Mulher-Maravilha, o filme, é sem dúvida alguma o equivalente do Superman de 1978 para os tempos atuais. Heroísmo, força, altruísmo, coragem e nenhuma dúvida do papel que o super-herói deve desempenhar em nosso mundo.
E quando falo super-herói, estou falando do conceito mais amplo e abrangente possível, falo do gênero criado em 1938 com o lançamento da HQ Action Comics #1, na qual debutou o já referido Superman, criado pela dupla Jerry Siegel e Joe Shuster.
Preciosismos a parte, é necessário voltar no tempo e dar furtivas espiadas nessa brecha do tempo.
O Superman de Siegel e Shuster tinha uma miríade de influências que os dois jovens descendentes de judeus trouxeram como bagagem pra seu personagem: revistas pulp, revistas dos primórdios da sci-fi, revistas de terror de gosto duvidoso, influências da perspectiva judaica do Messias e claro, todo o contexto americano pós-depressão e pré-entrada americana na segunda grande guerra mundial.
Seu herói não tinha ainda tantos dos poderes que hoje exibe por aí, sobretudo o voo, pois na ocasião de sua estreia, tal qual o John Carter de Edgar Rice Burroughs, o Superman dava grandes saltos para cobrir as distâncias necessárias.
Mas ali já estava sua super-força, sua resistência sobre-humana aos tiros e golpes dos inimigos, em sua maioria bandidos urbanos como gangsters e ladrões.
Nessa ocasião o que Siegel e Shuster queriam mostrar era o ideal humano de combate ao mau também humano, um exemplo de força capaz de intimidar os valentões e encorajar os oprimidos. Balas, facas e socos não seriam suficientes para intimidar o punho forte da justiça guiado por um super-homem sem medos, sem amarras e impetuoso.
Seu visual, inspirado em várias frentes, a começar pelo halterofilista Charles Atlas de um lado e pelo visual dos heróis e deuses gregos de outra era como o Hércules por exemplo; uma clara antítese entre o Superman e seus franzinos e tímidos criadores.
A fantasia como forma de escapismo e diversão guiou os voos do primeiro personagem das HQs e o grande inaugurador do gênero dos super-heróis nas comics americanas. Nascia assim a Era de Ouro, e muitos outros seguiram o caminho aberto pelo Superman.
Mulher-Maravilha | Nasce uma deusa
Considerada um dos maiores ícones da cultura pop em geral, a Mulher-Maravilha foi criada pelo psicólogo William Moulton Marston (também criador do polígrafo ou detector de mentiras) durante a Segunda Guerra Mundial como uma clara reação ao excesso de super-heróis do sexo masculino tomando de ponta a ponta a jovem indústria das HQs americanas.
Marston vislumbrou ali, naquela ausência feminina, um oportunidade de ouro para preencher a lacuna deixada por roteiristas e desenhistas como Shuster e Sigel, cujo grande objetivo com suas obras era materializar a catarse de seus próprios anseios juvenis, além, lógico, de fazer sucesso com o que gostavam.
Por sí só Marston é uma figura interessante e adiante do seu tempo. Marston tinha uma relação poligâmica aberta com sua esposa Elizabeth Holloway Marston e a jovem Olive Byrne (sobrinha da polêmica Margaret Sanger), ambas fundamentais para a criação da princesa amazona, sendo a Senhora Marston (a oficial), muitas das vezes creditada como cocriadora da personagem.
Erudito, Marston também era um apoiador das causas femininas e incentivador do progresso da mulher na sociedade (igualdade, direito aos estudos e direito ao voto feminino, por exemplo), inclusive pregando que as mulheres não só eram iguais aos homens na sociedade, eram superiores e mais honestas (sua esposa Elizabeth possuía três diplomas de nível superior).
As questões acerca da criação da personagem acabaram por tornar um tanto controversa sua posição como grande ícone feminista: bela, sensual, tão forte quanto qualquer herói homem, independente, criada por um homem…
Muito disso tudo por vezes afastou a personagem dos ideais feministas mais rigorosas com razão, no entanto nenhuma destas razões foi forte o suficiente para afastar a Mulher-Maravilha como grande ícone feminino das HQs e da cultura pop de modo geral.
Lembrando que a criação da Mulher-Maravilha é praticamente imediata ao ingresso americano no front de guerra, com homens sendo lançados à batalha como terra é lançada em uma cova.
Nesse contexto as mulheres precisaram se erguer na sociedade e assumir o papel das chefes de seu lar, empreendendo uma nova jornada de trabalho, desta vez nos postos deixados por seus pais, maridos, irmãos e amigos.
