Se você esteve aqui conosco nos últimos meses acompanhando nossa coluna literária, deve ter esbarrado com a resenha do livro Tronos e Ossos: Jornada no Gelo (AQUI) da Editora Jangada com certeza.
A obra fez sucesso com sua narrativa divertida, seus personagens cativantes e pela aventura criada para os jovens leitores, mas que prende qualquer leitor de qualquer idade.
Seguindo uma ótima agenda de lançamentos neste ano de 2017, a Editora Jangada deixou uma janela bem pequena entre o primeiro e o segundo volume. Tronos e Ossos: O Enigma do Chifre chegou às livrarias em maio passado ao lado de outras obras da editora (AQUI), o que é uma excelente pedida para os que curtiram a narrativa ágil e versátil do autor Lou Anders, mantendo viva e com frescor na memória dos leitores a aventura do primeiro livro e seus desdobramentos.
O Enigma do Chifre | De volta ao mundo de Qualth
Mais uma vez Lou Anders nos leva ao mundo fantástico que criou e que tem muitas semelhanças com as culturas nórdicas-vikings. Um ano se passou desde que Karn e Thianna viveram uma aventura fantástica e no meio dela ergueram uma grande amizade baseada na compreensão, respeito e aceitação das diferenças de ambos.
Karn queria sair da fazenda de seu pai e conhecer o mundo, Thianna só queria viver em paz entre seu povo, os gigantes do gelo.
Nenhum dos dois realizou tais coisas exatamente desse jeito: Karn permaneceu ao lado do pai para aprender a cuidar de suas terras e Thianna partiu das montanhas geladas para percorrer o mundo e quem sabe conhecer o povo de sua mãe humana que partiu muito cedo da vida da garoto metade humana e metade gigante do gelo.
A aparente calma da vida dos dois não durou muito e mais uma vez a aventura vem até eles, separadamente, mas vem.
Nessa nova jornada pelo mundo fantástico de Tronos e Ossos somos apresentados a muitos novos conceitos, personagens e aspectos do mundo criado por Anders.
Justamente pontos que senti falta no primeiro livro foram supridos a contento neste segundo. A começar por uma maior amplitude no mapa de Qualth e no contexto histórico e cronológico desse mundo. Tudo muito criativo e instigante.
Os elfos negros e a busca pelo chifre
Dentre os novos jogadores no tabuleiro, Anders destaca os elfos negros de das Montanhas de Svartálfahein, sobretudo a dupla de jovens elfos Desstra e Thantal, cuja relação de companheirismo é o total inverso da amizade entre Karn e Thianna.
Praticamente traída por Thantal em um exame para escolher membros da força de elite dos elfos negros, Desstra nutre pelo companheiro o mais profundo desprezo e inimizade, mas precisa obedecer as ordens do jovem que se graduou às custas de seus esforços no campo de batalha e passou a ser seu superior e responsável por seu teste final de graduação.
Entre Desstra e Thantal temos a dinâmica inversa da narrativa de Karn e Thianna no primeiro livro, onde ambos, de raças, culturas e costumes completamente diferentes vão construindo sua amizade e a compreensão um do outro.
Os dois elfos não são nem um pouco compreensíveis e nem dispostos a abrir concessões para isso, mesmo sendo do mesmo lugar, tento a mesma cultura e convivendo juntos na escola de treinamento dos elfos negros, eles nada tem em comum, mas são obrigados a trabalhar em conjunto por um objetivo comum: encontrar um dos três lendários Chifres de Ossius, haja vista que um destes artefatos fora utilizado e perdido há aproximadamente um ano nas ruínas de Saderth, onde vive o dragão Orm…
O Enigma do Chifre | O chamado à aventura
Vivendo entre seu povo e aprendendo mais sobre ser fazendeiro, Karn colhe os frutos da fama que veio da aventura vivida ao lado de sua amiga Thianna, de quem o pequeno garoto sente muitas saudades por conta dos laços criados no calor das batalhas e perigos vividos. Mas essa paz não dura tanto assim e a saudade dá lugar à preocupação quando Karn precisa encontrar outro dos chifres mágicos capazes de controlar os grandes répteis pelo mundo.
Mesmo tendo destruído um dos chifres, o dragão Orm convoca Karn para encontrar Thianna, que antes dele também havia sido convocada com o mesmo intuito, porém a menina meio-gigante desaparece na metade de sua busca na cidade de Castelurze, para onde em breve Karn também partirá para desvendar uma antiga charada que pode ocultar a verdade sobre paradeiro do segundo chifre mágico.
