juju N’Longa. O objetivo de Kane na África é percorrer o continente em busca de manifestações demoníacas, e pede ajuda a N’Longa para poder lidar com elas.
N’Longa então entrega um bastão Vodu de aparência muito antiga, garantindo a Kane que há muita magia nele, além de muitos mistérios. Uma das magias é a da comunicação com o próprio N’Longa, recurso que Kane usará durante sua jornada.
Partindo em sua jornada pessoal, Kane se depara com uma índia que fugia de sua aldeia, e que poderia correr riscos enormes na selva africana. Kane a leva para uma caverna para que possam passar a noite em segurança e, ao amanhecer, levar a índia de volta à sua tribo.
Porém, Kane a índia são atacados por homens muito estranhos, com olhos vermelhos e extremamente agressivos. Kane descobre, através da índia, que aqueles não eram humanos normais, mas sim vampiros que habitam aquela região e que caçam à noite.
Kane decide então exterminar essa raça de vampiros, contata N’Longa através do bastão para pedir ajuda. N’Longa apenas ordena que a índia traga seu noivo, que estava na aldeia, e então se apossa do corpo do jovem para, juntamente com Kane, exterminar os vampiros que ali habitam.
Conto muito interessante, mas que não chega a se sobressair. Após ter lido conto tão mediano quando o anterior, Howard renova nossas esperanças de encontrar bons contos aqui.
Solomon Kane | Passos Interiores
Todos aqueles que são fãs de Lovecraft sabem da grande amizade que surgiu entre ele e Howard, o que inclusive influenciou a escrita de Howard, que adotou os Deuses Antigos de Lovecraft, como Crom, o deus no universo de Conan.
Já em Solomon Kane, não temos a presença de grandes deuses, sendo que o único citado está no primeiro conto e isso não se repete no livro. Já nesse conto, uma semelhança gigantesca com o estilo de escrita de Lovecraft pode ser notada, inclusive me lembrando o conto A Tumba, de Lovecraft.
Dando sequencia aos acontecimentos do conto anterior, Kane continua em sua peregrinação pela África, o grande continente desconhecido (estamos lendo um conto dos anos 20). Kane se depara com um grupo de muçulmanos mercadores de escravos, que levavam uma tribo africana inteira para a costa, onde pegariam um barco e seguiriam viagem para a Ásia.
Kane os encontra exatamente no momento que um estupro coletivo estava prestes a iniciar, o que o faz se descontrolar e atacar os mercadores com força máxima, o que, mesmo matando muitos, não é suficiente para evitar sua derrota e posterior prisão.
Um ancião que viajava com o grupo percebe que o bastão de Kane possui propriedades místicas únicas, que remetem até mesmo até antes do império Egípcio, e alerta à todos do poder que o grande homem branco pode ter.
Ignorado, a caravana segue viagem até que se deparam com uma tumba estranha e de aparência extremamente antiga, que causa pavor a todos só de ser observada, mas que fará Kane lutar com todas as forças para se libertar, subjugar os mercadores e, ainda, enfrentar seja lá o que esteja dentro da tumba.
Mencionei acima mas sem entrar em detalhes, mas neste conto sabemos enfim a origem do bastão mágico que N’Longa presentei Kane, uma origem surpreendente e sobrenatural. Já o conto em si, com seu forte toque Lovecraftiano, me faz o considerar, se não o melhor, um dos melhores contos presentes nesta antologia.
Solomon Kane | Asas da Noite
Ultimo conto da jornada de Solomon Kane na África, Kane se vê perseguido por canibais quando se depara com uma vila completamente destruída. Uma particularidade do local é que os canibais que o caçavam não ousam chegar perto do local, então Kane se aproveita dessa segurança para investigar o local.
Logo encontra um homem amarrado e extremamente mutilado, já quase sem nenhuma força, com sinais de tortura extrema. Em seus últimos suspiros, o homem revela que havia sido deixado como oferenda à uma rança antiga e predadora extremamente perigosa, os Akaanas.
Seres malignos, os Akaanas são criaturas humanoides totalmente negras, como a noite, e dotados de asas semelhantes as de morcegos, que gostavam de caçar e comer humanos e qualquer outro ser vivo. Após a morte do homem, Kane é atacado por um dos Akaanas, em plena luz do dia e que, a muito custo, é subjugado por Kane, sem antes deixa-lo muito ferido, desmaiando logo após a luta.
Quando Kane acorda, se vê resgatado pelos antigos habitantes do local, que haviam fugido para outra vila, que contam toda a história por trás dos Akaanas e a devastação da vila e seus habitantes. Kane, com seu espirito puritano, mais uma vez se oferece para tentar acabar com essa praga demoníaca, o que pode ter custos mortais.
Conto mais violento de toda a antologia, o sangue escorre por essas páginas. Howard usa de terror extremo e certa repulsa nesse conto, o que mostra cada vez mais que a Dark Fantasy já existia há anos. Eleito, por mim, o melhor conto de toda a antologia. Sou capaz de ler esse conto vezes seguidas e continuar espantado com a violência e reviravoltas geniais que ele contém. O mestre em seu auge.
Solomon Kane | A Mão Direita do Destino
Após as andanças pela África, Kane se encontra em uma taverna, ouvindo a história de um dos frequentadores, que dizia ter conquistado a confiança de um necromante e, logo depois, o traído, entregando-o às autoridades, onde então foi condenado à morte. O que o homem não sabia, e Kane faz o grande favor de o avisar, é que a vingança de um necromante é poderosa e nunca falha.
Conto curtíssimo, com pouquíssima aparição do próprio Kane, mas sim com destaque em seus personagens misteriosos, o traidor e o necromante. Kane praticamente vira um coadjuvante nesse conto. Ao final, temos uma reviravolta bem interessante, mantendo a atenção do leitor no livro.
