Após a correria frenética de Skylar e Win em busca da arma de Jeanant para destruir o campo temporal kemyano em torno da Terra no livro Ecos do Espaço, dessa vez somos levados para outro patamar da aventura da dupla em Sombras do Espaço.
Mas Atenção leitor! O texto a seguir sobre Sombras do Espaço está cheio de detalhes, comentários e revelações sobre o primeiro livro da trilogia, então daqui pra frente é por sua conta e risco.
Para Kemya em velocidade de dobra
A primeira grande mudança no panorama da trilogia de Crewe é que toda sua trupe de aventureiros alienígena do espaço e a humana de 17 anos, Skylar, estão rumando para o planeta da raça alienígena que há séculos tem realizado experimentos no campo temporal da Terra.
Win, Isis, Thlo, Britta, Jule, Tabizi são os principais kemyanos envolvidos na chamada rebelião kemyana em prol da Terra. Voltar para seu planeta é um misto de medo e alívio para o grupo, haja vista que suas ações por lá não são completamente corretas em relação ao que deseja o Conselho de Kemya.
Junto com eles vem a humana Skylar, trazida para que os Executores, uma espécie de força policial kemyana que viaja através do tempo, não coloque em risco a vida da garota ou de sua família, uma vez que sua identidade não é conhecida por completo pelos executores, apesar de Kurra, a mais cruel e obstinada entre eles, ter uma obsessão pela garota humana que a ludibriou.
Essa situação tinha tudo para ser interessante e compensar os problemas – os muitos deles – encontrados no primeiro livro (veja resenha AQUI).
Se havia alguma curiosidade sobre a estação espacial kemyana, sobre a cultura dessa raça, costumes, tecnologias e afins, tudo vai por água abaixo rapidamente.
Kemyanos são chatos, são idênticos aos humanos em praticamente tudo, não só na fisiologia, tudo em Kemya é perfeitamente possível de ser pensado apenas como uma mera variante de algumas de nossas muitas culturas espalhadas pelo planeta Terra.
E a despeito da evolução tecnológica dos kemyanos, é incrível notar como um povo tão tecnológico é extremamente burro. Eis aqui uma das raças alienígenas mais chatas e mal desenvolvidas que já vi numa ficção.
Nesse segundo livro toda a ação e aventura que ainda era um pouco do que tinha de bom no livro anterior – e que poderia atrair o jovem leitor – simplesmente dá lugar para uma das continuações mais chatas, arrastadas e sem função que já vi em uma trilogia.
A impressão que me saltou aos olhos a cada página dessa obra é a de que Crewe a fez com único intuito de preencher a cota de “trilogia” para uma possível venda de direitos para adaptação de seu material para cinema, quiçá uma telessérie.
O livro simplesmente começa e termina sem absolutamente quase nada de relevante acontecendo e toda a atenção da trama de Crewe se concentra num romance entediante entre Skylar e o bad boy marrento galã Jule… calma, isso não é um Spoiler, é tão rápido e tão no começo do livro que a situação se delineou que chega a saltar aos olhos de qualquer leitor minimamente atento que isso aconteceria.
É de uma previsibilidade tão óbvia que já dava pra perceber isso ao final do primeiro livro. E pronto, está armado o circo do ciuminho do triângulo amoroso entre Skylar, Win e Jule. E sim, você já viu isso em alguma outra obra teen por aí… alguém disse Crepúsculo? Jogos Vorazes? Alguém?
Desse ponto em diante é só ladeira abaixo na narrativa.Toda a situação armada para simplesmente não haver quase nenhuma fato relevante, nenhuma situação empolgante, nenhum diálogo realmente bom, nenhum personagem realmente desenvolvido.
Crewe, mais uma vez se mostra tanto uma escritora simplória e com um texto básico, quanto se mostra também uma narradora muito limitada. Aspecto esse facilmente perceptível na narrativa em primeira pessoa do livro, ao nos empurrar goela abaixo toda a visão de Skylar, cada pensamento, cada reclamação, cada lamúria da garota, Crewe nos tortura de formas extremamente cruéis.
A trama desse segundo livro inicia quando Skylar precisa fazer papel de “humano de estimação” de Jule para passar despercebida dentro da estação. Isso é uma prática relativamente comum entre kemyanos de boa vida; eles simplesmente tem humanos como “bichos de estimação”.
Tais humanos foram retirados de algum ponto do tempo na Terra antes de morrerem e são medicados para ficarem entorpecidos e agirem de forma dócil. Uma das ideias mais imbecis que já vi num livro nos últimos tempos. Sim, é imbecil e mal feito, desculpem a franqueza.