Mas a busca não é só do jovem garoto norrønur e em Castelurze vários aspectos sobre os chifres, sua origem e paradeiro vão somando-se ao passo que Karn vai conhecendo mais da história de seu próprio mundo (e nós junto com ele). Seu avanço em busca de sua amiga e da relíquia sagrada é acompanhada de perto pelos estranhos elfos negros que cruzam seu caminho mais de uma vez e utilizam de todos os seus truques para enganar o jovem fazendeiro.
Uma boa parte deste segundo livro vemos a dupla de protagonistas agindo separadamente, primeiro na busca de Karn pela amiga desaparecida e desvendando a parte inicial do dito enigma do chifre. Em outro momento o leitor fica conhecendo o paradeiro de Thianna e seus resultados em sua parte da busca, e também cuidando de seus próprios problemas que também envolvem cruzar o caminho dos elfos negros…
Um imenso mundo a ser explorado
Neste segundo livro Anders se mostra tão ou mais versátil do que no anterior ao dar mais substância ao seu mundo fantástico. Enquanto se limitou a um número relativamente pequeno de locações em Jornada no Gelo, em O Enigma do Chifre o autor desloca sua narrativa por muitas outras cidades e situações, sempre mantendo a agilidade de sua narrativa e o foco de seu texto leve e divertido.
A diferença aqui reside no fato de que Anders parece mais focado em contar uma aventura e expandir seu mundo do que na construção de seus personagens. Não que isso não ocorra, mas aqui ao invés de apresentar novas facetas para seus protagonistas, o autor se empenha em aprofundar as que já conhecemos dos dois, sobretudo a amizade entre eles.
Até mesmo a dupla de antagonistas, Desstra e Thantal, acaba se mostrando uma variante de Karn e Thianna às avessas. Desconfiança, dúvida, oportunismo, raiva e inveja alimentam a relação dos elfos da noite, de modo a traçar claramente os valores e princípios que o autor e sua obra querem passar aos seus leitores através da amizade e respeito e claro, das consequências da ausência dessas duas qualidades.
O texto é claro e objetivo nesse sentido, haja vista ser uma leitura juvenil, a proposta não poderia ser melhor e a execução idem.
Mas não são só os elfos negros que apresentam perigo para os dois amigos: uma antiga organização protetora do enigma do chifre está vigiando de perto o progresso realizado por Karn e Thianna e ao menor sinal de perigo essa estranha e antiga organização está determinada a eliminar qualquer um que queira usar inadvertidamente o poder dos chifres.
A escrita de Anders continua mantendo um texto bem humorado, com de piadas pontuais e tiradas irônicas, principalmente entre a dupla de amigos e protagonistas.
Aliando a essa agilidade e objetividade na escrita, Anders mostra mais uma vez que é um excelente narrador e prende nossa atenção durante todos os capítulos do livro, senão é pela ação quase constante da caçada pelo chifre e resolução dos enigmas sobre a localização do mesmo, é pela construção e apresentação de conceitos de seu mundo fantasioso através de mitos, lendas, seres fantásticos, aspectos históricos e geográficos.
A linha do tempo sobre os antigos impérios e guerras entres eles é uma adendo riquíssimo para a trilogia sem dúvidas.
Anders também é um narrador de batalhas bem criativo e dinâmico. É fácil imaginar os confrontos físicos entre seus personagens, seus movimentos e armas. Tudo também muito prático e objetivo.
A capacidade do autor em se focar em seu público-alvo é sempre louvável.
Meu único senão em relação a este livro e seu antecessor, por mais dicotômico que possa parecer, também é justamente sobre essa velocidade.
O Enigma do Chifre que dá título a este segundo livro é algo secular na história do mundo de Qualth, mas bastou algumas semanas (e muitos perigos, claro), para que boa parte do mistério fosse solucionado e compreendido pelos protagonistas. Mas nada comprometedor de modo amplo, só que fica a impressão que algo nessa correria poderia ser mais gradual.
Também senti um pouco de falta dos aspectos lúdicos nessa obra. No primeiro livro os elementos do jogo de tabuleiro Tronos e Ossos eram constantes no pensamento de Karn e utilizados de forma ressignificada em suas estratégias para superar suas limitações físicas.
Exímio estrategista, o garoto deixava o trabalho pesado para Thianna, muito maior, mais forte e sempre pronta para a briga, dessa vez é comum vermos Karn empunhando espada e escudo e combatendo em pé de igualdade guerreiros treinados e versados em artes de combate como o elfo negro Thantal. Pelo visto um ano foi suficiente para o garoto se aprimorar em muitas coisas além de cuidar da fazenda do pai.
