1ª regra de Death Note: não se fala sobre o Death Note.
Death Note é uma história que já tem mais de 10 anos de publicada e ainda hoje arrasta uma legião de fãs pelo mundo.
A história original de Tsugumi Ohba é contada em 12 volumes e traz consigo como principais dilemas moralidade e justiça; mostrando em cada personagem um posicionamento sobre o assunto e nos cativando com a briga intelectual fabulosa entre Kira e L no decorrer da história.
Iniciando a obra com uma leve amostra do mundo shinigami, a história original nos apresenta um propósito para tudo ao começar, e conclui-se após um entrelaçado de mistérios e intrigas que fecham todas as pontas da história.
Já Death Note da Netflix deixa muito a desejar, deixando pontas soltas e ignorando certos questionamentos. Comparar a obra americanizada com a história de Ohba seria minimamente falando, uma total covardia, pois fica claro no filme que a Netflix não fez questão de se dar ao trabalho de conhecer a obra original, já que reinventa muito mal elaboradamente a história e nos traz personagens vazios dentro de um enredo pastelão. E não vou entrar na questão da troca de etnias.
A história que busca “adaptar-se” a atual realidade, inicia dentro de um colégio mostrando já as possíveis personagens centrais, trazendo o Death Note as mãos de Light durante uma misteriosa e desconexa tempestade.
Desde os primeiros minutos de filme, Light já nos é apresentado como um adolescente imprudente, mimado, covarde e burro, que é intimidado por valentões dentro do colégio. E Mia (Misa da obra de Ohba), como uma adolescente “misteriosa” e rebelde sem causa.
Quando Light finalmente decide folhear o misterioso caderno, ele opta por simplesmente ignorar as ‘instruções’ escritas nas primeiras folhas. Apesar das cenas iniciais não mostrarem nada instigante ou carismático ao público, a abertura da história ainda é aceitável e assistível.
Entretanto, esse aceitável se esvai quando, o que deveria ser o ponto chave de tudo, Ryuk entra em cena, falante e desfocado na tentativa de criar algum clima de suspense/terror/comédia/alguma coisa, destruindo literalmente o cenário e forçando Light a usar o Death Note.
Isso sem contar a atuação ridícula de “donzela em perigo” com direito a gritinhos agudos de Light nesse momento.
E se já não fosse o bastante essa apresentação estrambólica dos principais personagens, ainda temos uma Mia (Misa) inconsequente e vilanizada sendo introduzida de maneira patética quando o Light, que parece querer se exibir, conta muito empolgado a ela sobre o caderno, ligando nela um “botãozinho psicopático” na personagem; e um L excêntrico, pouco lógico e um tanto impulsivo, deixando assim, Light (o Kira) um inocente mocinho por quase todo o filme, dando a ele apenas uns poucos minutos de inteligência estratégica lá no final do filme ao elaborar uma sequência de eventos e mortes num enredo à la Premonição, contrapondo totalmente o comportamento do Light durante toda a história.
Mas o ponto que mais incomoda dentro desse pastelão todo é que, ninguém, em momento algum, questiona o cunho moral e ético do Death Note. O filme de 1h40 min entrega apenas mortes elaboradas e nada mais, dentro uma mistura de gêneros que não define se o filme é de terror, suspense, policial, romance adolescente, comédia…
Com uma trilha sonora bizarra que fetichiza a morte, o filme por si só, até sem comparar com o mangá, não funciona, nem dentro da própria realidade. As personagens adolescente passam boa parte do filme tramando morte e decidindo quem ou não matar em ambientes públicos, cheio de gente passando a todo instante. Por fim, a única que cumpriu fielmente seu papel na história, foi a maçã.
Entendo que, por se tratar de um filme, a trama precisa correr rápido, mas desta forma não, isso força a amizade! Já que era para ser um orgulhoso filme baseado em Death Note que precisaria ter “adaptações”, por que então não apresentar uma reinvenção que não se “baseasse” nas personagens e sim na mitologia (que em momento algum é mostrado nem pensando)?
Mas se você gostou dessa reinvenção, nos comente ai o que lhe levou a essa decisão.
Sobre o Autor
Designer gráfica, aspirante a escritora e leitora apaixonada por fantasia, ficção e suspense. Felícia de carteirinha. Gosta de jogar nas horas vagas, ou assistir bons filmes com pessoas que os apreciam tanto quanto eu.