HOMEM-ARANHA: DE VOLTA AO LAR (Spider-Man: Homecoming, 2017. Direção: Jon Watts. Roteiro: Jonathan M. Goldstein & John Francis Daley, Jon Watts & Christopher Ford e Chris McKenna & Erik Sommers. Elenco: Tom Holland, Michael Keaton, Jacob Batalon, Zendaya, Marisa Tomei, Robert Downey, Jr.)
Homem-Aranha: De Volta ao Lar começa a fazer as suas referências desde o seu subtítulo. “De Volta ao Lar” é uma tradução livre pra fazer os fãs brasileiros entenderem o termo “Homecoming”, o subtítulo original do filme, que faz referência a um dos arcos mais famosos do Homem-Aranha nos quadrinhos – o Homecoming, obviamente.
Alguns outros preferem ver que o subtítulo faz uma conexão direta com o retorno de Peter Parker para sua casa no bairro do Queens, em Nova York, após os eventos de Capitão América: Guerra Civil – onde, por sinal, ele deu um show. Mas eu prefiro ver que o termo “De Volta ao Lar” faz referência a algo que os fãs esperavam há muito tempo: o retorno do Homem-Aranha para as mãos da Marvel.
Os direitos cinematográficos do Homem-Aranha estão nas mãos da Sony Pictures há anos, e sempre trabalhou com o Cabeça-de-Teia em um universo à parte. Mas em 2014, o jogo virou, e um acordo entre a Sony e o Marvel Studios gerou um reboot do Homem-Aranha, trazendoo ao extenso Universo Cinematográfico da Marvel.
E depois da sua entrada triunfal em Capitão América: Guerra Civil, o novo Homem-Aranha, interpretado por Tom Holland, volta pra casa, para retomar a sua vida normal após os eventos da Guerra Civil, conciliando – obviamente – com a empolgante vida de super-herói, sob a mentoria de Tony Stark – ou Homem de Ferro -, mesmo que Stark não queira que Parker se meta em problemas.
E tudo corre bem, até Parker cruzar com a gangue do infame criminoso Adrian Toomes, que executa roubos e operações junto dos seus capangas, Tinkerer e os Shockers, todos com apetrechos alienígenas altamente tecnológicos – heranças dos Chitauri deixadas em Nova York durante os eventos de Os Vingadores, o primeiro crossover do MCU. Toomes, o líder desse conluio, é bastante determinado, e está disposto a tudo para manter seu “negócio” fluindo.
Com isso, Parker vê a oportunidade de mostrar que é capaz de ser um Vingador, e inicia uma caçada a Toomes e sua gangue para acabar com seu esquema.
De Volta ao Lar pula uma parte muito enfatizada nas últimas franquias do Aranha: a origem do personagem não é mostrada, e Peter Parker já aparece completamente em ação, como na Guerra Civil.
Kevin Feige, o presidente do Marvel Studios, e Jon Watts, o diretor desse filme, trabalharam em cima desse ponto de partida, e construíram, com sucesso, um filme solo de estreia que não depende de qualquer história de origem pra funcionar.
Pelo contrário: De Volta ao Lar sequer parece que é um filme solo de estreia. Em parte, a estreia do Homem-Aranha na Guerra Civil ajudou. Mas a forma com a qual Watts conduziu o filme e o roteiro – que também teve sua participação – fazem o filme parecer parte de uma série, com Parker enfrentando vilões e lidando com seus relacionamentos como parte do seu dia-a-dia. De Volta ao Lar funciona como mais um episódio da série do seu amigão da vizinhança, e é muito agradável de ver tudo isso.
Além disso, De Volta ao Lar cumpriu com o que prometeu: parece – e muito – um filme adolescente dos anos 80 – até faz uma referência explícita ao clássico Curtindo a Vida Adoidado, um desses filmes.
Cheio de histórias sobre a adolescência, sobre bullying, romances adolescentes e tudo mais, temos a sensação, várias vezes, de que o filme é uma comédia ou um drama jovem sobre a vida de Peter Parker, e até esquecemos que se trata de um filme de super-herói do Homem-Aranha – o que pode não parecer, mas é muito legal.
É muito divertido de assistir a produção – especialmente pela presença cômica de Jon Favreau como Happy Hogan, e de Jacob Batalon como Ned, as duas fontes de humor do filme, que funcionam muito bem.