O Enigma do Chifre | Mudar a capa de novo? Pra que?
Sou um grande admirador do trabalho da Editora Jangada, mas não me furto o dever de tecer aqui a mesma crítica que fiz em relação ao livro Jornada no Gelo: a tradução do título poderia muito bem manter o sentido original de Frostborn (Nascida no Gelo) e a alteração na belíssima arte das capas da trilogia Tronos e Ossos.
Mais uma vez a editora optou por alterações desnecessárias para o material, mutilando a capa do segundo livro exatamente como havia feito no primeiro e optando por mudar o subtítulo Nightborn para um apático e clichê Enigma do Chifre, por mais óbvio que isso seja.
Os subtítulos, como o leitor pode notar já nas primeiras páginas dos livros, se reportam às personagens que integram a aventura ao lado de Karn: Thianna é a Nascida no Gelo, Desstra é a Nascida na Noite.
Tudo bonito, tudo perfeito; infelizmente ficamos, ao menos nessas primeiras edições, como os títulos genéricos que devem ter alguma finalidade mercadológica aqui e acolá…
Vale ressaltar que nas notas de rodapé e outras informações extras de O Enigma do Chifre, o primeiro livro é ironicamente citado como Nascida no Gelo, pelo visto alguém deixou isso passar na revisão, já que a tradutora do primeiro e segundo livros é exatamente a mesma. Ou isso ou optaram pela coisa mais lógica a se fazer que é manter o sentido do título original
Já no que se refere às capas, infelizmente perdemos um panorama geral da corrida de bigas guiadas por ferozes mantícoras, tendo a dupla de protagonistas, Karn e Thianna, flanqueados por seus adversários.
Sinceramente não entendo os motivos de retalhar uma arte tão bonita e bem resolvida como esta em prol de um recorte focando apenas nas feras que guiam as bigas de guerra.
No livro anterior o panorama geral se manteve, mas Karn e Thianna foram simplesmente removidos da arte sem dó nem piedade… por que? Não faço a mínima ideia… Já vou me preparar para a mutilação da capa do terceiro volume, melhor não criar nenhuma expectativa sobre isso, pelo visto.
No que se refere a qualquer outro tipo de acabamento e produção a Editora Jangada é irrepreensível, a capa de O Enigma do Chifre conta com logotipo em alto relevo com verniz localizado, papel de ótima gramatura tanto na capa quanto no miolo. Só o fato de investir em autores de fantasia e ficção relativamente mais recentes já é uma ação editorial mais que louvável.
Ademais Tronos e Ossos: O Enigma do Chifre vem enriquecer a opção de leituras pra crianças, jovens e adultos que gostam de uma boa fantasia com uma história divertida e acima de tudo, bem contada.
Agora é aguardar o terceiro livro para prestigiar o desfecho dessa rica trilogia.
Sinopse | Tronos & Ossos: O Enigma do Chifre
Depois de atravessar florestas e desertos gelados para salvar Thianna, Karn precisará viajar montado num réptil voador até Castelurze, aprender a jogar um novo jogo chamado Aurigas, decifrar O Enigma do Chifre e enfrentar misteriosos elfos.
Todos estão atrás do Chifre de Osius, um antigo artefato com poder suficiente para mudar o mundo.
Mas com facções rivais de elfos, anões rebeldes, exércitos em guerra e mantícoras devoradoras de gente no caminho, Karn não sabe em quem confiar.
Até onde ele será capaz de ir em nome da amizade? A solução deste enigma pode ser fatal.
Tronos e Ossos | O Autor
Lou Anders publicou mais de 500 artigos e matérias sobre ficção científica e fantasia em literatura e televisão. Recebeu um Hugo Award e um Chesley Award.
Participa regularmente de convenções de escritores em todo os Estados Unidos. Saiba mais em: www.louanders.com
O Enigma do Chifre | Informações
- Título: O ENIGMA DO CHIFRE – TRONOS & OSSOS
- Autor(es): Lou Anders
- Assunto: Ficção Juvenil
- ISBN: 978-85-5539-083-8
- Idioma: Português
- Tipo de Capa: Brochura
- Edição: 1ª Edição 2017
- Número de Páginas: 376
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Veja também: Tronos e Ossos – Jornada no Gelo
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Sobre o Autor
Designer de produtos e gráfico, mestre em comunicação, professor.