Quadrinhos | A tribo, Perseu e Aline – Carrapato Estágio 2

Em 2014 a dupla de artistas brasileiros Tony Brandão e Junior Cortizo lançaram na edição da CCXP daquele ano o crossover A tribo, Perseu e Aline – Carrapato, unindo a dupla de irmãos Perseu e Aline (de Brandão) com o super-grupo A Tribo (de Cortizo).

No, literalmente, explosivo encontro entre os heróis, a dupla de autores nos entregou nesse volume 1 uma aventura frenética, divertida, irreverente e muito bem conduzida pelos artistas que ficaram responsáveis por todas as etapas da produção do material (veja a resenha de A tribo, Perseu e Aline – Carrapato AQUI)

A tribo, Perseu e Aline – Carrapato Estágio 2Alguns anos depois — e com absoluta certeza muitos percalços no meio do caminho — Brandão e Cortizo retomam seu projeto em companhia de Nando Alves nos roteiros e mais uma vez unem seus personagens para lidar com os desdobramentos e consequências dos acontecimentos de A tribo, Perseu e Aline – Carrapato. E elas são muitas…

A tribo, Perseu e Aline | Das praias e morros do Rio para as ruas de Sampa…

Ao fim do vertiginoso confronto que deixou em pânico a cidade do Rio de Janeiro, uma forte e sólida amizade se formou entre os integrantes da Tribo e a dupla de irmãos Perseu e Aline, a necessidade de estreitar ainda mais esses laços veio oportunamente quando os espólios da luta contra o tecnoparasita chamado Carrapato começaram a ser traficados no mercado negro chegando até São Paulo.

A tribo, Perseu e Aline – Carrapato Estágio 2Para impedir que a mesma tragédia do Rio de Janeiro se repita em São Paulo, o super-grupo A Tribo mobiliza todos os seus agentes para caçar e destruir qualquer possibilidade do Carrapato cair em mãos erradas. Mas para a surpresa dos vigilantes, o Carrapato já estava em uma nova versão, mais estável, mais evoluída e mais fácil de direcionar sua aplicação.

Diante do novo desafio, A Tribo se reúne e traça uma nova estratégia de ação: convocar Perseu para auxiliar o grupo numa investida com força total contra os laboratórios da megacorporação Tadashi Tecnológica, responsável pelo Carrapato.

Partindo do Rio para São Paulo, Perseu acaba tendo de levar consigo sua irmã Aline, a quem o grandalhão tenta a todo custo proteger e deixar no anonimato e, obviamente, fora de perigo. Mas suas tentativas quase sempre são frustradas pela esperteza da caçula que, como toda adolescente, não quer ficar fora da diversão.

Novamente juntos, Perseu, Aline e a galera da Tribo armam uma estratégia de ataque que atende uma demanda inegociável para Perseu: deixar Aline longe dos conflitos que se seguirão, uma vez que esse ele sequer cogitou trazer a irmã para a linha de frente.

Com isso definido, o trio das “meninas superpoderosas” se forma novamente e Aline, Volt e Portal saem para conhecer São Paulo e acabam longe da diversão… pelo menos por hora. A frente de ataque dos rapazes é composta por Cura, Lynx, Tiborg, Puma e Perseu, que partem com força total para desbaratar as operações da Tadashi Tecnológica e tirar de vez o Carrapato de circulação.

A tribo, Perseu e Aline – Carrapato Estágio 2 | Luz, câmera, ação…

Nesse segundo volume é perceptível a evolução de Brandão e Cortizo como dupla criativa. A narrativa está muito mais fluída que no volume anterior e a arte muito mais caprichada em todas as páginas, com cores vivas, páginas duplas estonteantes, muitas cenas de ação que tem toda a pinta de storyboard de filme blockbuster e uma trama que deixa antever uma miríade de possibilidades.

Em A tribo, Perseu e Aline – Carrapato Estágio 2 a estratégia de separar a narrativa em dois focos de ação a meu ver não poderia ter sido melhor. O que poderia ser um aparente equívoco em separar as heroínas dos brutamontes , por exemplo, acabou dando resultado mais que perfeito, uma ótima oportunidade de se desenvolver os personagens em duas situações diferentes para mostrar o potencial de atuação dos mesmos diante das adversidades que a aventura deste volume 2 nos apresenta.

