O Livro É | Isaac D, de Leandro Pileggi

Isaac D, do autor brasileiro Leandro Pileggi é uma aventura cheia de ação, bons conceitos e uma narrativa que ecoa muito os aspectos do “romance de formação” de todo autor estreante.

Vindo na esteira do vácuo deixado por personagens como Harry Potter e Percy Jackson, Isaac D, o livro, é repleto de situações, personagens e tom narrativa que ecoam muito os aspectos deixados por seus antecessores no imaginário dos jovens leitores.

logotipo do livro Issac DA narrativa e o mundo criado por Pileggi lembram bastante também o trabalho do célebre escritor inglês Neil Gaiman nos levando por uma jornada frenética de fantasia urbana onde vários seres e conceitos fantásticos já conhecidos se misturam com ideias do próprias do autor e sua mitologia crida para a obra.

Isaac D | Uma corrida pela verdade em terras desconhecidas

Isaac D chega à cidade grande para cursar a universidade, mas por um infortúnio, acaba tendo de dormir do lado de fora do prédio onde passaria seus anos de estudo… Não foi a melhor noite da vida de Isaac.

capa do livro Isaac DJá pela manhã o jovem Isaac acorda num corpo estranho, muito mais velho que o seu e em um lugar que nunca viu antes, ao lado de uma bela mulher tão estranha quanto todo o resto da situação.

Mas isso também é temporário e segue-se uma correria frenética de trocas de corpos, cigarras gigantes, um homem com cabeça de elefante e os Slenders… E calma, isso é só a pontinha do iceberg.

Isaac D é um livro que nos joga sem muita cerimônia numa torrente de situações bizarras, ágeis, perigosas e faz tudo isso sem nenhuma explicação ou preâmbulo para que o leitor possa compreender de antemão o contexto da situação de Isaac D, o personagem.

Assim como em alguns textos do já citado Neil Gaiman, Isaac D é uma obra que se utiliza muito de conceitos e personagens já bem difundidos no imaginário coletivo pop (algo similar ao que ocorreu em Deuses Americanos e Filhos de Anansi, de Gaiman).

O personagem Slender, com seus longos membros e a cabeça desprovida de rosto, é um exemplo desse expediente, um meme amplamente conhecido na internet e difundido em várias mídias.

Outros expedientes como esse se seguem na narrativa do livro como a forte presença de elementos lovecraftianos suas influências na cultura pop em geral.

Isaac D | Um estranho em terra estranha

Em sua corrida frenética de corpo em corpo, Isaac acaba “trombando” com Katarina, uma linda, talentosa e jovem garota com quem acaba dividindo temporariamente o corpo em sua fuga dos assustadores Slenders.

Katarina acaba levando Isaac para conhecer Sarah, a “Boss”, uma poderosa mulher capaz de criar golens e incorporar nesses corpos a mente de pessoas desgarradas por seu mundo, uma espécie de realidade simultânea a nossa, mas que é habitada pelos espíritos dos mortos e outras variadas formas de existência.

Ao chegarem em Nova Ulthar (sim uma clara referência ao conto do escritor H.P Lovecraft), a vila espectral comandada por Sarah, Isaac acaba sendo informado sobre alguns dos aspectos da realidade que está habitando e também recebendo um corpo novo: mais forte, mais alto e bonito do que o corpo que possuía na Terra na ocasião em que adormeceu na porta do prédio onde deveria residir.

capa completa do Isaac D

De posse de seu novo corpo Isaac precisa dominar também suas novas habilidades assim como os demais habitantes da vila de Nova Ulthar, cada um com suas particularidades, habilidades e humor, temos a perfeita e clichê situação de apresentação da “equipe de super-seres”, onde há aqueles que se estranham, os de bom humor, os misteriosos, os receptivos, os emburrados… Você já viu isso em Titãs, X-men, Liga da Justiça e Vingadores.

Interagindo com os demais moradores de Nova Ulthar, Isaac percebe que pode fazer inúmeras coisas e que possui força e agilidade acima do normal, mas ainda assim é inevitável a boa e velha surra por parte de algum dos moradores veteranos.