De “simples donas de casa” chegando até força de trabalho com poder aquisitivo, as mulheres de todo o mundo foram para outro front de batalha: o mercado de trabalho. Uma jornada similar a jornada empreendida por Diana ao abandonar a perfeição da Ilha Paraíso e se dirigir ao mundo dos homens para pregar a paz e o amor, mesmo que para isso precisasse primeiro batalhar e distribuir alguns socos para por vilões em seu devido lugar.
A primeira aparição da heroína se deu na revista All Star Comics #8 de dezembro de 1941, tendo Marston assinado o título sob o pseudônimo Charles Moulton, enquanto os desenhos ficaram a cago do artista H. G. Peter. Posteriormente a história teve sua continuação na revista Sensation Comics #1 de janeiro de 1942.
Não tardou tanto para que a personagem começasse a angariar os troféus de seu sucesso, então a Mulher-Maravilha ganhou sua própria HQ em maio de 1942, obviamente batizada com o nome da personagem, Wonder Woman #1,
Em 1944 a personagem foi transferida exclusivamente para a DC Comics. Sua base de sucesso estava cimentada com firmeza sobre um terreno sólido: a primeira heroína das HQs já nasceu à frente de seu tempo, já nasceu como contraponto a um mercado dominado por homens e o tempo só lhe fez bem, mesmo com todas as falhas claras da indústria do entretenimento em perceber o poder da amazona da Ilha de Themyscira.
Um homem chega à Ilha Paraíso, uma Amazona parte
Diana, a Princesa das Amazonas, nasceu na ilha paradisíaca de Themyscira há centenas de anos antes de se tornar conhecida como Mulher-Maravilha.
Isolados da crueldade e corrupção do que chamava de Mundo dos Homens, as amazonas viveram em paz e obedecendo aos desígnios e vontades dos deuses do Olimpo.
Desejando uma filha próprio, Hipolyta, a Rainha das Amazonas, implorou aos deuses que concederem seu pedido e transforma-se uma estátua esculpida de forma perfeita em argila pela própria rainha. Atendendo o pedido da rainha, os deuses deram vida à estátua e transoformaram-na em uma linda e perfeita garota real que se atirou já nos primeiros momentos nos braços de sua mãe.
Satisfeito com a criança, Hipolyta começou a criar sua filha nos moldes e costumes da sociedade das amazonas somando-se os privilégios da realeza. A princesa Diana envelheceu lentamente e parou de envelhecer ao atingir a idade adulta, tal qual outras amazonas.
Dedicada e aplicada, a princesa não tardou a superar a maioria de suas irmãs amazonas em todas as atividades de seu povo, tanto física quanto mentalmente.
Então um dia Steve Trevor, piloto da Inteligência do Exército do americano voava pelo Atlântico em perseguição a um espião nazista até que seu jato fica sem combustível e ele cai na misteriosa Ilha Paraíso; resgatado ferido por duas mulheres (Diana e Mala, que mais tarde Trevor vem a sabe serem amazonas), Trevor consegue escapar por pouco da morte certa.
A princesa Diana passa vários dias cuidado de Trevor e, equanto sua recuperação se dá lentamente um sentimento começa a brotar no coração da amazona e princesa da Ilha.
Sua mãe, a rainha Hipolyta, lembra suas súditas que homens estão proibidos de pisar na Ilha Paraíso, e muito menos permanecer na mesma; assim que Trevor estiver apto para viajar, ele será devolvido para o mundo dos homens.
Mas só a partida de Trevor não seria suficiente, o mundo dos homens estava em guerra e essa guerra ameaçava chegar até o lar das amazonas que, mesmo protegido por magias e encatamentos, já haiva sido encontrado uma vez pelo piloto americano, não tardaria até que outros pudessem repetir tal façanha.
Apreensiva com essa possibilidade, Hipolyta decreta que uma agente das amazonas deve ser enviada aos Estados Unidos para ajudar os americanos na luta contra os nazistas, uma ameaça não só ao mundo normal, mas a todos os povos do globo.
É realiza um grande torneio para determinar qual das seus guerreiras amazonas deve atuar como embaixadora do bem e da verdade. Entretanto a princesa Diana deseja participar do torneio, mas Hipolyta, como rainha e sua mãe, a proíbe.
Não satisfeita em ser deixada de fora do torneio, a princesa Diana se disfarça com uma máscara simples e entra no torneio de qualquer maneira. Ela domina todas as competições e torna-se uma das duas finalistas da competição.