A tribo, Perseu e Aline – Carrapato Estágio 2

O aditivo de Puma e Tiborg no volume 2, a meu ver, também foi outro ponto espetacular, os dois personagens trouxeram novas dinâmicas para a ação com a selvageria do homem-felino e muito humor com as tiradas de Tiborg durante suas cenas de ação e porradaria, uma vez que combate corpo-a-corpo é uma especialidade do personagem que havia tido apenas uma pequeníssima participação no volume 1.

Cura e Lynx que protagonizaram momentos memoráveis do volume 1 não ficaram em segundo plano e também enriqueceram várias das cenas frenéticas da HQ. E são muitas cenas de encher os olhos e as páginas.

Lutando lado a lado com os membros da Tribo, mais uma vez Perseu se equipara ao grupo ao mesmo tempo que fica perceptível a noção de que o jovem herói é um tipo de oposto aos personagens do grupo. Perseu parece sempre muito sério, reservado e contido, como se estivesse pouco à vontade no papel de herói salvando o dia, mesmo que isso seja extremamente necessário, o jovem herói mais uma vez parece seguir seu senso de dever muito mais do que seu espírito de “super-herói” e encara a ação ao lado dos veteranos da Tribo porque as consequências de uma omissão seriam ainda pior do que ônus da exposição.

A tribo, Perseu e Aline – Carrapato Estágio 2Mas a sinergia entre os integrantes da Tribo com Perseu na hora do combate é perfeita e a dupla de autores aproveita as habilidades de cada um para nos proporcionar cenas de combate com os heróis realizando combos em conjunto ao melhor estilo dos games de luta com duplas ou trios… Um vem de lado e dá um soco, outro vem por cima com uma joelhada voadora, outro chega deslizando pelo chão e desfere um corte diagonal no tórax do inimigo… Um verdadeiro show que também nos remete aos bons filmes de ação hollywoodianos.

E se no volume 1 tínhamos uma matriz do Carrapato que criava seus minions através da proliferação de seus esporos, aqui temos inimigos pontuais para dar maior dinâmica nos confrontos, com criaturas mais humanoides e mais inteligentes com capacidade de potencializar a infecção do tecnoparasita para analisar seus adversários e operar contramedidas. O que dá muito mais trabalho para os heróis contornarem a ameaça dos monstros.

Se os confrontos físicos são a tônica do arco dos brutamontes, não fica atrás as alucinantes cenas de perseguição de carros pelas ruas de Sampa que precedem os combates, com direito a muitas explosões, guinadas de última hora e balas voando para todo lado.

Mais uma vez a dupla Brandão e Cortizo mostra o quão evoluíram e o como sua noção narrativa está apurada nas páginas de A tribo, Perseu e Aline – Carrapato Estágio 2, nos proporcionando uma leitura fluída e rápida, ao mesmo tempo em que ficamos detidos nas páginas apreciando os mínimos detalhes que os artistas vão deixando aqui e ali constantemente, numa brincadeira divertida e engraçada de achar mensagens deixadas propositalmente para agradar o fã de HQs, sobretudo os de longa data.

Mas se de um lado temos os grandalhões saindo no braço com os monstrengos, explodindo tudo num louco e absurdo excesso de testosterona, do outro temos toda a elegância, beleza, charme e sensualidade das meninas desfilando outro tipo de estratégia na parte da narrativa destinada a elas.

A tribo, Perseu e Aline – Carrapato Estágio 2 | Aline, Volt e Portal na Super Con

Se em algum momento lhe pareceu que afastar as meninas da ação direta poderia parecer um erro, ao contrário, é um grande acerto. Em seu arco dentro da trama geral, o trio de heroínas pôde brilhar em plenitude e com toda a força do Girl Power.

Se dirigindo para o evento pop-nerd chamado Super Con, as duas integrantes da Tribo levam a jovem Aline para um passeio longe da caçada empreendida pelos grandalhões, tudo a pedido de Perseu que, a contento, cumpre seu papel de irmão mais velho e responsável pela segurança de Aline que, mesmo sendo extremamente poderosa, é uma adolescente que não tem plenos controles e conhecimentos de seus dons.

