Em Espaço Sem Limites a jornada de Skylar, Win e seus amigos kemyanos chega ao fim, mas o preço a se pagar por esse fim é alto demais.
Se você chegou até aqui em Espaço Sem Limites, é bom que tenha lido os livros anteriores, pois texto a seguir está repleto de trechos, detalhes e comentários sobre os acontecimentos de Ecos do Espaço e Sombras do Espaço.
Adeus Terra. Olá Kemya
Apesar de todos os esforços de Skylar e do grupo de rebeldes keyanos, o destino da Terra foi o pior possível ao final do segundo livro da Saga. A despeito de todos os problemas narrativos e da escrita da autora Megan Crewe, é louvável como a autora optou por uma situação extremamente impactante para o gancho entre o segundo e o terceiro livro.
A destruição da Terra e a traição de Thlo – a líder dos rebeldes – foi realmente um belo golpe narrativo. Acho que ninguém esperaria por isso. O conceito foi acertado, pena que a execução posterior a isso ficou aquém das grandes possibilidades que a autora deixou pairando no ar.
Mas isso na narrativa de Crewe não é nenhuma novidade, pois a autora fez isso constantemente em sua trilogia: apresentou boas ideias, bons conceitos e executou-os mal.
A destruição do campo temporal kemyano foi uma vitória ínfima e o preço pago pelo sucesso foi alto para Skylar que viu do espaço a destruição completa da Terra.
Ainda sobre o pesado choque da visão aterradora, a garota humana e seus amigos kemyanos foram abordados por uma nave de ataque e feitos prisioneiros pelas ordens de Thlo que, aliada ao Conselho, manipulou tudo e todos para impedir que a Terra fosse o novo lar dos kemyanos.
Depois de acertos pactos de silêncio e conveniências narrativas de Crewe, Thlo libera seus antigos companheiros de rebelião para seguirem suas vidas com algumas restrições, mas sem penalidades severas.
Cada um na sua e sem contatos entre si e tudo ficaria bem. Mas Win não se deu por vencido e sua veia revolucionária pulsava cada vez mais forte.
Dessa vez Crewe deu um bom acerto na narrativa ao dar justamente para Win espaço para se expor, falar e agir por seus próprios passos e não pela voz narrativa de Skylar como havia sido nos outros dois livros anteriores.
Nesse terceiro volume Win alterna capítulos com Skylar, cada um mostrando seus pontos de vista, ações, motivações e planejamentos para por um fim definitivo ao julgo kemyano.
Mais uma vez Skylar é um amontoado de lamúrias e reclamações seguidas por contradições. A situação da grota em mais da metade do livro gira em torno de estar – ela, a família e amigos – nos “zoológicos” kemyanos para estudos da Terra.
Jule, par romântico da garota no segundo livro da série, consegue por milagre resgatar vários humanos antes da destruição da Terra. Os pais de Skylar, sua amiga Ângela e seus pais, alguns vizinhos e professores. Tudo que sobrou de nossa raça se resume a esse punhado do mundinho de Skylar.
Insatisfeito com a situação, Win começa a se movimentar abaixo dos radares para libertar sua amiga humana de algum modo e de revelar para toda Kemya as manipulações e mentiras do Conselho para o futuro de sua raça.
Obviamente Isis e sua namorada são fundamentais para isso, no entanto, a ajuda do traidor Jule se mostra tão fundamental quanto, gerando mais uma vez a situação delicada entre Jule e Win, ambos apaixonados por Skylar.
Espaço Sem Limites | Começa a rebelião
As ações de Win, Jule, Isis, Tabizi e Skylar no cativeiro culminam com uma grande movimentação que divide a estação kemyana em dois blocos bem distintos: pró-humanos e mudanças extremas na maneira como Kemya se porta e pró-conselho e manutenção das tradições do povo kemyano.
A despeito da movimentação para a construção dessa revolução, mais uma vez Crewe se perde entre seu arrastado processo de desenvolvimento de personagens e condução da trama de sua história.
A maioria dos bons autores faz essas duas coisas ao mesmo tempo, ou quando faz uma em detrimento de outra, faz com propriedade e técnica apurada, mas Crewe não consegue fazer isso a contento, infelizmente.
