ME CHAME PELO SEU NOME (Call Me By Your Name, 2017. Direção: Luca Guadagnino. Roteiro: James Ivory. Elenco: Timothée Chalamet, Armie Hammer, Michael Sthulbarg, Amira Casar, Esther Garrel, Victoire Du Bois.)
É fato que o amor é uma ferramenta infalível, uma premissa segura para a produção de filmes, desde sempre. Mas é admirável e confortante saber que, ao longo dos anos, o próprio cinema evoluiu e se adaptou à realidade, aprendendo a explorar as formas de amor mais variadas possíveis – nunca estranhas ou diferentes, mas simplesmente pouco visitadas.
Dessa evolução da mentalidade cinematográfica, nasce Me Chame Pelo Seu Nome, que não é original – é uma adaptação do livro homônimo de 2007, escrito por André Aciman –, mas que é uma novidade para o cinema romântico, ajudando a expandir os conceitos de “amor” que a sétima arte tem.
O filme se passa no ano de 1983, e retrata a chegada de Oliver (Armie Hammer), um estudante estadunidense, à casa de seu professor, Sr. Perlman (Michael Sthulbarg), localizada em uma região da Itália. Visitando o professor durante a temporada para uma espécie de estágio, a fim de estudar mais, Oliver é acompanhado a todo momento por Elio (Timothée Chalamet), filho do professor, que recebe a responsabilidade de ser seu guia e companheiro durante a estadia. Dessa relação coagida, Elio e Oliver acabam desenvolvendo um laço, afeições, romance e amor um pelo outro.
O principal atrativo do filme é justamente esse laço, não só entre os personagens, mas principalmente entre os atores: Timothée Chalamet e Armie Hammer são os motores do filme.
É impressionante o nível de entrega dos atores para os seus personagens, vivendo a intensidade do romance a cada minuto, e explorando os detalhes dos seus personagens, como se fossem eles mesmos.
Timothée Chalamet, como Elio, mostra toda a sua habilidade, a sua capacidade de atuação, e a sua projeção para um futuro brilhante no cinema. Cheio de expressões faciais, extremamente variadas, Chalamet transparece todas as sensações de Elio, todos os sentimentos que se afloram por Oliver, toda a admiração que sente pelo seu par, toda a insegurança de se entregar ao amor, todas as descobertas que ele está fazendo e ainda pode fazer, com uma naturalidade impressionante.
Armie Hammer, por outro lado, mostra o quão maduro já é nesse meio cinematográfico. Conhecido por papéis mais leves nos filmes A Rede Social, O Cavaleiro Solitário e O Agente da U.N.C.L.E., o ator mostra, como Oliver, o quanto evoluiu e o quanto aprendeu com tudo, passando uma figura aventureira, experiente, até escultural, com todo o aprendizado e com toda a maturidade a passar para Elio em um relacionamento, ao mesmo tempo em que acaba sentindo todo o afeto pelo personagem, sendo inseguro e apaixonado como um garoto de 17 anos, como Elio.
E é muito bela a relação de Elio e Oliver em cena. Chalamet e Hammer possuem uma inegável química em Me Chame Pelo Seu Nome, uma ligação inexplicável que chega a ser de outras vidas. Os atores nasceram pra atuar juntos, um como o par do outro, de tão envolvente e convincente que o relacionamento deles mostra ser nas telas.
Michael Sthulbarg chega em segundo plano na produção, mas com uma performance memorável em um papel vital para o filme, representando para o casal todo o apoio que a família pode e deve dar ao romance.
Em uma figura quase divina, onipresente em cena, aparentando saber de tudo, o Sr. Perlman é o mediador, o incentivador, o confortador, com lindas mensagens e discursos, em um trabalho memorável para Sthulbarg e que só engrandece seu nome ainda mais no cinema.
A adaptação é comandada por Luca Guadagnino em um trabalho belíssimo. O seu trabalho como diretor do filme concede tomadas na região italiana que são de tirar o fôlego, combinados a uma trilha sonora confortante e envolvente – incluindo uma canção espetacular, “Mystery of Love”, composta por Sufjan Stevens – e sequências belíssimas entre os protagonistas.
O elo entre o livro e o diretor é o roteiro – escrito por James Ivory, indicado ao Oscar por seus trabalhos como diretor de Uma Janela para o Amor, Retorno a Howards End e Vestígios do Dia. Originalmente envolvido na direção de Me Chame Pelo Seu Nome, o cineasta acabou trabalhando apenas no roteiro – e não deixou a desejar.
Ivory, mantendo 97% dos aspectos do livro de André Aciman, investe na extrema fidelidade do texto à obra, sendo responsável por transparecer elementos vitais para o filme, como a visão escultural com a qual Elio admira Oliver, como a multiculturalidade que a família Perlman possui – trocando entre várias línguas com naturalidade, em uma metáfora que baseia a aceitação amorosa com Elio – e os vários momentos de amor e revelação entre os protagonistas.
O ponto mais forte do roteiro, arrisco dizer, é a forma singular como o romance de Elio e Oliver é tratado, não como um romance homossexual estereotipado, e sim como algo natural – um espanto anormal, pois tal aspecto natural é como deveria sempre ser –, guiando uma história de amor, com tratamentos naturais vistos frequentemente somente em romances heterossexuais, e mostrando, mais uma vez, que o cinema se expande a todos os romances cada vez mais. Certamente, se Guadagnino e os atores trabalharam bem, foi graças ao roteiro de Ivory.
Com boas mensagens sobre o amor, um roteiro absurdamente fiel à sua obra-base, e atuações impecáveis, resultantes de uma entrega total dos atores e do roteiro já exaltado, Me Chame Pelo Seu Nome é um filme de amor que revoluciona ao tocar na essência deste amor como poucos filmes conseguem fazer, de uma forma pouco comum e gratificantemente crescente na sétima arte.
Me Chame Pelo Seu Nome foi indicado a 4 Oscars em 2018:
- Melhor Filme;
- Melhor Ator, para Timothée Chalamet;
- Melhor Roteiro Adaptado, para James Ivory, baseado no livro homônimo de André Aciman;
- Melhor Canção Original, para “Mystery of Love”, de Sufjan Stevens.
A cerimônia de entrega dos Oscars em 2018 ocorrerá na noite de domingo, 4 de março.
Trailer | Me Chame Pelo Seu Nome
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Sobre o Autor
Um ajudante de super-herói perdido em Tatooine, com várias pedras de metanfetamina.