O DESTINO DE UMA NAÇÃO (Darkest Hour, 2017. Direção: Joe Wright. Roteiro: Anthony McCarten. Elenco: Gary Oldman, Kristin Scott Thomas, Lily James, Stephen Dillane, Ronald Pickup, Ben Mendelsohn.)
A Segunda Guerra Mundial, um dos maiores eventos da história da humanidade, é uma fonte aparentemente infinita de materiais para produções de entretenimento.
Todos os anos, temos vários filmes que retratam momentos cruciais da referida guerra, conhecidos do público ou não, e até mostrando a mesma história, de um novo olhar.
O Destino de uma Nação é a mais recente contribuição para essa lista de filmes. O que torna esse filme interessante, por sua vez, e diferente dos demais filmes, é o fato deste apresentar a Segunda Guerra do ponto de vista de uma das figuras políticas mais controversas do evento: Winston Churchill.
O filme se passa em 1940, e mostra a queda do então Primeiro-Ministro do Reino Unido Neville Chamberlain, seguida pela nomeação de Churchill para assumir o cargo, apesar de não ter o apoio do Rei George VI, e nem do próprio partido.
Ao assumir, Churchill deve não somente lutar contra os seus opositores para ganhar a confiança do Parlamento e do povo, mas também deve lidar com a ameaça iminente do exército nazista, cada vez mais próximo das terras britânicas.
O momento escolhido para ambientar o filme é repleto de tensão – como diz o título original do filme, é a hora mais escura. Os nazistas estão dominando toda a Europa, pouco a pouco, restando poucas chances e uma faísca de esperança para os Aliados.
Chamberlain caiu por ser ineficiente em guerra, o que colocou toda a pressão em cima de Churchill na busca por esperança. E a construção do ambiente passa todo esse clima narrado, entre os políticos, entre os soldados, entre o povo.
O diretor do filme, Joe Wright, é um especialista em narrativas históricas. É o diretor de Orgulho e Preconceito e Desejo e Reparação, dois grandes sucessos do cinema. E aqui, Wright traz sua experiência com o gênero para guiar o filme com extrema qualidade, deixando a narrativa clara e bem explicada, atraindo o interesse do público para saber mais sobre o momento abordado – claro, com a ajuda do roteirista do filme, Anthony McCarten, indicado ao Oscar pelo roteiro de A Teoria de Tudo, ou seja, que também sabe como passar fatos históricos com qualidade.
O elenco é recheado de nomes talentosos do entretenimento: Kristin Scott Thomas, como Clementine Churchill, mostra o dilema da mulher do Primeiro-Ministro, tendo que disputar a atenção dele com as tarefas do governo – e como ela mesma diz, perdendo muitas vezes –, mas, ainda assim, sendo a principal motivadora de Churchill em busca da vitória; Lily James, como Elizabeth Layton, secretária de Churchill, que se torna sua companheira e uma pessoa de sua confiança; Stephen Dillane e Ronald Pickup como Lorde Halifax e Neville Chamberlain, respectivamente, membros do partido de Churchill, que tentam encontrar formas de tirá-lo do poder; e Ben Mendelsohn como o Rei George VI, que reluta em colocar Churchill no poder, mas depois adquire confiança no seu trabalho, e se torna um grande aliado na luta. Tem até uma participação de voz de David Strathairn, como o então presidente estadunidense Franklin Roosevelt.
Mas a melhor atuação, que carrega o filme nas costas, sem dúvida, é de Gary Oldman. Um gênio da atuação, conhecido por vários papéis icônicos, Oldman está irreconhecível como Winston Churchill. Tanto fisicamente, quanto na interpretação.
O trabalho de maquiagem para transformar Oldman em Churchill é impecável – digno do merecido Critics’ Choice Awards de melhor maquiagem que ganhou. As próteses e a maquiagem fazem os traços de Oldman sumirem totalmente, trazendo a aparência de Churchill de volta à vida no corpo de outra pessoa.
E a performance de Oldman dá arrepios. Ele atua de forma singular, com o mesmo andar, os mesmos movimentos corporais, a mesma forma de falar – balbuciando, com o mesmo sotaque, nada além do que se sabe que Oldman é capaz de fazer.
Os dilemas de Churchill, a sua grosseria, o seu jeito determinado e forte, seus hábitos de alcoolismo e tabagismo, e seus discursos extremamente empolgantes, dão a sensação de que Churchill, de fato, assumiu o comando do seu intérprete.
A performance é tão icônica que Gary Oldman já levou os principais prêmios de atuação até agora – incluindo o Globo de Ouro de melhor ator dramático e o Critics’ Choice Awards de melhor ator, pela primeira vez na sua vida.
Graças às atuações coadjuvantes, ao bom trabalho de direção e roteiro de Wright e McCarten, ao fiel design de produção do ambiente da época, ao trabalho de maquiagem feito com excelência, e à atuação singular e histórica de Gary Oldman, é certo colocar O Destino de uma Nação como um dos melhores filmes já feitos sobre a Segunda Guerra. E um dos melhores dessa era.
É uma vitória da qual Winston Churchill teria o orgulho de relembrar – e fazer o seu clássico gesto de “V” com as mãos.
O Destino de uma Nação foi indicado a 6 Oscars em 2018:
- Melhor Filme;
- Melhor Ator, para Gary Oldman;
- Melhor Fotografia, para Bruno Delbonnel;
- Melhor Design de Produção, para Sarah Greenwood e Katie Spencer;
- Melhor Figurino, para Jacqueline Durran;
- Melhor Maquiagem, para Kazuhiro Tsuji, David Malinowski e Lucy Sibbick.
A cerimônia de entrega dos Oscars em 2018 ocorrerá na noite de domingo, 4 de março.
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Sobre o Autor
Um ajudante de super-herói perdido em Tatooine, com várias pedras de metanfetamina.