Se narra fatos, Crewe o faz de forma mecânica e arrastada; quando dá voz ao desenvolvimento de personagens pesa a mão no fluxo de pensamentos voltada para reclamações e reflexões extremamente repetitivas em toda a história.
Sem esquecer o fato de que é constante a dualidade dos personagens entre seus interesses próprios e a grande necessidade de fazer algo maior.
E claro, sempre sobra tempo para uns amassos, uns pegas aqui e outros acolá, já que o tom teen da obra “cobra” isso o tempo todo da autora
Tudo fica ainda mais complicado com o aditivo de um núcleo humano atirado ali no meio da coisa toda quase sem mais nem menos.
Neste foco narrativo há toda uma situação que somente Skylar sabe da verdade sobre a destruição da Terra e os demais humanos sequer desconfio do fim do planeta e de que estão numa estação espacial alienígena.
Sentido falta de seus lares e questionando sua situação, os humanos acabam sob a pesada supervisão de médicos, cientistas e da própria Thlo, que chega a confrontar Skylar e a ameaça caso as coisas fiquem fora de controle no cativeiro.
No outro foco, o de Win à frente da revolução, a coisa até anda melhor. O personagem realmente tem aspectos desenvolvidos e sua atitude impulsiva mostrada nos livros anteriores se mantém e Win se mostra o único personagem realmente consistente de Crewe.
Esse destaque na narrativa parece até ser um pedido de desculpas da autora para seu personagem depois de tanta inconsistência ao redor do mesmo.
Passado-se todos os entrementes necessários à revolução dos rebeldes em um árduo vai e volta de decisões e situações até hilárias permeadas pela já amplamente citada contradição dos personagens de Crewe, segue-se um confronto direto entre os rebeldes e os Executores sob as ordens de Conselho de Kemya.
A revolução e a tomada de controle de parte da estação kemyana se dá muito rápido e de forma muito fácil, mas a parte mais complicada disso está situada nos capítulos focados em Skylar e seu cativeiro. Você olha e pensa: ué? bastou isso para ter a situação quase resolvida?
E aqui chegamos ao grande mistério e o real motivo de tudo isso: O Projeto Nuwa. Um estranho experimento de séculos que ocorre tanto em Kemya quanto no extinto planeta Terra.
Vem daí todo empenho kemyano em testar o campo temporal de nosso mundo durante tantos e tantos séculos.
Skylar, Win e seus amigos, precisam, além de manter sua revolução de pé, descobrir do que se trata o tal projeto e desestabilizar de vez a estrutura do Conselho e seus executores.
Tudo que ouve o tempo todo é com base nesse tal projeto que, a meu ver, foi uma solução encontrada de última hora pela autora para justificar tantos pontos discrepantes em sua narrativa
Nessa correria tem de tudo: ação, tiroteio, mortes de personagens irrelevantes, revelações de última hora que impactam toda a trama, romance e um desfecho apressado, com cara de improviso e com um tom de cansaço tanto dos personagens quando da própria autora que parece ter jogado a toalha nos 45 minutos do segundo tempo, finalizando todas as coisas de uma forma simplória, amistosa e excessivamente positiva, como se bastasse um bom papo para que todos os mal entendidos se resolvessem numa boa.
Espaço Sem Limites | Conclusões e Contradições
Ao fim de toda a saga, ficou a impressão de algo que prometeu, prometeu e não cumpriu. Crewe pareceu-me bem intencionada com toda a estrutura que criou, mas quis abraçar o seu próprio mundo de tantas formas variadas que acabou desestruturando o que realmente queria fazer.
Seu excesso de contradições prejudicou demais qualquer verossimilhança que uma obra de ficção precisa conter, o que quebrou constantemente o acordo que há entre leitor, obra e autor de que tudo aquilo, mesmo fantasioso e inventivo, precisa respeitar sua própria lógica interna.
Várias foram as situações que a obra alardeou a capacidade de Skylar de reconhecer e entender padrões, de ser uma garota atenta e por ser de outro mundo, capaz de enxergar melhor a sociedade kemyana e suas nuances.
Mas na prática da leitura nada disso se via. Primeiro que Skylar era constantemente enganada por outros personagens e não conseguia perceber nenhum padrão depois do primeiro livro quando seu problema de “errado” sumiu, segundo que a sociedade kemyana não era tão diferente da nossa ao longo da narrativa, pelo contrário.