Diana derrota seu oponente, Mala, e revela sua verdadeira identidade à multidão de amazonas. A contragosto, mas tendo que obedecer as próprias regras, a rainha Hipolyta concorda em permitir que Diana viaje para os Estados Unidos em companhia do pilot Steve Trevor. Nascia assim a heroína que o mundo dos homens aprenderia a admirar e também a temer; nascia assim a jornada da Mulher-Maravilha.
A história de origem da personagem sofreu algumas alterações ao longo dos anos, mas apesar de diferenças em algumas situações e uniformes, é possível dizer que em essência a personagem permaneceu a mesma desde sua criação, com seus objetivos e ideais em quase nada se alterando em comparação com as alterações feitas nos outros dois pilares da DC Comics: Batman e Superman foram durante décadas bem alterados enquanto a Mulher-Maravilha se manteve fiel aos seus objetivos otimistas e positivos de mudar o mundo dos homens.
Mulher-Maravilha | Da Ilha Paraíso para os cinemas
Ao longo de quase um século de HQs americanas desde o surgimento do Superman em 1938 na Action Comics #1 que os super-heróis deixaram as páginas bidimensionais em papel para se materializarem em outras mídias: rádio, tv, cinema, livros e games foram os novos palcos para que outros tipos de artistas e criadores pudessem materializar a fantasia das páginas coloridas de novas formas.
Superman e Batman foram agraciados com inúmeras versões de suas aventuras, desde seriados em programas de rádio passando por grandes produções cinematográficas, os grandões da DC Comics praticamente tiveram suas carreiras multimídia seguindo de forma ininterrupta, já o mesmo não se pode dizer da Mulher-Maravilha, infelizmente.
Praticamente relegada ao terceiro plano das adaptações, a personagem pouco contou com a inteligência de executivos e cineastas em sua longa trajetória. O produto mais emblemático fora das HQs sem dúvida fica a cargo do seriado televisivo no qual a personagem é interpretada pela igualmente icônica Lynda Karter (veja AQUI). Enquanto Batman e Superman tiveram um sem número de intérpretes.
Uma grande injustiça que só veio a ser corrigida recentemente com a escalação de Gal Gadot para o papel de Mulher-Maravilha no controverso Batman V Superman, segundo longa do recém criado Universo DC Cinematográfico.
Envolta em polêmicas pelo porte físico de Gal Gadot e sua curta carreira de atriz, tudo acabou soterrado por um representação forte e calculista da personagem que surge no longo no auge de sua forma e habilidades para auxiliar Superman e Batman contra a criatura Apocalipse e seu criador, Lex Luthor.
Roubando a cena com extrema facilidade com sua beleza exótica e um renovado porte físico, Gal Gadot calou a boca de muitos de seus críticos e ascendeu o sinal verde para que não houvesse nenhuma dúvida de que o público e o mercado ansiavam por uma heroína emblemática em seu próprio e exclusivo longa. A Mulher-Maravilha de Gal Gadot era grande e poderosa demais para ser apenas mera coadjuvante.
A estreia de Mulher-Maravilha nas telonas foi cercada de grandes expectativas e a grande maioria delas cumpridas a contento. Adaptação bem fiel das origens da personagem, o deslocamento da Segunda para a Primeira Grande Guerra deu lastro para que o contexto histórico de nosso mundo fosse grande o suficiente para que a Mulher-Maravilha do primeiro filme pudesse se desenvolver e se calejar até se tornar a Mulher-Maravilha focada de Batman V Superman.
Fica claro que os anos entre a Primeira Guerra, onde se dá a aventura do longa da personagem, e os anos posteriores ao evento foram de amadurecimento de Diana, uma jornada ainda oculta de nós, mas ao mesmo tempo uma jornada que empreendemos em nossa mente ao lado da personagem que deixa sua inocência para trás e cresce convivendo com o que há de errado em nosso mundo.
Quando parte da Ilha Paraíso ao lado de Steve Trevor para o campo de batalha, Diana sai de sua casa para enfrentar algo desconhecido, mas carregando em seu íntimo o que há de melhor e mais forte em um super-herói (o conceito, não o gênero): Diana quer fazer o bem, erradicar o mal e tornar o mundo um lugar melhor.
Nobre, altruísta e abnegada, Diana, diferentemente de seus amigos Batman e Superman no DCU dos cinemas, não tem nenhuma dúvida de seu papel e de como desempenhá-lo, não há medos, não há dúvidas, não há descrença no que pode e deve fazer.