Se kemyanos e humanos fossem duas raças realmente diferentes em muitos aspectos seria algo que funcionaria, mas não, a semelhança entre as duas raças se dá em tantos graus que fica completamente impossível “comprar” a ideia de Crewe. E a descida pela ladeira vai atingindo velocidades estonteantes…
Sombras do Espaço | Amassos e espionagem em Kemya
A princípio Crewe quer nos fazer crer que este segundo livro é recheado de tensão e espionagem espacial… Torpe engano. O que temos na narrativa de Sombras do Espaço é uma arenga que consegue fazer com que os personagens de Crewe sejam ainda mais chatos e resmungões que no primeiro livro.
Skylar, por exemplo, passa páginas e páginas discorrendo sobre alguma queixa ou se deve ou não tomar alguma decisão ou algum curso de ação em relação a tudo ao seu redor. Daí a garota decide agir, e passa mais uma dezena de páginas novamente reclamando, resmungando e choramingando pelos resultados de seus atos.
Sem esquecer a imensa capacidade dos personagens da autora em serem contraditórios, mudando de opinião e atitude o tempo todo como se toda a situação problemática ali fosse apenas uma aventura do ensino médio.
A todo momento a narrativa do livro insiste em dizer que Skylar tem uma habilidade de perceber padrões e pode ajudar os rebeldes a descobrir um traidor em suas fileiras. Então a garota sai pela estação alienígena agindo em seu modo “animal de estimação” para coletar informações que por ventura alguém possa soltar durante uma conversa nos espaços públicos da estação.
E em momento algum a garota humana demonstra nenhuma habilidade de perceber padrões e estabelecer conexões; e quando o faz é tudo um deus ex-machina da autora em prol de sua protagonista… um chiste, um rompante, um estalo mirabolante e BOOM, sem nenhuma lógica Skylar “descobre” algo por um mero capricho de sua criadora, sendo que a garota passa o livro todo sendo enganada por outros personagens sem perceber nenhum padrão evidente.
Simplesmente risível o argumento. É como se você saísse para dar uma ida à feira e ouvisse duas pessoas conversando sobre uma conspiração contra sua família sem saber que aquela pessoa ali perto (você), ou o cachorro ali perto, já que Skylar estava disfarçada de animal de estimação, poderia compreender tudo que estava sendo dito.
Sim, amigo leitor, Skylar entende o idioma de Kemya. Skylar simplesmente começa a estudar o idioma dos kemyanos através de um programa de computador, bastando apenas algumas aulas e a garota já estava fera. Aqui e ali algumas expressões lhe escapavam, mas Skylar se tornou capaz de compreender conversas com facilidade absurda.
Umas semanas apenas e a garota estava mais fluente em kemyano do que era, por exemplo, em algum idioma da Terra que ela havia estudado na escola. Situação inclusive vista no primeiro livro.
Se tudo isso não fosse suficiente, tem toda a lenga-lenga envolvendo o namorico de Skylar com Jule e toda a situação de ciuminhos com Win se arrastando. Tudo intercalado com os fiapos da trama para conseguir montar a arma de Jeanant, descobrir o traidor e se manter oculto dos executores.
Claro, toda a parte da trama e da conspiração são segundo plano, o foco do livro gira quase que exclusivamente no drama adolescente do triângulo amoroso que a autora faz questão de tratar como algo realmente interessantíssimo a ponto de seus próprios personagens falarem coisas como “ao menos vamos dar uns amassos”… Triste, porém real.
No que se refere ao elenco de coadjuvantes da obra, nada melhora muito. Se no primeiro livro Skylar e Win eram destaque e os amigos dela apareciam aqui e ali, dessa vez Win vira quase um mero detalhe na obra, só serve mesmo para ser combustível das situações de ciúmes envolvendo Skylar e Jule.
O restante dos rebeldes kemyanos é só um punhado de nomes com alguns traços de personalidade e outro tantinho de clichês. Crewe também gosta de dar a seus pires, digo, personagens, um quê de modernidade mostrando que em Kemya as relações homossexuais são comuns e normais na sociedade deles, já que são uma raça mais evoluída que os humanos.
Mas daí você se detém bem sobre os personagens homossexuais da obra de Crewe e não faz a mínima diferença se são dois homens ou duas mulheres, pois todos são completamente desprovidos de traços e características marcantes e profundidade.
Seus casais homossexuais poderiam ser casais heterossexuais que ninguém notaria a diferença ou relevância disso na obra. Até porque realmente não tem relevância alguma já que o desenvolvimento de personagens é um ponto fraquíssimo na escrita da autora.