Solomon Kane | A Chama Azul da Vingança
Solomon Kane, finalmente de volta à Inglaterra, se depara com uma disputa pessoal entre dois cavalheiros. De um lado, um jovem que teve sua esposa insultada pelo nobre, e do outro, um nobre sem escrúpulos, que tenta tomar a moça como um troféu.
Em certo momento, o caminho de ambos se cruza, quando o nobre sequestra a moça para enfim obter a vingança contra o jovem, ao mesmo tempo que Kane busca este mesmo nobre por suspeitar de seu envolvimento com um pirata que, há tempos atrás, havia se tornado inimigo mortal de Kane. Juntos, Kane e o jovem tentarão resgatar a moça e ao mesmo tempo enfrentar os perigos que esse pirata trouxe para a vida de Kane.
Ultimo conto da saga de Solomon Kane, Howard nos tira de seu costumeiro mundo de fantasia sombria e terror e nos mostra que pode escrever um conto sem utilizar desses meios para manter a qualidade de sua obra. Os únicos inimigos aqui são piratas e um nobre, e tudo dependerá da habilidade quase sobrenatural de luta de Kane, e também das habilidades do jovem.
Fechando a antologia, traz o sentimento de que, após tanto sobrenatural, o natural pode ser uma boa escolha como tema.
Solomon Kane | Cartas e Apêndice
No livro, a Generale incluiu duas cartas e um apêndice falando sobre o filme hollywoodiano de Solomon Kane. A primeira carta foi escrita pelo pai de Howard e endereçada a H.P. Lovecraft, relatando a este o suicídio de Howard. Não consigo colocar em palavras como essa carta é carregada de sentimento, e muito emocionante também.
Tanto que prefiro não falar dela, apenas mencionar para atiçar a curiosidade do leitor. Já a segunda é tranquila, pois é uma correspondência entre Howard e August Derleth, fundador da Arkham House, primeira editora a publicar livros de Lovecraft.
E por ultimo, encerrando o livro, uma pequena resenha do filme de Solomon Kane. Confesso que não tinha interesse em assistir, e após essa resenha do livro, abandonei qualquer esperança de perder tempo assistindo a esse filme, que segue uma história criada por outra pessoa, não por Howard. Há também menção de um curta, disponível na internet, baseado em um poema que Howard escreveu sobre Kane.
Solomon Kane | Consideração Final
Finalizando então esta resenha, que, confesso, ficou extremamente longa (e peço perdão), deixo aqui minha opinião. Antes de Tolkien, a fantasia já estava presente. Tolkien pode ser o pai da Alta Fantasia, ou High Fantasy, mas antes de Tolkien escrever Senhor dos Anéis ou O Hobbit, Howard já trazia ao mundo Solomon Kane e Conan.
Em minha opinião, Howard é subestimado pelo público, e merecia mais atenção por parte dos fãs de fantasia. Um autor brilhante, que trouxe uma fantasia sombria e tenebrosa ao mundo, servindo de inspiração para inúmeros outros autores que hoje são best-seller mas que não existiriam sem Howard, Lovecraft, Machen, Poe e tantos outros.
Qualidade física perfeita, capa muito linda e revisão impecável, a Generale apresenta um produto lindo para um conteúdo brilhante. Ostento hoje esta obra importante para a fantasia em minha estante com muito orgulho e devido à grande amizade que o Ponto Zero possui com essa excelente editora. Muito obrigado amigos, e obrigado à você leitor por ter acompanhado até aqui.
Solomon Kane | Links
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Solomon Kane | Informações Técnicas
- ISBN: 9788563993571
- Ano: 2015
- Páginas: 256
- Idioma: português
- Editora: Generale
- Formato: 16x23cm
- Encadernação Brochura
Solomon Kane | Sinopse
Solomon Kane: A Saga Completa é uma obra na qual o leitor terá oportunidade de conhecer diversas aventuras de Solomon Kane, o famoso puritano inglês. Histórias repletas de fantasia, seres demoníacos e misteriosos, além de batalhas épicas.
Após o lançamento de Conan, o bárbaro, a Generale traz para o público brasileiro uma coletânea de contos de Robert E. Howard sobre Solomon Kane. Neste livro, são também publicadas cartas do arquivo pessoal do autor, incluindo a correspondência enviada por seu pai a H. P. Lovecraft, um tocante relato sobre o suicídio de Howard.
Conheça as histórias que inspiraram grandes autores e roteiristas e que serviram de base para o filme Solomon Kane – o caçador de demônios. Leitura obrigatória para fãs de leitura de fantasia e do gênero espada e feitiçaria.
Solomon Kane | Sobre o Autor
Robert Ervin Howard é considerado um dos escritores mais brilhantes de sua geração, tendo criado dezenas de personagens conhecidos e sendo o pai indiscutível do gênero “espada e feitiçaria”.
Ao longo de sua carreira curta, porém prolífica, Howard escreveu histórias de aventura, terror, faroeste, ficção científica e erotismo, além de detetivescas, entre outras, mas foi com Conan, o bárbaro que seu nome se imortalizou.
Lançados originalmente em revistas “pulps” norte-americanas, as histórias de Howard foram republicadas incontáveis vezes em mais de uma centena de países em todo mundo e hoje são consideradas um marco para a literatura fantástica, servindo de inspiração para os mais diversos escritores, desde J. R. R. Tolkien até George R. Martin.
Sobre o Autor
Um leitor assíduo da fantasia e do terror, vem descobrindo aos poucos as maravilhas da Ficção Científica e dos Romances Históricos. Crítico e perfeccionista, procura falhas até nos livros mais perfeitos. Nas horas vagas escuta Heavy Metal e lê ainda mais.