A brincadeira não se estende muito e mais uma vez Isaac precisa empreender outra fuga frenética para salvar sua vida e a dos demais moradores da vila. Um ataque massivo dos Slenders coloca em risco todos que estão ali, tanto os superdotados quanto os moradores mais comuns.

O ataque é parcialmente contido, mas a evacuação da cidade se torna inevitável e então Katarina e Sarah percebem que Isaac é o motivo de varias situações incomuns que estão ocorrendo no mundo dos espectros. E aqui começam realmente as loucas aventuras do jovem Isaac.

Isaac D | Fantasia urbana, ação, referências, inspiração e possibilidades

Isaac D é um livro interessante, um tanto imaturo em alguns pontos, mas tudo compreensível já que é um livro de estreia, ainda assim uma bela e divertida aventura para quem gosta de ação, humor e boas doses de referências à cultura pop-nerd de modo geral. Games, cinema, HQs, séries televisivas e a Literatura mais recente estão presentes no imaginário mitoloígico do universo de Isaac D.

Sua narrativa acelerada é uma prova disso e a perspectiva de nos atirar no meio de um mundo estranhamento fantástico e repleto de criaturas sobrenaturais sem explicar nada é um bom ponto de partida para conduzir a narrativa da obra que vai gradativamente nos guiando para as respostas dos muitos mistérios e problemas da vida do personagem Isaac, bem como de seu leque de coadjuvantes.

E em se tratando de personagens eu acho que temos um problema na obra: muitos personagens são apresentados no começo do livro quando Isaac chega até Nova Ulthar, fazem caras e bocas, encarnam tipos comuns na narrativa de aventura e depois somem sem mais nem menos, deixam um vácuo na narrativa e não exercem mais nenhuma função nela.

Há aqui e ali um motivo pra isso ser assim, isso se nota na obra, mas a meu ver ficou parecendo que a maioria desses personagens só foram colocados ali no livro para fazer “caras e bocas”, uma meia dúzia de referências e só. Se nenhum deles ou se a maioria deles não tivesse sido sequer citada no livro, realmente não afetariam em nada o livro.

Com exceção de Boss e Katarina, todos são apenas um punhado de nomes e características genéricas. Inclusive a própria Boss me pareceu uma personagem pouco aproveitada para o potencial lhe dado no texto.

Durante toda a narrativa do livro fica patente para mim que Pileggi pretendia criar e solidificar seu mundo a todo instante de seu livro; e consegui.

O custo de firmar esse alicerce foi alguns pontos falhos na narrativa que acabou ficando em muitos trechos com uma cara meio “corrida”, às vezes essa correria se entrelaça e se mistura com a ação frenética que a obra é em si mesma e isso é muito positivo, mas nos momentos em que tudo gira em torno de uma constante fuga de um lugar a outro com Isaac sendo perseguido por um monte de monstros acaba ficando repetitivo e previsível.

contracapa do livro Issac DOutra coisa que me deixou incomodado no livro é o excesso de  “fazer uma referência” a alguma obra, autor ou situação da cultura pop-nerd, essa insistência acabou ficando artificial demais e pouco natural no meio do texto, dando um aspecto de que a coisa foi tão “espontânea” que é pouco provável que alguém citasse tais coisas numa conversa qualquer.

Fora isso há também o fato de Isaac, o personagem, simplesmente é bobo demais e acaba nunca entendendo nada de nenhuma piada ou referência.

Tudo bem que é um jovem do interior e pode perder muito do humor envolvido em algumas tiradas, mas sua “inocência” e desconhecimento de cultura pop acabam sendo demasiadamente forçados.

Em uma época em que já existe Uber e celular (isso está logo no comecinho do livro), desconhecer total e completamente a existência de  Guerra dos Tronos é uma impossibilidade enorme.

Eu, por exemplo, não sou nem um pouco fã da obra de Martin e sua obra, mas conheço diversos personagens por seus nomes e sobrenomes… e Isaac simplesmente não conhece nem a série? Difícil hein… E convenhamos, um tio chamado Ben que lhe deu vários conselhos? Valeu a homenagem e a intenção, mas realmente ficou forçado demais.