A tribo, Perseu e Aline – Carrapato Estágio 2Escoltada pelas experientes Volt e Portal, o passeio tinha tudo para dar certo, no entanto um dos esporos desgarrados do primeiro Carrapato faz mais uma vítima que já havia cruzado o caminho de nossos heróis e acaba por fazer isso mais uma vez.

E aqui, nas dependências da Super Con – guarde os nomes de Junior Cortizo e Tony Brandão caso ainda não tenha feito isso até aqui – os autores de A tribo, Perseu e Aline – Carrapato Estágio 2 se realizam em plenitude na estruturação de sua narrativa cinematográfica.

Se os garotões tiveram sua cota desenfreada de ação maluca com direito a socos, chutes, poses extravagantes e muita testosterona de filme de ação, as meninas não ficam atrás e tem direito aos mesmos traquejos do bom quadrinho de ação. Com direito a páginas e páginas de homenagens e referências a um sem número de personagens brasileiros criados ao longo dos últimos anos.

O trio de heroínas usa e abusa de suas habilidades para contornar a infecção do Carrapato que, mais uma vez, espalha seus esporos e começa a arregimentar soldados entre os cosplayers da Super Con, estes, por sua vez, acabam emulando através da tecnologia do Carrapato as habilidades dos personagens que estão sendo homenageados pelos cosplayers do evento.

A tribo, Perseu e Aline – Carrapato Estágio 2

Diante do imenso número de civis dentro das instalações do evento, a preocupação das personagens é justamente em potencializar seus dons para minimizar os danos e neutralizar os efeitos que os infectados possam causar ao trio e a si mesmos.

Muitas vezes apreciar a narrativa das garotas parece uma partida frenética de algum jogo de RPG, tendo a dinâmica do trio agindo nas frentes de defesa com os escudos de Aline e seu poder de cura; com as armas versáteis de Portal que neutralizam, mas não ferem, bem como seus portais que permitem deslocamentos ágeis e estratégias de combate imprevisíveis e por fim, Volt entra em cena com seus poderes elétricos que podem ser utilizados também no ataque direto, mas sem efeitos mortais, atordoando os adversários capturados pelo Carrapato.

Se dum lado a força bruto dos brutamontes visa destruir e eliminar, a estratégia das ladies é pensada para proteger e neutralizar os efeitos do inimigo sobre os infectados. Os polos da narrativa são justamente opostos em objetivo e organização.

Vale notar que durante a ação do trio de heroínas, Volt e Portal, as mais experientes e treinadas, deveriam tomar conta de Aline e evitar que a adolescente estivesse em perigo, mas diante da adversidade imprevista na Super Con é justamente Aline quem toma a dianteira da ação e parte para ataques diretos, bem como aplicação de seus dons de cura para eliminar os esporos do Carrapato.

É perceptível que este volume 2 tem entre seus muitos objetivos, tornar Aline uma personagem ainda mais poderosa e mais madura, capaz de rivalizar com adversários poderosíssimos e ainda assim manter seu ar de inocência e leveza.

A tribo, Perseu e Aline – Carrapato Estágio 2 | Ainda tem mais vindo por aí…

Mais uma vez Tony Brandão e Junior Cortizo com sua arte bonita, suas cores vivas e vibrantes dão todo o tom de diversão e ação ao roteiro de Nando Alves que amarra e estrutura muitíssimo bem a narrativa deste volume 2 que resgata toda a tônica cinematográfica do volume 1 e expande sobremaneira a ideia do Carrpato e da trama maior que há em torno dos irmãos Perseu e Aline, bem como das maquinações da Tadashi Tecnológica que começa a se movimentar mais ferozmente atrás das cortinas.

A tribo, Perseu e Aline – Carrapato Estágio 2Acredito que o aditivo de um terceiro nome trabalhando com a dupla do primeiro volume (me refiro a Alves), foi substancial para que os Brandão e Cortizo se concentrassem em outros aspectos de sua trama maior, bem como permitiu a evolução de certos aspectos da condução da obra de modo geral.

Este volume 2 é tanto mais divertido quanto mais bem construído que o anterior, fato que acredito também se deva ao maior entrosamento dos idealizadores da ideia quanto de seu planejamento para a execução da HQ.

A tribo, Perseu e Aline – Carrapato Estágio 2 tem 122 páginas (contando aproximadamente 100 páginas só de história e mais os extras) e ainda assim é uma narrativa que se lê de um fôlego só sem percebermos o tempo passar.