De todas as adaptações blockbuster desde o Superman de 1978, Mulher-Maravilha é o filme de super-heróis que melhor retratou esse conceito para o espectador entregando a nós uma personagem que sabe a direção que deve ir e quem é o inimigo. Diana vem até nós completamente pronta e ciente de que valores separam o bem do mal.
Ainda mantendo uma certa ingenuidade infantil por ter sido criada em um mundo utópico e alheio ao nosso, Diana transforma essa inocência em uma de suas melhores motivações, acreditando que basta apenas destruir o deus da guerra Ares para cessar as guerras em nosso mundo e nos trazer a paz que ela mesma conhecia em sua ilha utópica.
Inocência essa perdida com a constatação de que há algo de ruim dentro de nós seres humanos que vai além do poder do deus da guerra, mas não ruim o suficiente para que a esperança em mudar nosso mundo seja perdida no consciente de Diana. Que a inocência tenha se quebrado isso não deixa nenhuma dúvida, mas não a esperança de que algo melhor pode ser feito por e para nós, haja vista que Diana sempre foi vista em suas encarnações como um símbolo de Verdade, Esperança e Justiça.
Coube, finalmente, a uma personagem heroína o papel de resgatar o ideal do herói de aventura grego que inspirou os primeiros super-heróis, resgatar o exemplo de valentia, de honestidade, de bondade e de abnegação para com os inocentes e vítimas de um mal maior.
A lição, apesar de simples, bateu forte no mercado de filmes baseados em HQs onde muito do conceito do herói havia se perdido nas áreas cinzentas do cinismo de cineastas que não souberam dosar as porções entre a seriedade exacerbadamente sisuda e o humor exageradamente boboca. Cineastas ou, pior de tudo, um batalhão de executivos engravatados que mal sabe o produto que tem em mãos e seu real potencial…
Outro passo adiante dado pela Mulher-Maravilha se deu no sentido de suprir, mais uma vez, a lacuna deixada pela ausência de heroínas em meio a tantos personagens homens desfilando por aí.
A personagem vem mais uma vez repetir a façanha que realizou em 1942: ser a primeira a desbravar um caminho até então trilhado pelos brutamontes, ser uma mulher forte, poderosa e independente no meio de um mercado dominado por homens, tanto criando quanto sendo criados.
Quando Homem de Ferro estreou em 2008, o Marvel Studios inaugurou uma nova era para as adaptações de super-heróis para o cinema. Filme após filme o estúdio da Marvel foi cimentando seu universo compartilhado apresentando seus medalhões um a um, até culminar com a convergência de todos no longa Vingadores em 2012.
O Marvel Studios largou na frente, mas ano após ano simplesmente deixou um vácuo cada vez maior e mais incômodo nas telonas: nenhuma de suas heroínas pôde brilhar em seu próprio filme, ficando a cargo dos brutamontes todo o sucesso e destaque e, para elas, apenas o segundo plano. Nada de filmes para você, Viúva Negra…
O Marvel Studios largou na frente, mas chegou em segundo lugar nessa corrida, deixando todo o impacto, relevância e importância de um filme protagonizado por uma heroína a cargo da Mulher-Maravilha. Ela não poderia fazer feio… e não o fez…
E toda a ânsia do público por algo do tipo foi correspondida da melhor forma possível alçando rapidamente a bilheteria do filme a patamares excelentes. Crítica e público, em sua quase totalidade, se irmanaram em uma coisa: Mulher-Maravilha, o filme, é ótimo. E todos estavam esperando por ela de braços abertos.
O filme não inovou por completo o gênero, longe disso, mas trouxe a ele novo gás e novo fôlego lembrando a todos nós o papel de um super-herói e sua mensagem positiva do bem e da verdade. Algo que também podíamos notar em Capitão América: O Primeiro Vingador, cuja tônica e espírito de heroísmo em tempos de guerra guiados por um protagonista inspirador, corajoso e ao mesmo tempo inocente; características que também se fazem presentes em Mulher-Maravilha quase que totalmente.
Diria que há em Mulher-Maravilha, o filme, o que há de melhor nos filmes O Primeiro Vingador e no Superman de Donner.
Num mundo cínico, cinza e corrupto, a inocência quase infantil de Diana traz à tona o desejo de cada um de nós de embarcar ali naquela aventura apenas porque aquilo realizado pela personagem é o certo a ser feito, por ela e por qualquer um, mas apenas ela tem a força e a capacidade de realizar tal façanha, porque é ela a heroína que todos passaram décadas esperando.
