Into The Badlands é a nova aposta do canal AMC (responsável por sucessos como The Walking Dead, Mad Man e Breaking Bad). A série estreou no dia 15 de novembro de 2015 nos EUA e no Brasil no dia 16 do mesmo mês. Com apelo forte de uma grande campanha de marketing, tornou-se a série estreante de maior audiência em sua premiere na fall season 2015.
[dropcap size=small]A[/dropcap]tingindo o número de 6,9 milhões de espectadores no seu lançamento, um formato de 06 episódios ágeis e uma premissa no mínimo inusitada dentre as séries atuais, Into The Badlands surpreende, agrada e garante sua segunda temporada prevista para 2017.
Atenção, o texto a seguir é um panorama da primeira temporada e contém relatos sobre fatos importantes do seriado, por tanto cuidado, há SPOILERS ao longo do texto
Into The Badlands | Uma grande colagem
Ultraviolência, filmes setentistas de artes marciais, steampunk, seres superpoderosos, que podem ser criaturas místicas, sci-fi, inspirações em mangás, uma terra prometida, um grande mistério, tudo parece caber em Into The Badlands.
Into The Badlands se baseia no livro The Journey to the West, a lenda de “Jornada ao Oeste” que conta a jornada do monge Xuanzang para a Índia, em busca de escrituras sagradas do budismo, a história vislumbra a lenda chinesa de Sun Wukong (Rei Macaco).
Jornada ao Oeste é o Relato que narra uma peregrinação espiritual com toques de um épico histórico, a lenda do Rei Macaco é um dos mais populares clássicos da literatura chinesa. Registrada pelo escritor chinês Wu Chengen no século dezesseis, nela é contada a saga do Macaco e seus inusitados encontros com os mais variados personagens em suas andanças.
Akira Toriyama inicialmente queria que seu mangá Dragon Ball fosse uma releitura moderna do conto, porem declinou desta premissa, contudo Son Goku guardou características do Rei Macaco da lenda chinesa.
Com esta poderosa inspiração Into The Badlands é ambientada num futuro onde as armas de fogo foram banidas o que proporciona de imediato um cenário propício para que a obra adote para este universo o uso de espadas e todo tipo de armas brancas como instrumentos de combate vigentes levando a mesma a um conceito no melhor estilo samurais e ninjas para seus guerreiros “pós-apocalípticos”.
Sunny (Daniel Wu) que tem o cargo de Regente é um lendário e temido servo do Barão Quinn (Marton Csokas), cada vida ceifada é marcada com uma tatuagem no corpo do letal guerreiro, ele comanda o exército de Clippers de Quinn.
Neste universo distópico e ateu a geopolítica é composta por um sistema de sete feudos onde os barões controlam suas terras e cada um produz algum tipo de manufatura que é importante para o sistema vigente criando uma interdependência entre os feudos, as relações de trabalho vistas na série ressaltam também mais uma das subtramas esboçadas na mesma, a escravidão.
O Barão Quinn é o mais poderoso de todos, cultivando papoulas em suas propriedades para produção de drogas, que abastecem as Terras Selvagens, governado com mão de ferro seu clã, disposto a tudo para manter sua soberania diante dos demais barões, mesmo que para isso precise acabar com o frágil tratado de paz instituídos nos baronatos.
Bem-vindo às Terras Selvagens
Sunny ao desempenhar uma de suas missões de rotina no primeiro episódio, esbarra com um grupo de nômades que tem um menino como refém dentro de uma caixa, M.K. (Aramis Knight), a cena de luta mostra logo o potencial da série, o espectador é convidado a ver um espetáculo composto por coreografias inspiradas e vigorosas, com direito a wire fu, ultraviolência, muito sangue e membros cortados, o exagero é o tom destes combates, mas uma marca registrada do gênero que se inspirou.
M.K. será o alvo da cobiça de diversos personagens da trama, já que suas habilidades podem desequilibrar as relações de poder entre os baronatos. Um destes é a deslumbrante Viúva/Minerva (Emily Beecham), uma mulher que conquistou o título de Baronesa ao matar seu marido, sendo assim contestado seu título pelos demais barões.
Minerva e suas ações e discurso transbordam empoderamento feminino, sendo mais um dos subtextos da trama, onde seu clã convenientemente é constituído de mulheres guerreiras, suas protegidas se assemelham a ninjas. Mesmo no futuro, parece que alguns dilemas nunca mudam, contudo elas vão conquistar seu espaço e vergar o status quo de forma bem contundente.