Até a presença de Robert Downey, Jr. como o Vingador Dourado, com suas piadinhas características do personagem, foi legal de assistir. Saber que, na estreia de um “garoto” nesse imenso universo, tem um veterano daqueles que já sabe como jogar esse jogo, dá um conforto de que vai dar certo. E o Homem de Ferro nem apareceu tanto assim, como todo mundo achou que seria, por causa dos pôsteres e trailers: a participação de Stark no filme foi bem especial mesmo, no tamanho certo.
“Ah, isso quer dizer que todo mundo é engraçadinho nesse filme? Até o vilão?”. Absolutamente não.
O principal vilão do filme, Adrian Toomes, é o alter-ego do Abutre, um dos mais famosos vilões do Homem-Aranha. O Marvel Studios escolheu o vilão para ser o primeiro obstáculo do Aranha nos cinemas. Seu
intérprete é o icônico Michael Keaton, que está acostumado a trabalhar em filmes de super-heróis (seja como o Batman ou como o Birdman – que podem até ser o mesmo herói, se pararmos pra pensar).
E, se me permitem dizer, Michael Keaton mostra que não veio pra brincar. Com uma presença ameaçadora, motivações mais realistas e um tom amedrontador, desde a primeira cena do filme, ele constrói o Abutre ideal, à altura do emergente Homem-Aranha. O vilão “pé no chão” e sem um pingo de megalomania é o que o herói “da vizinhança” precisa em seu filme de estreia.
E falando em Homem-Aranha: que Homem-Aranha, meus amigos!
Tom Holland chegou do nada e mostrou o que é ser um Homem-Aranha quando ninguém acreditava no seu potencial. Holland nos entrega um Aranha e seu alter ego Peter Parker totalmente diferentes dos que vimos anteriormente: é o jovem Aranha dos quadrinhos MESMO.
Extremamente inteligente e habilidoso, mas cheio de problemas e inseguranças, com muita imaturidade, combinados com muitos poderes, a vontade de fazer melhor, de ser melhor, e a necessidade de ter responsabilidade, Holland encarna o Peter Parker original que encantou o mundo, desde a sua estreia nos quadrinhos até hoje.
Sem nenhum clubismo, ele é o melhor Peter Parker/Homem-Aranha – vocês são legais e eu adoro vocês, Tobey Maguire e Andrew Garfield, mas esse cara é O CARA. Sem quaisquer trocadilhos, ele é o próprio Cabeça-de-Teia.
E como se tudo isso não estivesse funcionando bem demais, De Volta ao Lar tem uma quantidade enorme de referências, especialmente ao próprio MCU – principalmente ao Aracnoverso recém-integrado à vasta Marvel nos cinemas –, algumas bem subentendidas mesmo – como o personagem de Michael Mando e uma de suas falas no filme –, e outras bem explícitas – como a presença de Donald Glover, que interpreta Aaron Davis, o Gatuno, que é tio de um certo alguém bem querido pelos fãs do Aranha.
Aos moldes do filme solo de estreia do Homem-Formiga, em Homem-Aranha: De Volta ao Lar, sentimos que o filme está dentro do MCU, mas não está – sem destruições de proporções épicas – do jeito que o Capitão América gosta -, sem vilões que querem dominar o mundo – como o irmão adotivo do Thor -, com um garoto igual a qualquer um de nós, gente como a gente, que tem que defender a sua cidade e voltar cedo pra fazer o dever de casa, antes que a sua tia fique muito preocupada – e Marisa Tomei tem motivos pra se preocupar.
Uma entrada triunfal nesse universo consolidado, seguida por um filme solo genial que nos deixou querendo muito mais. Do que mais esse moleque precisa? Estávamos muito ansiosos pra finalmente dizer: seja bem-vindo de volta ao seu lar, Homem-Aranha.
P.S.: durante a vinheta do Marvel Studios, no início do filme, toca uma música diferente da que costuma tocar nos outros filmes. Michael Giacchino pegou a clássica trilha sonora do Homem-Aranha e deu uma nova roupagem pra ela, com a mesma base emocionante da trilha original do herói. É de arrepiar.
Trailer | Homem-Aranha: De Volta ao Lar
Homem-Aranha: De Volta ao Lar
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Sobre o Autor
Um ajudante de super-herói perdido em Tatooine, com várias pedras de metanfetamina.