Poucas vezes fui com tanta sede ao pote, ou, no caso, com tanto hype ao livro que o gerou. Com tanta propaganda sendo feita, alardeando uma disputa de criaturas monstruosas, as tais abominações, contra vikings sanguinários, promessas de banhos de sangue (inclusive com as laterais do livro estampadas com gotas avermelhadas, parecendo esguichos de sangue), me veio a primeira decepção do ano. Não que o livro seja ruim ou mal escrito, apenas entregou algo que não estava programado. Veremos o por que disso.
Abominação | Até o momento, tudo certo…
No início de Abominação, conhecemos o rei de Wessex, Alfredo. Em sua luta desenfreada contra a dominação dos vikings, que já conseguiram avançar por grande parte do território da Inglaterra, Alfredo se vê desesperado ao ponto de firmar um acordo com Guthrum, chefe dos Nórdicos, acordo esse que garantiria uma extensa parte do reino para os Vikings, de maneira que haveria trégua. Porém, Guthrum já não anda bem, e sua morte se avizinha.
É nesse momento que surge uma solução, apesar de que a contra gosto de Alfredo: em meio aos destroços de Londres, arrasada pelos Vikings, pergaminhos muito antigos são encontrados e levados à Aethelred. Aethelred é o Arcebispo da Cantuária, e começa a ler os pergaminhos, não tardando a perceber que os textos nada mais eram que magia negra.
Praticando os rituais, Aethelred consegue realizar o ritual, que se mostra uma magia que consegue transformar qualquer ser vivo em uma abominação monstruosa, destruindo o antigo corpo do ser e matando-o. Conforme avança em seus experimentos, Aethelred nota que, mudando pequenas pronúncias, pode dar a forma que quiser e, inclusive, domar as abominações, fazendo com que elas ataquem somente o que seu mestre desejar.
Alfredo, a contra gosto, dá passe livre para Aethelred praticar a magia em animais, prevendo que o confronto com os Vikings poderia ser resolvido sem mortes de soldados, mas logo Aethelred sonha mais, e começa a praticar em humanos, prisioneiros de guerra da Inglaterra.
Alfredo não se conforma com tamanha atrocidade e ordena a prisão de Aethelred, porem se esquece que o Arcebispo é o único que conhece todos os segredos do ritual, e não demora nada para que o Arcebispo fuja, começando a transformar pessoas de todos os povoados em seu caminho. Aethelred percebe que alguém dará muito valor pelas suas habilidades: os Vikings. Parte então rumo à fronteira para se aliar aos Nórdicos.
Desesperado, Alfredo convoca Wulfric. Wulfric é um cavaleiro que, quando pequeno, pensava em se juntar ao Clero, por repudiar a matança da guerra, mas se viu forçado a lutar e, logo, percebeu que possuía um talento nato para a arte da guerra, o que o revolta muito.
Em certo momento, Wulfric acaba salvando o próprio Alfredo, que acabou exposto em uma batalha e era alvo de muitos guerreiros.
Após isso, Wulfric foi feito Cavaleiro, tendo direito a terras e um brasão. Ele então escolhe o escaravelho, em homenagem a uma brincadeira que fazia com seu pai quando criança, e decide viver em um povoado, longe da civilização, com sua mulher grávida e com suas plantações. Uma vida totalmente simples, que muito lhe agrada.
Com a convocação de Alfredo, Wulfric se vê, mais uma vez, obrigado a lutar. Reunindo homens de confiança, como seu grande amigo Edgard e outros veteranos de guerra, partem em busca de Aethelred, logo o encontrando e derrotando grande parte das abominações. Aethelred se vê enfraquecido, e se recolhe a uma basílica, onde logo se arma um cerco a mando de Wulfric.
Em determinado momento, Wulfric ordena a invasão da basílica, vindo a enfrentar pouca resistência, mas confrontando Aethelred, que pronuncia uma magia irreconhecível para Wulfric, queimando o peito do cavaleiro com o símbolo do escaravelho.
Findado o confronto, muitas abominações acabam escapando, se espalhando pelo reino. É criada então uma Ordem, comandada por Edgard. Wulfric, estranhando a magia que Aethelred havia usado, decide não caçar as abominações, mas sim retornar para seu lar e para sua esposa que, àquela altura, já teria dado à luz a seu filho.
Naquela noite, Wulfric sonha que se tornava uma abominação, um ser sem qualquer consciência e que, por instinto, só pensa em matar. Nesse sonho, se vê no corpo da abominação que devastava todo o povoado que Wulfric reside, mas consegue acordar antes que a abominação chegue à casa dele. Ao acordar, se vê em meio a muitas cinzas, completamente nu e muito longe de casa.
