DUNKIRK (Dunkirk, 2017. Direção e roteiro: Christopher Nolan. Elenco: Fionn Whitehead, Tom Glynn-Carney, Jack Lowden, Harry Styles, Aneurin Barnard, Barry Keoghan.)

O cinema é uma arte extensa, quando falamos dos mais variados tipos de filmes que podem existir. Existem filmes com bons roteiros e diálogos intensos – como Pulp Fiction; também temos os filmes com atuações fortes – como Birdman; e os filmes que são essencialmente sensoriais, construídos para experiências visuais e auditivas – como Dunkirk.

Dunkirk é essa experiência sensorial, uma odisseia sobre um dos momentos de maior tensão da história da humanidade: a evacuação dos soldados Aliados, cercados pelas tropas nazistas, da praia e do porto de Dunquerque, na França, durante a Segunda Guerra Mundial.

Essa evacuação – mais conhecida como a Operação Dínamo – é exibida por Dunkirk de três pontos de vista diferentes: em terra, em Dunquerque, os soldados Tommy (Fionn Whitehead), Gibson (Aneurin Barnard) e Alex (Harry Styles) lutam para sobreviver até a dita evacuação ocorrer; no mar, o Sr. Dawson (Mark Rylance), seu filho Peter (Tom Glynn-Carney) e o amigo dele, George (Barry Keoghan), levam o barco civil dos Dawson, o Moonstone, para participar da evacuação dos soldados em Dunquerque; e no ar, dois aviões de caça Spitfire, comandados pelos pilotos Farrier (Tom Hardy) e Collins (Jack Lowden), dão suporte aéreo para a execução da Operação Dínamo.

Essa história complexa, dividida em vários ângulos e sob a visão de várias pessoas distintas, foi criada por um dos maiores cineastas – se não, o maior – da nossa era do cinema: Christopher Nolan, a mente por trás de Amnésia, O Grande Truque, A Origem, Interestelar e a aclamada trilogia do Batman, intitulada O Cavaleiro das Trevas.

Assim como em todos os filmes da sua carreira (exceto Insônia), Nolan ocupa o posto de diretor e roteirista em Dunkirk, tendo todo o controle criativo do filme.

A diferença aqui, para todos os outros filmes da sua carreira, é que, em Dunkirk, Nolan aborda uma história verídica pela primeira vez – que, por ter uma fama que a acompanha, dispensa muitas explicações. Por isso, Nolan investe mais nas suas habilidades diretoriais e na sua refinada equipe técnica do que no roteiro, para trazer a dita experiência sensorial em Dunkirk.

Por ter múltiplos pontos de vista, Dunkirk tem a ausência justificada de um protagonista, desvinculando, assim, a história de uma pessoa, e tornando-a ampla. E de uma forma que poucos conseguem fazer, Nolan cria um ambiente completamente imersivo em Dunkirk, que, por todos os ângulos e em todas as captações sensoriais, nos suga totalmente para dentro da história, e praticamente nos coloca dentro de um dos pontos de vista da evacuação, nos fazendo sentir exatamente o que os personagens sentem.

Nolan filmou Dunkirk com a tecnologia IMAX 70mm, em muitas das locações reais onde ocorreu a evacuação de Dunquerque, o que é mais do que suficiente para tornar o filme extremamente realista aos olhos, de um jeito que somente Nolan consegue fazer, de fato.

Com a ajuda de Hoyte van Hoytema, diretor de fotografia de filmes visualmente belíssimos como Ela, 007 Contra Spectre e Interestelar (também de Nolan), e de Lee Smith, editor de todos os filmes de Nolan desde Batman Begins, o filme fica ainda mais belo visualmente, compondo grandes sequências de todos os pontos de vista, mostrando que Nolan e sua equipe têm uma visão além do alcance. Smith, merecidamente, ganhou o Critics’ Choice Awards de melhor montagem pelo seu trabalho em Dunkirk.

Mas não só da visão vive Nolan. Para a experiência ser completa, o diretor também conta com uma espetacular construção sonora em Dunkirk. A equipe de edição e mixagem de som, com um trabalho magistral, mostram como se faz uma construção sonora não só em um filme de guerra, mas em um filme em geral. A qualidade de todos os áudios e a harmonia entre os sons são tão realistas que a sensação é de estar ouvindo tudo ao vivo.

E se isso não fosse suficiente, Nolan recebe a ajuda mais que ilustre de um dos maiores compositores do cinema: Hans Zimmer, parceiro de longa data dos filmes do diretor. Em Dunkirk, Zimmer faz, mais uma vez, um trabalho singular, ao compor a trilha sonora perfeita para o cenário de guerra, se amoldando perfeitamente a todas as cenas, e aumentando todo o clima de tensão e a sensação de imersão que o filme em si proporciona.

Essa combinação audiovisual é a responsável pela experiência extremamente prazerosa que Dunkirk traz aos seus espectadores.

E combinado a tudo isso, Dunkirk tem um grande elenco para servir como nossos pontos de vista na Operação Dínamo. Os emergentes no cinema Fionn Whitehead, Tom Glynn-Carney, Jack Lowden, Aneurin Barnard, Barry Keoghan e Harry Styles (ele mesmo, o popular vocalista do One Direction) – que mostram que são emergentes, mas que em breve, serão a sensação de Hollywood, com a grande atuação deles em Dunkirk – junto aos veteranos James D’Arcy, Mark Rylance, Kenneth Branagh, e os melhores amigos de Nolan, Cillian Murphy e Tom Hardy – que, mais uma vez, mostram por que são veteranos na arte, com atuações ao nível de seus nomes – carregam a tarefa de mostrar ao público toda a evacuação de Dunquerque, realizada com sucesso – a tarefa e a evacuação –, mesmo com os diálogos propositalmente reduzidos por Nolan para maximizar a experiência sensorial.

Com Dunkirk, Christopher Nolan dá uma verdadeira aula de cinema, não só de como fazer um filme de guerra, mas de como criar uma experiência que agrada aos olhos e aos ouvidos como nenhuma outra. É inegável que será impossível, daqui pra frente, pensar em um filme sensorial, pensar em Nolan, sem pensar em Dunkirk.

P.S.: Para quem quer sentir a história completa da Operação Dínamo, Dunkirk e O Destino de uma Nação se complementam – mesmo sem querer. O filme com Gary Oldman como Winston Churchill mostra os momentos antecedentes e o planejamento da evacuação executada no filme de Christopher Nolan. Vale a pena assistir tudo.

Dunkirk foi indicado a 8 Oscars em 2018:

• Melhor Filme;
• Melhor Diretor, para Christopher Nolan;
• Melhor Trilha Sonora Original, para Hans Zimmer;
• Melhor Edição de Som, para Richard King e Alex Gibson;
• Melhor Mixagem de Som, para Mark Weingarten, Gregg Landaker e Gary A. Rizzo;
• Melhor Design de Produção, para Nathan Crowley e Gary Fettis;
• Melhor Fotografia, para Hoyte van Hoytema;
• Melhor Montagem, para Lee Smith.

A cerimônia de entrega dos Oscars em 2018 ocorrerá na noite de domingo, 4 de março.

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