A Literatura Nazista na América Latina é pequeno em tamanho, mas é um poderoso alerta rico em execução e trás o melhor da literatura latino-americana… e não estou falando da literatura nazista produzida aqui…
Estou falando da literatura produzida por Roberto Bolaño, uma das mais importantes vozes das Literatura produzida em nosso continente.
A Literatura Nazista na América Latina | Realidade, Ficção, Literatura e Imaginação
Imagine você que o escritor chileno Roberto Bolaño tenha tido o trabalho hercúleo de levantar, descrever, rastrear e analisar vários escritores latino-americanos importantes que foram influenciados do Nazismo alemão em suas obras…
Imagine também que Bolaño analisou algumas dessas obras de forma pormenorizada, indo da poesia, crônica, romance, ficção científica e contos diversos…
Imagine também que ao final dessa longa jornada enciclopédica para nos apresentar esses escritores argentinos, brasileiros, uruguaios, chilenos, paraguaios etc, Bolaño tenha juntado todos esses registros e lançado este célebre A Literatura Nazista na América Latina no ano de 1996…
Livro este, por sinal, que colocou o criativo autor nos radares da crítica literária especial e o alçou para longos voos.
Imagine, por fim, que este A Literatura Nazista na América Latina tenha voltado às livrarias em nova edição pela Companhia das Letras em ocasião oportuníssima, dado os problemas políticos, sociais e culturais pelos quais passam muitos dos países do continente latino-americano…
Então, é nesse clima entre imaginação e realidade, entre fato e ficção, entre técnica e forma, entre sonho e delírio que A Literatura Nazista na América Latina nos brinda com uma miríade de nomes, obras, situações e estilos que fariam qualquer aspirante a escritor rolar desesperado diante de tamanha genialidade.
A Literatura Nazista na América Latina
Vamos aos fatos:
- Roberto Bolaño realmente escreveu A Literatura Nazista na América Latina e o livro foi lançado originalmente em 1996 e o livro tem um tom enciclopédico detalhadíssimo e muito, muito instrutivo sobre a influência nazista em muitos autores de nosso continente;
- A editora Companhia das Letras realmente relançou a obra em março de 2019, agraciando os leitores com a oportunidade ímpar de conhecer esta obra igualmente ímpar;
- Ao melhor estilo do que já fez o grande Jorge Luiz Borges, Roberto Bolaño construiu sistematicamente uma enciclopédia rica em detalhes biográficos e literários sobre os nomes de alguns dos artistas mais produtivos latino-americanos, sejam amplamente conhecidos ou totalmente estranhos ao grande público;
- Todos os nomes que integram este A Literatura Nazista na América Latina são total e inteiramente inventados, criados, montados, construídos apenas dentro da cabeça de Roberto Bolaño para seu livro… desde a vida pessoal, cronologia, estilo de escrita, obras publicadas, cidades onde vive e editoras por onde publicou, tudo é fruto da mente e da escrita absurdamente fantástica de Bolaño.
Mais uma vez, recorro ao nome de Borges para explicar aqui o que Bolaño construiu com seu livro. Assim como Borges, o chileno utilizou-se de um tom frio, distante, meio jornalístico e biografista, enciclopédico e didático para montar seu A Literatura Nazista na América Latina e nos guiar pelos verbetes vivos de cada autor, esmiuçando suas obras e inspirações e, claro, o sutil contato com a influência nazista em nosso continente.
Mas mesmo com uma prosa sistematizada, um texto levemente mecânico, um roteiro reto e uma estrutura bem delineada sem espaços para emotividades, Bolaño nos entrega o que há de melhor na literatura produzida na América Latina e faz jus ao legado de nomes antes de Borges e depois dele.
Mesmo no tom acadêmico de pesquisa histórica, o que o leitor tem em mãos nesse livro é o que há de melhor na ficção contemporânea, no romance fictício e na ficção histórica.
