Narcos (Estreia da temporada 3: 1º de setembro de 2017. Criadores: Chris Brancato, Carlo Bernard e Doug Miro. Produtores executivos: Chris Brancato, Carlo Bernard, Doug Miro, Katie O’Connell, Eric Newman, José Padilha e Elisa Todd Ellis. Elenco: Pedro Pascal, Damián Alcazar, Alberto Ammann, Francisco Denis, Pêpê Rapazote, Matias Varela.)
AVISO: O TEXTO PODE CONTER SPOILERS SOBRE A SÉRIE!
Narcos se propôs, desde a 1ª temporada, a dramatizar a guerra contra os maiores narcotraficantes da história. Então, sua própria “guerra” iniciou-se contra o homem que remodelou o narcotráfico: Pablo Escobar.
Todavia, o retrato da saga de Escobar, aliado à excelente interpretação de Wagner Moura como o narcotraficante, não foram somente aclamadas, mas também ficaram marcadas como “a cara de Narcos” – o que provavelmente não seria interessante para a série, já que Escobar não seria uma fonte eterna de material.
E não foi. Ao final da 2ª temporada – como já era esperado –, Pablo Escobar foi morto, deixando o público e a crítica preocupados: como ficará o futuro de Narcos sem o seu ícone?
Felizmente, a série tinha mais caminhos a seguir, e assim como a guerra ao narcotráfico, a “guerra de Narcos” não tinha derrotado todos seus inimigos: o próximo na linha de sucessão era o infame Cartel de Cali – que, por sinal, ajudou a derrubar Escobar do seu trono.
Após esta queda, como a sucessão de uma figura emblemática, o Cartel de Cali assume como se nada tivesse acontecido antes disso. E, de repente, a DEA – o Departamento de Narcóticos estadunidense – já tem um novo grupo de inimigos: os irmãos Gilberto e Miguel Rodríguez, Pacho Herrera e Chepe Santacruz-Londoño, líderes do Cartel de Cali. E uma nova história para Narcos narrar.
Não só o inimigo, mas o líder da operação – e narrador da série – também ganha uma nova figura, já conhecida do público. Steve Murphy (interpretado por Boyd Holbrook nas duas primeiras temporadas), assim como seu oposto Escobar, naturalmente deixa a cena, como um herói que derrota o arqui-inimigo.
E enquanto isso, Javier Peña (interpretado por Pedro Pascal) assume os holofotes e o comando da “guerra”.
Parecem muitas mudanças de uma vez, apenas entre o final de uma temporada e o início de outra. Parece crise, parece uma tentativa de encontrar uma salvação para a série após o sucesso da saga de Escobar.
Mas não é nada disso. É simplesmente Narcos fazendo exatamente o oposto do que se esperava dos produtores – e exatamente o que se propôs a fazer: mostrar a guerra não somente contra um homem, e sim a guerra contra todo o narcotráfico.
A série se desprende, episódio a episódio, de todos os laços com o seu antagonista anterior, até eliminá-lo totalmente. E o mais interessante é: não sentimos falta de Escobar.
Desde o primeiro episódio, Narcos mostra a intensidade e o poder do Cartel de Cali e dos seus quatro líderes. A atuação magistral dos seus quatro intérpretes – especialmente a de Damián Alcazar, que interpreta Gilberto Rodríguez, o grande chefão entre os líderes – realça a força do Cartel e a determinação deles em suas decisões.
Miguel, Pacho e Chepe, os outros chefes do Cartel de Cali, também são extremamente fortes e decisivos para o Cartel, e as atuações dos seus intérpretes (Francisco Denis, Alberto Ammann e Pêpê Rapazote, respectivamente) são muito intensas, mostrando as várias faces do Cartel.
Através deles, a série destaca o planejamento, os resultados e a determinação com a qual o Cartel de Cali tratava o negócio – e os inimigos. Definitivamente, o Cartel de Cali é a evolução do Cartel de Medellín em tudo – até como antagonista de uma série.
E isso se reflete na qualidade das cenas de ação na terceira temporada. Grandes sequências de perseguição, execuções ainda mais brutais, que deixam a série ainda mais perigosa do que antes.
E já que estamos falando dos antagonistas, não se pode esquecer do oposto. Pedro Pascal, o novo “comandante” de Narcos, mostra que seu talento estava ali o tempo todo, infelizmente ofuscado por Boyd Holbrook nas duas temporadas anteriores. Agora como o protagonista
na terceira temporada, Pascal assume uma postura mais sombria como Javier Peña, mais abatida pela dura guerra, e com a ajuda dos seus novos subordinados, Chris Feistl (Michael Stahl-David) e Daniel Van Ness (Matt Whelan), se torna mais brutal ainda com os novos inimigos, o que o torna um “comandante” excepcional.
Pascal acaba sendo surpreendentemente melhor que Holbrook na mesma posição de “comandante”, ao ponto de nem sentirmos falta de Steve Murphy nesta nova temporada. Peña se revela um líder nato na luta contra o narcotráfico.
Além deles, a temporada ficou recheada de atuações fenomenais, entre a polícia, a DEA e o Cartel de Cali. A melhor delas, sem dúvida alguma, foi a de Matias Varela, que traz à tela Jorge Salcedo, o personagem mais complexo e mais difícil desta terceira temporada.
Salcedo, que chefiava a segurança do Cartel de Cali, vive numa montanha-russa de emoções durante os 10 episódios, sempre oscilando entre o trabalho que faz para os seus chefes de Cali e a tranquilidade que almeja em sua vida pessoal, com sua mulher e suas filhas.
A impossibilidade de conciliar esses fatos joga Salcedo em uma jornada impressionante, cheia de corridas contra o tempo e momentos de nervosismo, entre seus desejos e suas obrigações. E Varela encarna tal tensão na pele, entregando atuações extremamente fortes como Salcedo, fazendo com que ele seja o personagem mais intrigante e querido pelo público nesta temporada.
Até a abertura da série mudou, apagando todas as imagens de Pablo, do Cartel e da cidade de Medellín. E acreditem, a abertura ficou melhor ainda.
Com tudo isso, fica evidente que Narcos mudou muito mesmo nessa terceira temporada, mas, sem dúvida alguma, também melhorou – e muito – em comparação às suas temporadas anteriores.
O mais importante, no entanto, foi que Narcos cumpriu seu objetivo com louvores: fazer a audiência esquecer de Pablo Escobar, apresentar os novos inimigos da DEA, e acompanhar a caçada, sem, é claro, tornar a série e o público dependentes do Cartel de Cali.
Narcos não é sobre Pablo Escobar, nem sobre o Cartel de Cali. É sobre a guerra contra o narcotráfico. E a terceira temporada da série consolidou que não existe um único inimigo, e sim, há a personificação do “mestre do narcotráfico”, mas a sua queda continua fazendo a carreira seguir em frente, sem parar E enquanto nós tivermos Narcos – especialmente na quarta temporada, que contará com um novo cartel –, sabemos que estaremos bem protegidos.
Os dez episódios da 3ª temporada de Narcos, além das duas primeiras.
NARCOS | Trailers Netflix
https://www.youtube.com/watch?v=y-LZ1LFAZ_Q
Sobre o Autor
Um ajudante de super-herói perdido em Tatooine, com várias pedras de metanfetamina.