Isso se materializa com facilidade na sequência “Terra de Ninguém”, onde os soldados evitam a todo custo atravessar o campo de trincheiras e tentam dissuadir Diana de fazer o mesmo. No entanto a personagem faz questão dizer que liberar aquela área é o certo a ser feito. Sem exitar, a princesa amazona encara o exército do outro lado sem medo, sem dúvida de que pode e vai atravessar o campo de batalha guiando seus companheiros de armas até a vitória.
Você pode ter visto muitas cenas de ação excelentes nos últimos anos, mas duvido que você tenha visto atos de heroísmo que se equiparem e esse de Diana…
Longe de ser um filme perfeito ou sem problemas, Mulher-Maravilha contou sim com sua parcela de deslizes, sobretudo no último ato e na construção visual de seu Ares, uma pena.
Mas os dois terços iniciais da obra com a descoberta da ilha e seu contexto, o treinamento de Diana ao lado de Antiope (Robin Wright), passando pela chegada de Diana em nosso mundo e das gradativas descobertas do que há de diferente nele, Mulher-Maravilha nos entregou frescor e aquele ar de inocência que citei acima, lembrando por demais o longa Superman de Richard Donner e sua mensagem positivista de um herói praticamente divino.
Não por acaso há no longa da Mulher-Maravilha duas ótimas homenagens ao trabalho de Donner e Reeves que deixaram largos sorrisos no rosto dos fãs das antigas.
Permeado do teor da descoberta, da inocência, da coragem de realizar o impossível, da força de inspirar os que estão ao seu lado, Diana em tela é uma presença marcante materializada por Gal Gadot que parece luminescente toda vez que a câmera está focando na personagem, linda, carismática e engraçada quando necessário, a atriz deu algo a esse filme como há muito um intérprete não dava a um personagem de HQs.
É pouco provável que nos próximos anos Gal Gadot e a Mulher-Maravilha não sejam figuras indivisíveis no imaginário dos fãs tal qual Hugh Jackman como Wolverine, Christopher Reeves como Superman, Robert Downey Jr. como Homem de Ferro, Alfred Molina como Dr. Octopus, J.K Simmons como J. Jonah Jameson e tantos outros que marcaram seus rostos como os de suas interpretações.
Com uma ascensão meteórica no papel, Gal Gadot e sua Mulher-Maravilha são um fenômeno no segmento de adaptações e arregimentou altas cifras nas bilheterias desde as primeiras semanas do filme nas salas de cinema do mundo todo, se tornando o grade filme de HQs deste verão (a arrecadação mundial ficou atrás de Guardiões da Galáxia Vol.2).
A produção da Warner/DC ultrapassou os US$ 386 milhões (a chamada bilheteria doméstica) nos EUA e, mundialmente, arrecadou US$766 milhões.
O longa dirigido por Patty Jenkins também tem a excelente marca de ser a maior arrecadação para um longa dirigido por uma mulher, mais merecido ainda por ser a Mulher-Maravilha a realizar este feito.
Por fim chego ao objetivo final deste texto: na trajetória de importância da Mulher-Marvilha, coube à personagem a façanha de ser mais uma vez a primeira mulher a quebrar a barreira de um universo repleto de super-homens e mostrar que sim, o público e o mercado precisam de produtos com protagonismo feminino, com qualidade, com diversão, com lições de heroísmo que inspirem os fãs das antigas e criem novos fãs.
No cenário que se iniciou em 1938 com o Superman, muitos outros super-homens vieram em seu rastro, alguns realizando um pouco menos, outros um pouco mais, no entanto coube ao filho de Krypton o grade mérito de ser o primeiro de um gênero, anos depois a Mulher-Maravilha veio e realizou o mesmo feito do lado feminino dos super-heróis, inaugurando um novo marco neste mercado.
Injustiçada nas adaptações, mais uma vez coube a Diana Prince a proeza e esfregar na cara de todos que sim, precisamos de mulheres como ela para dar os exemplos de heroísmo e bravura que todo ser humano almeja de seus personagens.
O melhor exemplo das safras de adaptação do que é ser herói, do que é ser uma inspiração para os humanos e de qual a função do gênero dos super-heróis para nossa sociedade de modo geral foi resgatado e foram poucos os que não vibraram e torceram pela Mulher-Maravilha como há décadas atrás vibrou-se e torceu-se pelo Superman de Christopher Reeves.
E que os grandes voos continuem a se realizar para inspirar não só jovens e adultos, mas todos aqueles que precisam de um porto seguro para sua imaginação na hora de combater os males de nossa sociedade tão cheia de guerras desnecessárias que ocorrem diariamente.
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Designer de produtos e gráfico, mestre em comunicação, professor.