Mergulhar em cada quadro, perceber as minúcias da arte, das cores, os pequenos e divertidos extras espalhados ao longo da revista e se envolver com a trama é algo de extrema facilidade.

A ação frenética se encadeia e deixa aberturas narrativas até mesmo nos momentos de pausa e transição dos focos narrativos e, se tem algo em excesso aqui, esse algo é talento e diversão.

Se no volume 1 Brandão e Cortizo eram uma grande promessa juntos, aqui nesse volume 2 essa promessa está mais do que concreta e realizada quando a dupla nos entrega mais maturidade no roteiro e uma arte ainda mais dinâmica e versátil.

O maior número de páginas em relação ao volume anterior também é um aditivo de grande importância, exatamente o que permitiu o melhor desenvolvimento da narrativa deste volume 2. Também soma-se aos novos brilhos desta segunda edição da saga do Carrapato as participações de outros artistas que enriqueceram algumas páginas internas da HQ e/ou alguns dos extras da edição.

A tribo, Perseu e Aline – Carrapato Estágio 2 é quadrinho de ação, daqueles que você pega e se diverte como se tivesse ido à locadora (sim, sou desse tempo) e tivesse alugado meia dúzia de filmes de ação daqueles que você mergulha no absurdo das explosões, das lutas marciais acrobáticas e piadas infames.

Mas acima de tudo, A tribo, Perseu e Aline – Carrapato Estágio 2 tem toda aquela aura de quadrinho noventista: heróis grandalhões com máscaras de caveira e trajes de aspecto militarizado, espadas enormes, heroínas lindíssimas em trajes coloridos soltando raios brilhantes na mesma intensidade que proferem frases de efeito cheias de humor e ironia, monstros enormes e cheios de músculos por todos os lados, explosões, muitas explosões, uma equipe de super-seres que, acima de tudo, são grandes amigos enfrentando um vilão misterioso que manipula tudo das sombras… E sim, isso é um puta de um grande elogio (… e não esqueçam, não são pochetes, são bolsos extras).

O saldo que A tribo, Perseu e Aline – Carrapato Estágio 2 deixou pra mim? Diversão, muita diversão, algumas horinhas voltando e relendo alguns trechos e apreciando calmamente a arte e as cores do grupo de artistas que, a meu ver, se divertiu igualmente fazendo esse excelente trabalho. Fruto de uma campanha bem sucedida na plataforma de financiamento coletivo do Cartarse, A tribo, Perseu e Aline – Carrapato Estágio 2 veio mais uma vez em uma belíssima edição impressa, com ótimo papel na capa e no miolo, o que só valorizou todos os aspectos estéticos da revista.

A tribo, Perseu e Aline – Carrapato Estágio 2

Se curti muito A tribo, Perseu e Aline – Carrapato, este volume 2 foi ainda melhor, potencializando tanto arte quanto roteiro e deixando antever que em breve teremos ainda mais história vindo por aí. Minha única e pesada crítica fica por conta do grande hiato entre as duas edições o que, a meu ver, não necessariamente é culpa de Brandão e Cortizo, idealizadores do projeto.

Quem, assim como eu, acompanha já há algum tempo o mercado nacional de HQs, sabe muito bem que nossos artistas precisam superar um sem número de percalços e problemas, sobretudo artistas como Tony Brandão e Junior Cortizo que publicam e lançam seus materiais de forma autoral, muitas das vezes exercendo profissões cotidianas que não são relacionadas ao mundo dos quadrinhos.

Mas se depender do Ponto Zero e deste fã aqui, a saga do Carrapato vai ter sempre seu espaço de destaque; afinal das contas, em nosso mercado todo artista é também um grande herói…

E que venha A tribo, Perseu e Aline – Carrapato Estágio 3, a ansiedade e a curiosidade estão exatamente como os poderes de Aline: só aumentando…

P.S.: Ao final da sessão, não saia da sala de cinema, tem cena pós-crédito 😉

A tribo, Perseu e Aline – Carrapato Estágio 2

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    Premissa - 100%
  • 100%
    Contextualização - 100%
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    Roteiro - 100%
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    Arte - 100%
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    Cores/Colorização - 100%
  • 100%
    Acabamento - 100%
100%

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Designer de produtos e gráfico, mestre em comunicação, professor.

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