Na cidade, devastação total. Corpos mutilados por todos os lados, mas o pior pesadelo estava em sua casa. Wulfric havia sido amaldiçoado a se tornar uma abominação todas as noites.
Abominação | Uau, que história. Mas continua boa?
Aí que está o ponto. Abominação deixa de ser aquele livro prometido, com muito gore, matança, guerras e mais guerras, para dar lugar ao drama sentimental. Dando-se conta da barbaridade que havia feito quando transformado em Abominação, Wulfric foge, e voltamos a acompanhar sua história 15 anos depois. Nesse tempo todo, Wulfric tentou de tudo para domar a fera que se transformava a noite.
Por vezes tinha plena consciência do que a fera fazia, em uma espécie de divisão de consciência, mas não conseguia influenciar. Em outras, apenas desmaiava ao por do sol e acordava com o sol nascendo. Nesse tempo, muitas pessoas morreram pelas garras da abominação, até que, em certo momento, Wulfric passa a amarrar a si mesmo e, consequentemente, a abominação com correntes.
As duas primeiras vezes falham pela finura da corrente, mas na terceira vez, após arranjar uma corrente muito grossa e pesada, a abominação consegue ser retida ao ficar acorrentada em grossas árvores. Essa então vira a rotina de Wulfric.
Andar por aí carregando uma enorme, grossa e pesada corrente, à procura de comida e sobrevivência, enquanto a noite se acorrentava e esperava a transformação.
Algo irrompeu da barriga do porco, o sangue espirrando pelo chão. Vários expectadores berraram, apavorados, e aqueles que estavam mais próximos se afastaram, nauseados quando outra excrescência brotou do corpo do porco, em seguida outra, cada uma brilhando com o sangue escuro e viscoso enquanto se desdobrava e tomava forma”.
Em determinado momento, Wulfric busca um ferreiro em um povoado, pois um elo da corrente havia se partido e permitira a fuga da abominação. Nesse povoado, é encurralado por bandidos, que veem naquele homem esfarrapado uma potencial vítima pelo monte de ferro que carrega.
Wulfric é salvo por uma jovem, Indra, que habilmente surra todos os bandidos, mas, quando a luta termina, percebe que Wulfric havia fugido. Wulfric havia feito um juramento de nunca mais machucar ninguém, e teria permitido a violência que sofreria sem resistência nenhuma.
Indra é uma adolescente, com 18 anos, filha do chefe da Ordem, e está em busca de uma abominação que, quando morta pelas mãos do guerreiro, pode se tornar, efetivamente, membro da ordem.
Seu pai, Edgard, relutou muito em deixa-la partir na caçada, mas permite quando Indra leva Venator, falcão extremamente leal e, por vezes, mortal. Indra houve rumores de que uma abominação andava por aqueles lados do reino, e partiu para caçá-la, sem saber que a abominação na verdade era um humano.
Nesse ponto, Wulfric e Indra irão se conhecer, e será questão de tempo até o passado de Wulfric voltar à tona, visto que seu melhor amigo, Edgard, é o pai de Indra.
Abominação | Avaliação
Por que me decepcionei, então? Por que em nenhum momento foi prometido esse drama que a vida de Wulfric iria se tornar. Confesso que fui com entusiasmo para a leitura dessa obra, esperando algo ainda melhor sobre vikings do que a série de Bernard Cornwell, Crônicas Saxônicas, já é.
Na primeira parte do livro, tudo vai às mil maravilhas, cumprindo com o prometido e esperado, porém se desenrolando muito rápido. Mas a segunda parte desanima, a tal ponto que tive de lutar para concluir a leitura. Não era isso que queria ler nessa obra, mas foi isso que o autor escreveu. Teria abandonado a leitura, mas me forcei para trazer a análise para o site, afinal o livro foi um presente da própria Darkside.
Corro o risco de ganhar alguma inimizade com a editora através dessa resenha, mas antes de mais nada preciso ser leal ao princípio do PZ, que é trazer a análise criteriosa e honesta.
A obra não é ruim, nem foi mal escrita. Os pontos fortes dela, que eu destaco, são justamente as descrições sangrentas que existem, tanto na primeira quanto, inclusive, na segunda parte. Não me aprofundarei sobre como e quais são essas descrições, pois realmente quero que você, leitor, leia essa obra.
O ponto fraco fica sendo a virada inesperada da premissa da obra, que faz Abominação passar de um romance histórico fantástico para um drama fantasioso.