Depois de umas 300 páginas de inconsistências, romances adolescentes nas estrelas, situações absurdas, personagens superficiais, diálogos entediantes, soluções risíveis e forçadas, Crewe resolve dar foco aos atos dos rebeldes só mesmo para deixar o gancho para seu terceiro livro. Admito, um gancho interessante até, mas que, no saldo geral, não se compensa na jornada.
Se a autora se focasse em pegar o que realmente tem de relevante nesse segundo livro e juntasse com o que há de relevante no primeiro, daria um único livro melhor que ambos separadamente – não bom, penas menos ruim que ambos – mas como disse acima, a saga Ecos do Espaço tem toda aquela cara de material feito para ser comprado e adaptado para o audiovisual para os jovens espectadores.
Como livro de modo geral a obra deixa muitíssimo a desejar. Nem como Ficção Científica dá para classificar o trabalho de Crewe, pois todo e qualquer aspecto científico que a obra poderia ter é simplesmente deixado de lado por esquivas textuais bem fracas.
Toda vez que algo sobre algum conceito é questionado a alguém, esse alguém ou diz que não faz ideia, ou o conceito é complicado demais para explicar para Skylar. Chega a ser irritante o recurso escolhido pela autora. Sci-Fi? No máximo é uma aventura com drama adolescente. Desses bem, mas bem repetidos.
Viagens no tempo? Aqui e ali alguém fala disso no livro e acabou-se. Não é nem de longe o eco de uma boa obra. Com sorte e paciência seria no máximo um “regular”, e isso com muita, mas muita boa vontade mesmo.
Parabenizo a editora pelo esforço e interesse em trazer novas obras e autores para o mercado nacional, tanto que não poupei elogios para a ótima trilogia Tronos e Ossos cujos dois livros já resenhei (AQUI e AQUI), bem como para o excelentíssimo Terceiro Testamento que me ecoa o estilo de autores como Philip K. Dick; porém a saga Ecos do Espaço de Megan Crewe se mostrou uma péssima escolha. Acho até que sou uma das poucas pessoas que leu este segundo livro.
Acho também que sou o único que leu o terceiro. Até a próxima resenha lá pelas bandas de Kemya.
Sombras do Espaço | A Autora
MEGAN CREWE formou-se em Psicologia na Universidade de York e passou grande parte dos últimos doze anos trabalhando como terapeuta comportamental e na assistência escolar a crianças e adolescentes com necessidades especiais.
Ela é autora da trilogia Fallen World e do romance Give Up the Ghost, indicado ao Sunburst Award, prêmio que reconhece a excelência de obras canadenses de literatura fantástica. Megan mora em Toronto, no Canadá, com o marido e três gatos.
Sombras do Espaço | Sinopse
Agora que Skylar decidiu ajudar Win a acabar com o controle secreto exercido pelo seu povo alienígena sobre a Terra, ela segue para a imensa estação espacial que Win e o restante dos kemyanos chamam de lar.
Suas habilidades conquistam o respeito dos Rebeldes, porém eles percebem que alguém está vazando informações para o inimigo, quando os Executores intensi cam seus esforços para capturá-los. Skylar tem razões para descon ar de todos os kemyanos.
A cada passo em direção à verdade, Skylar mergulha mais fundo nas vidas ao seu redor e no completo horror do aprisionamento de seu planeta. Para completar sua missão, ela precisa arriscar a própria vida, o seu coração e o futuro da Terra.
Sombras do Espaço | Ficha Técnica
- Título: SOMBRAS DO ESPAÇO
- Autor(es): Megan Crewe
- Assunto: Ficção – Ação e Suspense
- ISBN: 978-85-5539-048-7
- Idioma: Português
- Tipo de Capa:
- Edição: 1º edição 2016
- Número de Páginas: 344
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Resumo
Pouco ou quase nada melhora do primeiro para este segundo livro. Na verdade a queda da qualidade da narrativa de Megan Crewe cai vertiginosamente.
Se antes a narrativa em primeira pessoa de Skylar no primeiro livro ia na direção do estranhamento do que ocorria, neste segundo livro tudo parece perfeitamente normal para a garota que, no meio de todos os riscos, encontra até tempo para uns “amassos” com o galã bad boy kemyano Jule.
Win, personagem que dividiu o primeiro livro com Skylar passa a ser só um detalhe na trama apenas para fazer o terceiro ponto de um triângulo amoroso enfadonho em meio a uma sociedade kemyana sem graça e desprovida de charme e pontos que façam o leitor pensar na raça criada por Crewe como uma raça alienígena realmente inteligente e evoluída.
Toda a narrativa da aventura ocupa um plano de fundo bem, bem apático e arrastado.
Uma dura jornada de leitura até o fim.
Sobre o Autor
Designer de produtos e gráfico, mestre em comunicação, professor.