Mas há de se convir que Pileggi nos reserva muitas surpresas quando resolve focar no desenvolvimento de sua mitologia e na origem de seu protagonista, dando-nos uma grande revelação acompanhada de um grande embate nos capítulos finais do livro, sem deixar nada a desejar aos desfechos daquele anime ou daquele game épico que marcou gerações.

Relevando-se esses pontos que elenquei sobre o livro, Isaac D é uma leitura de fôlego e tem todos os requisitos para agradar sua audiência, sobretudo pela velocidade de sua história e pela maneira como Pileggi utiliza as cenas de ação em favor de sua progressão narrativa, apesar de algumas serem apressadas demais, todas tem uma função no andamento da história.

Ironicamente, nesse caso acho que Pileggi acabou sendo refém de suas próprias referências e influências, pois não foram poucas as situações do livro em que imaginei que tudo aqui ali no texto seria muito mais forte e interessante se fosse apresentado a nós na forma de uma HQ, por exemplo; e as belas ilustrações que compõem o livro só vem reforçar essa sensação de que Isaac D tem potencial de sobra para ser uma história em quadrinhos de encher o olho, não só pelo mundo em que se passa, mas acima de tudo pela maneira como Pileggi escreve.

No saldo geral Isaac D é um livro para jovens leitores, daqueles que tem certa urgência em fazer tudo rapidamente e vem sim suprir a demanda por novos personagens que dialoguem com jovens leitores que tem apreço por ver ecos de si e de seu mundo nos personagens que consomem.

A publicação da obra vem engrossar o catálogo da AVEC Editora no segmento de fantasia urbana para jovens leitores ao lado de livros como Betina Vlad, Magia em Jogo, o jovem Sherlock Holmes entre outros divertidos e criativos livros que, mesmo direcionados para o leitor mais novo, tem tudo para agradar os veteranos que queiram ler algo leve e divertido.

Passado-se o afã da estreia, tenho expectativas de que Pileggi seja um nome mais do que um nome promissor em nossa literatura e se torne um nome constante, expandindo os conceitos que criou em seu livro de estreia para outros novos livros. Isaac D abriu muitas portas, espero poder adentrar algumas delas futuramente. E reforço minha sugestão de que Isaac D daria uma HQ espetacular.

P.S.: Isaac D tem ótimas ilustrações em alguns capítulos, ora no meio do texto, ora funcionando como divisória entre o fim de um capítulo e o começo do seguinte e, para os fãs do universo lovecraftiano, tem umas ótimas ideias ao longo do livro todo e umas cerejas no topo do bolo.

Isaac D | Sinopse Ficha Técnica

E se você acordasse, e fosse outra pessoa?
E se criaturas inomináveis surgissem por toda a parte?
E se só você percebesse que elas estão ali?
E se elas viessem atrás de você? Você correria? Se esconderia? Ou Você lutaria…

Isaac D é uma Light novel repleta de ação e bom humor, apimentada com muitas referencias a Lovecraft e à cultura pop. Uma fantasia construída em cima do maior mistério da humanidade e que une mitos modernos e clássicos da literatura pulp.

    • Autor: Leandro Pileggi
    • Formato: 14×21 cm
    • Páginas: 248 páginas
    • Papel:Lux cream 70g
    • Capa: Supremo cartão 250g Prolan fosco
    • ISBN: 978-85-5447-040-1
    • Editora: AVEC Editora©
    • Ano de Lançamento: 2019

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Sobre a AVEC Editora

avec editora

A AVEC é uma editora nascida em 2014 que investe em escritores, desenhistas e quadrinhistas que estão dando seus primeiros passos na criação de histórias – mas já demonstram o talento de grandes autores.

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O Livro É | Isaac D, de Leandro Pileggi
  • 90%
    PREMISSA: - 90%
  • 80%
    DESENVOLVIMENTO: - 80%
  • 75%
    CONTEXTUALIZAÇÃO: - 75%
  • 75%
    PROCESSO NARRATIVO/ NARRATIVIDADE: - 75%
  • 70%
    PERSONAGENS: - 70%
  • 90%
    CONCLUSÃO/ DESFECHO: - 90%
80%

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Designer de produtos e gráfico, mestre em comunicação, professor.

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