A Viúva sem duvida alguma é uma das personagens mais carismáticas da trama de Into The Badlands. Como todos os demais personagens, Minerva traz algo em sua jornada envolto em mistério, um elemento que fica sugerido em um dos episódios e que tem ligação direta com os poderes de M.K, assim como Sunny e seu obscuro passado, os mistérios parecem levar a respostas que só serão encontradas além das Terras Selvagens, gancho mais que propicio para uma bem-vinda segunda temporada.
Os demais personagens chaves são Ryder (Oliver Stark) O filho do Barão Quinn, é um dos principais articuladores das tramas e traições que correm soltas pelas sombras das Terras Selvagens nesta primeira temporada, seu combustível é alimentado por ser preterido por Sunny, aliado ao ódio mortal de sua mãe Lydia (Orla Brady), que tem que lidar com as amantes do Barão e agora sua nova esposa Jade (Sarah Bolger) personagem de visual doce e angelical que no entanto mostra-se bem articulada e letal, aliás algo recorrente na série, ninguém é o que parece ser e todos são letais a sua maneira.
Temos também Veil (Madeleine Mantock) médica do vilarejo e que mantem um romance proibido com Sunny, já que o Regente tem que seguir códigos severos o que vai conflitar com a revelação de gravidez de Veil, algo punido com a morte segundo as normas vigentes!
Tilda (Ally Ioannides) completa o time principal, ela faz parte do clã da Viúva, é uma talentosa guerreira que acaba formando um vínculo com M.K. ao encontra-lo em fuga pelas propriedades da Baronesa Minerva, relação que pode render conflitos diante da lealdade que deve a Viúva…
No geral o elenco mostra-se eficiente para a proposta corrida e sem aprofundamento do roteiro da série, com destaques para Emilly Beecham e Daniel Wu.
Into The Badlands | Um convite ao olhar
A série se destaca pelo apuradíssimo visual, além de cenas belíssimas, como a da abertura do primeiro episódio quando Sunny cruza em sua motocicleta os campos de papoulas. Temos também um figurino refinado com indumentárias que nos remetem as mais variadas referencias, principalmente ao estilo steampunk.
Esta mistura de estilos se reflete em toda a obra, como o casarão de Quinn com arquitetura das fazendas sulistas da Guerra da Secessão norte-americana. Temos vilarejos saídos diretamente de antigos filmes de faroeste, tudo bem articulado com a trama, que se percebermos apresenta poucos cenários, porém que funcionam perfeitamente dentro do micro universo das Terras Selvagens e dos baronatos.
Esta profusão de estilos e mesmo as oscilações de qualidade do roteiro e o pouco aprofundamento do mesmo conseguem um ponto de equilíbrio e funcionam bem com a atmosfera proposta pela série que mostra-se sofisticada principalmente no que se refere a sua belíssima fotografia, de tons vividos e chamativos, destacando com exuberância o tom vermelho, sempre presente em detalhes durante várias cenas e a saturação dourada que permeia a obra.
Na outra ponta do espectro temos momentos mais simples onde o roteiro proporciona de forma eficiente o fio condutor para a temática base da série, suas fantásticas e viscerais lutas, regadas com muito sangue, belas coreografias, membros decepados, cabeças rolando e golpes improváveis de um ser humano normal suportar, mas como o exagero é o catalisador de tudo isso, fica o convite ao escapismo.
Talvez o único senão desta primeira temporada foi ficar devendo um embate entre Sunny e Quinn, algo recorrente para o ator Marton Csokas, que interpreta caras durões, mas na hora do desfecho não mostram a que vieram, vide O Protetor com Denzel Washington outro momento frustrante.
Destaque para bela abertura que lembram o estilo adotado por Frank Miller em Sin City, utilizando alto contraste que rendem belas imagens.
Miles Millar e Alfred Gough são os responsáveis pela criação de Into The Badlands (os mesmos de Smallville, Eu Sou o Número Quatro, The Shannara Chronicles), na produção também temos os vencedores do Oscar Michael Shamberg e Stacy Sher ( Django Livre e Contágio).
Into The Badlands sai da curva do que se oferece atualmente em séries de TV, principalmente para os amantes de artes marciais, cujo gênero não tinha uma produção descente faz tempo na telinha. Um produto eficiente e certeiro como os golpes desferidos por Sunny em suas batalhas.
Então venha para as Terras Selvagens.
Into The Badlands | Abertura
https://www.youtube.com/watch?v=eAncQkUzhhs
Into The Badlands | Trailer
https://www.youtube.com/watch?v=eB9dABjwa9o
Sobre o Autor
É Bacharel em Psicologia, porém optou por sua grande paixão trabalhando como ilustrador e quadrinhista. É sócio do Pencil Blue Studio e Ponto Zero, podendo assim viver e falar do que gosta: quadrinhos, cinema, séries de TV e literatura.