Mas se eu digo que me decepcionei, por que ainda digo que quero que o livro seja lido? Primeiro que uma simples análise não muda o desejo da pessoa de ler ou não. E segundo porque a obra não é nada ruim para aquele que vai preparado.
Eu relutei em ler porque me decepcionei, apenas. A segunda parte é curiosa, afinal logo o passado de Wulfric irá bater na porta, e Indra é uma personagem encantadora, uma mulher forte e guerreira que não mede esforços. Vale sim a pena ser lido, apenas quero alertar que você não vai encontrar vikings nesse livro – pois é, não há aparição de vikings na obra.
Eles só são mencionados, nada mais. Além, claro, que as lutas contra as abominações duram só uma parte do livro. As lutas da segunda parte pertencem unicamente a Wulfric, internamente.
Qualidade física e gráfica primorosa, Darkside mais uma vez caprichando na qualidade do design, mas deixando passar alguns erros de revisão. Não sei por que a editora encheu o livro com os nós ao estilo nórdico, afinal, como disse antes, não tem viking aparecendo na obra, mas pelo menos ficou bonito. O charme a mais que os respingos de sangue nas laterais trazem são inegáveis, para mim uma novidade. Tudo, como sempre, perfeito aqui.
Então, leitor, fica aqui minha dica. Não vá com sede ao pote, mas aprecie o livro, pois ele é bom sim. Foi escrito por alguém que entende do assunto, já que Whitta escreveu vários roteiros para Hollywood, e possui dois personagens fascinantes. Indra um pouco mais, já que o drama de Wulfric, por vezes, se torna cansativo.
Logo teremos mais uma resenha da Darkside, dessa vez de Diário de Uma Escrava, de Rô Mierling, em parceria com a autora. Até logo
Abominação | Sinopse
O primeiro romance de Gary Whitta, também autor do aclamado Star Wars: Rogue One, é uma aventura para os leitores mais valentes. Whitta transforma o gore em momentos de grande beleza. Abominação é uma mistura épica entre fantasia histórica, ficção científica e a magia da cultura nórdica.
A era medieval é muito mais conhecida por seus mistérios do que por seus registros históricos. Talvez seja melhor assim.Há quem acredite que estaremos mais seguros enquanto não soubermos de toda a verdade.
Mas quem disse que as lendas não podem ser mais reais do que você imagina? Abominação reconta um dos capítulos mais sangrentos da história da Inglaterra: as invasões vikings do século IX. Apresentando personagens e batalhas reais, sua narrativa vai muito além do que poderíamos encontrar nos livros de história. Com influências de Lovecraft a Game ofThrones, vem sendo recebido mundo afora como um novo clássico para fãs do gênero.
O reino de Wessex foi o único da Inglaterra que escapou dos invasores nórdicos. Seu rei, Alfredo, negocia um acordo com os bárbaros do Mar do Norte, mesmo sabendo que eles não são adeptos da paz. É preciso estar preparado, a guerra pode recomeçar a qualquer momento. O arcebispo da Cantuária oferece proteção ao reino, através de feitiços descobertos por ele em velhos pergaminhos. O rei só não poderia imaginar que a magia seria ainda mais perigosa que os próprios vikings.
Abominação | Sobre o autor
Gary Whitta é um nerd profissional. Foi editor-chefe da PC Gamer e roteirista de jogos como The WalkingDead: The Game e Halo 5: The Guardians. Fã confesso de Tolkien, é um dos criadores do enredo de Rogue One: Uma História Star Wars.
Escreveu os roteiros de O Livro de Eli, Depois da Terra e da série de animação Star Wars Rebels. Fez figuração como “zumbi de pijama” na primeira temporada de The WalkingDead. ABOMINAÇÃO é seu primeiro romance.
Abominação | Links:
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Abominação | Dados Técnicos
- Título | Abominação
- Autor | Gary Whitta
- Tradutor | PetêRissatti
- Editora | DarkSide®
- Edição | 1a
- Idioma | Português
- Especificações | 320 páginas, LimitedEdition (capa dura)
- Dimensões | 16 x 23 cm
- ISBN | 978-85-66636-79-6
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Abominação, de Gary Whitta
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Sobre o Autor
Um leitor assíduo da fantasia e do terror, vem descobrindo aos poucos as maravilhas da Ficção Científica e dos Romances Históricos. Crítico e perfeccionista, procura falhas até nos livros mais perfeitos. Nas horas vagas escuta Heavy Metal e lê ainda mais.