Kemyanos são idênticos aos humanos em todos os sentidos, em alguns casos, chegando a ser mais tapados e distraídos que um humano em um dia ruim. E isso porque os caras conseguem viajar pelo espaço e tempo…
E, por fim, era irritante me deparar com personagens dizendo “faça tal coisa assim e assado”, depois voltava eles voltavam e diziam “não faça isso assim e assado” e isso era algo recorrente o texto todo dos três livros.
A despeito da qualidade geral de Espaço Sem Limites, é perceptível que houve uma melhora no ritmo da narrativa com o adendo de Win como um núcleo de condução própria, independente de Skylar nesse livro, mas no geral da trilogia não há tanta evolução desde o até aqui.
Particularmente sempre que uma obra me desagrada muito, começo a refletir se parte do problema da leitura não reside em mim. E sim, reside…
No caso da trilogia de Crewe, é uma obra destinada aos adolescentes cheios de hormônios de toda ordem e que tem aquela ânsia de se sentirem no centro do universo.
Jovens que estão começando a apreciar a leitura e buscam em seus personagens um reflexo quase total de si mesmo: contradições constantes, desejo de aventura e de mergulhar no desconhecido mesmo que isso seja perigoso, relacionamentos intensos e pouco duradores etc.
Crewe entrega tudo isso numa embalagem atraente de com um pouco Sci-Fi extremamente leve, quase inexistente, emulando outras obras de sucesso no segmento teen como as séries Jogos Vorazes, Divergente, Crepúsculo, Maze Runner entre outras. Nas análises dos outros livros frisei que Crewe sempre se esquivava de dar aqui e ali algum aprofundamento técnico para certas coisas em seus livros, nesse terceiro não é diferente.
Acho que Crewe não caiu nas graças do leitor brasileiro por puro azar e não por sua qualidade que, a meu ver, pouco ou nada difere dessas outras séries que os jovens aclamaram como sucesso de venda a ponto de transitar do papel para a telona.
Mais uma vez fica registrado aqui meus parabéns para a Editora Jangada/ Grupo Pensamento pela empreitada em trazer a trilogia para o país e apostar em novos autores para novos leitores.
Minha implicância com Crewe, Skylar, Win e companhia limitada é uma perspectiva de um leitor de longa data e bem, bem longe de ser o foco da trilogia, então fica aí o convite para os aventureiros jovens mergulharem nesse universo fechado e disponível facilmente aos interessados, sem precisar esperar uma conclusão a perder de vista.
Boa viagem aos que forem embarcar para Kemya.
Espaço sem Limites | A Autora
MEGAN CREWE formou-se em Psicologia na Universidade de York e passou grande parte dos últimos doze anos trabalhando como terapeuta comportamental e na assistência escolar a crianças e adolescentes com necessidades especiais.
Ela é autora da trilogia Fallen World e do romance Give Up the Ghost, indicado ao Sunburst Award, prêmio que reconhece a excelência de obras canadenses de literatura fantástica. Megan mora em Toronto, no Canadá, com o marido e três gatos.
Espaço sem Limites | Sinopse e Ficha
Os rebeldes foram dispersados e seus planos, arruinados. Traída por aqueles em quem mais confiava, Skylar se vê aprisionada, junto com um pequeno grupo de terráqueos, na estação espacial dos alienígenas.
Qualquer movimento em falso e Skylar pode causar a extinção do seu povo. Mas desistir significa perder qualquer resquício de liberdade. Enquanto isso, Win volta para casa e se livra de ser punido pelo governo fingindo ser leal a Kemya.
Mas ele não suporta ver Skylar aprisionada ou assistir seus companheiros kemyanos engolirem as mentiras do Conselho sobre a Terra.
Neste livro repleto de ação que encerra a trilogia Ecos do Espaço, nem Skylar nem Win sabem que estão prestes a descobrir uma conspiração ainda mais chocante, que pode lhes roubar definitivamente a esperança de um futuro melhor.
- Título: ESPAÇO SEM LIMITES
- Autor(es): Megan Crewe
- Assunto: Ficção – Ação e Suspense
- ISBN: 9788555390753
- Idioma: Português
- Tipo de Capa: Brochura
- Edição: 1ª Edição 2017
- Número de Páginas: 352
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Sobre o Autor
Designer de produtos e gráfico, mestre em comunicação, professor.