Exímio conhecedor de suas raízes latinas, Bolaño nos conduz não só por um apanhado de nomes e datas, ele cria de forma magistral narrativas pessoais, jornadas coletivas, realizações familiares e dramas dos personagens que apresenta em seu livro.
Poderosa sátira de nossa condição de continente colonial, A Literatura Nazista na América Latina nos enreda pela perspectiva do quão sedutor pode ser um discurso de grandeza, de progresso e modernidade para aqueles relegados ao segundo, terceiro ou quarto planos dentro da ordem mundial.
Mais do que um ensaio pretensioso, mais que um experimento arriscado, o que A Literatura Nazista na América Latina nos entrega é uma coletânea de contos que flertam com a realidade latino-americana e a ameaça de inspirações nefastas como as ideias nazistas que por aqui ancoraram entre as décadas de 1930 a 2010.
Bolaño segura nossas mãos e nos leva a passear pela influência silenciosa da criatividade artística que flerta com a política, com a promessa do grande e se deixa possuir pelo discurso de dominação, opressão e superioridade, mesmo que os latinos ocupassem um lugar perto do final dessa pretensa fila…
Mais do que sua voz e suas ideias e alertas, Roberto Bolaño ecoa as vozes e anseios de um continente todo dentro desse seu pequeno livro em número de páginas, mas uma grande obra em ideias, discursos e execução, haja vista que temos em mãos um primoroso exercício de técnica de escrita e produção de narrativas.
Com 240 páginas, A Literatura Nazista na América Latina enriquece não só o catálogo da Companhia das Letras, mas qualquer estante e qualquer mente que se aventura por suas páginas.
Além disso, é um livro vem também enriquecer o número de obras de Roberto Bolaño lançados por aqui ao lado de Detetives Selvagens, 2666 — dois tijolões do autor também presentes no catálogo da Companhia das Letras — e outros 13 livros já lançados no país pela editora.
Mais do que uma obra de entretenimento e um grande exercício inventivo, A Literatura Nazista na América Latina é um livro para se ler e reler, pensar, refletir e ponderar sobre a trajetória dos povos latino-americanos na conjuntura mundial e, nesse caso, não estou falando apenas do cenário político e econômico, estou falando do cenário artístico e cultural, no qual vozes como a de Bolaño vem somar forças indispensáveis para uma identidade tão múltipla quanto as que aqui são construídas.
Fundamental? Com certeza… Indispensável? Absolutamente… Diverte? Sem sombra de dúvidas; mas faz pensar ainda mais…
Sobre o Autor
Roberto Bolaño Nasceu em 1953, em Santiago do Chile. Instalado na Espanha a partir de 1977, exerceu diversas atividades manuais para sobreviver. Depois do sucesso de crítica de La literatura nazi en América (1996), publicou várias obras em poucos anos. Morreu de insuficiência hepática em Barcelona, em 15 julho de 2003.
A Literatura Nazista na América Latina | Sinopse e Ficha Técnica
Organizada como uma antologia de escritores simpáticos ao horror, esta engenhosa obra compila perfis dedicados à vida e aos livros de autores de um cânone fictício e delirante.
Ao antecipar todas as temáticas que viriam a ser recorrentes na obra do autor, A literatura nazista na América é um livro-chave e cada vez mais atual na sua reflexão sobre o mal e a violência.
As vidas imaginárias perfiladas neste livro — que pode ser lido como um volume de contos, mas, principalmente, como um romance, como queria seu autor — irão se converter numa paródia sombria (e atual) da história real da literatura e da política do continente.
- Título original: LA LITERATURA NAZI EN AMERICA
- Tradução: Rosa Freire d’Aguiar
- Capa: Raul Loureiro
- Páginas: 240
- Formato: 14.00 X 21.00 cm
- Acabamento: Brochura com Orelha
- Lançamento: 14/03/2019
- ISBN: 9788535932065
- Selo: Companhia das Letras
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A Literatura Nazista na América Latina, de Roberto Bolaño
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Sobre o Autor
Designer de produtos e gráfico, mestre em comunicação, professor.