“A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso.
Palavra foi feita para dizer.”
Graciliano Ramos
Comparado com nomes como Machado de Assis, Franz Kafka, Samuel Bekett, Fiódor Dostoiévski, Albert Camus entre outros; Graciliano Ramos é realmente um nome de peso em nossa Literatura, exímio dominador do binômio forma-conteúdo, o autor deixou um legado digno de ser estudado e apresentado, lido e relido, debatido exaustivamente e claro, republico constantemente.
A 27 de outubro de 1892, na cidade de Quebrangulo, em Alagoas, nasce Graciliano Ramos de Oliveira, um dos maiores romancistas da história da literatura brasileira e latina, primeiro dos 16 filhos de Sebastião Ramos de Oliveira e Maria Amélia Ferro Ramos. É criado na Fazenda Pintadinho, sertão de Pernambuco.
Com sete anos de idade, vivendo em Viçosa, Graciliano passa a estudar no Internato Alagoano. É neste colégio que vê sua primeira obra publicada: o conto Pequeno pedinte, no jornalzinho O Dilúculo (alvorada), sob a assinatura de G. Ramos.
Em 1905, Graciliano Ramos vai para Maceió, e é matriculado no Colégio Quize de Março. Nesta época, dedica-se ao estudo do inglês, do francês, e do italiano.
Aos 17 anos de idade, sob o pseudônimo Almeida Cunha – um dos hábitos do escritor era a adoção de pseudônimos -, publica o soneto Céptico.
Ao completar dezoito anos, chega a Palmeira dos Índios, onde passa a residir, ajudando o pai em seu estabelecimento comercial, uma pequena loja de tecidos.
Entre 1914 e 1915, então no Rio de Janeiro, trabalha como revisor nos jornais Correio da Manhã, A Tarde e O Século, sob as iniciais R.O. (Ramos de Oliveira).
Em seguida, volta a Palmeira dos Índios, onde vários de seus familiares morrem num surto de peste bubônica. É lá que se casa, a 21 de outubro de 1915, com Maria Augusta de Barros, costureira do interior que morre cinco anos depois, deixando-lhe quatro filhios.
Em 1917, começa a trabalhar como lojista, e nove anos mais tarde casa-se novamente, agora com Heloisa Medeiros.
Em 7 de janeiro de 1928, Graciliano Ramos assume a prefeitura de Palmeira dos Índios, experiência que lhe oferece material para o primeiro romance, Caetés, publicado somente em 1933.
Em 1930, renuncia ao cargo, sendo, em seguida, nomeado diretor da Imprensa Oficial do Estado, de onde se demite em dezembro de 1931 por motivos políticos.
No ano seguinte começa a colocar no papel, em Palmeira dos Índios, seu segundo romance, São Bernardo, em boa parte escrito na sacristia da igreja Matriz da cidade.
Em 1933, é nomeado diretor de Instrução Pública de Alagoas – cargo hoje correspondente ao de secretário de Estado da Educação -, permanecendo até 1936. Por conta do que, na época, foi chamado “idéias extremistas”, foi detido e preso sem processo regular em vários presídios do Rio de Janeiro.
Seu drama e dos companheiros de cadeia seriam relatados em Memórias do cárcere, publicado postumamente em 1953.
Angústia, lançado em 1936, é considerado o romance tecnicamente mais complexo de Graciliano Ramos, no qual o autor retrata a cidade de Maceió daquela época. Mas é em 1938 que o autor escreve o livro que se tornaria sua obra-prima: Vidas Secas, seu quarto e último romance, voltado para o drama social e geográfico de sua região – melhor expressão de seu estilo, com ênfase regionalista.
Graciliano Ramos – o Mestre Graça, como era carinhosamente tratado – morre na Cidade do Rio de Janeiro, no dia 30 de março de 1953, aos 61 anos.
Conheça algumas obras de Graciliano Ramos
Vidas Secas
Nova edição brochura de um dos maiores clássicos da literatura brasileira. Lançado originalmente em 1938 e apresentado aqui em novo projeto gráfico, Vidas Secas acompanha a trajetória da família de Fabiano, Sinha Vitória, os dois filhos do casal e a cachorra Baleia na fuga do sertão em busca de oportunidades.
É o romance em que Graciliano Ramos alcança o máximo da expressão que vinha buscando em sua prosa: o que impulsiona os personagens é a seca, áspera e cruel, e paradoxalmente a ligação telúrica, afetiva, que expõe naqueles seres em retirada, à procura de meios de sobrevivência e um futuro.
Memórias do cárcere
Faltava escrever apenas um capítulo de suas memórias quando Graciliano Ramos faleceu, em 1953. Apesar de inacabado, o livro foi publicado de forma póstuma, originalmente em quatro volumes, com uma “Explicação final” de Ricardo Ramos fazendo as vezes de conclusão, e logo tornou-se o maior sucesso do autor — já renomado, mas pouco lido pelo público em geral.
Graciliano Ramos foi preso em Maceió, em março de 1936, e ficou detido, sem acusação formal, passando por prisões em Recife e no Rio de Janeiro, até ser libertado em janeiro de 1937, um dos mais ilustres prisioneiros vitimados pela repressão do governo Vargas.
Testemunho político de alto nível literário, as Memórias do cárcere reafirmam a qualidade excepcional da escrita de um dos maiores escritores brasileiros.
Alexandre e outros heróis
Graciliano Ramos une o real ao imaginário, cabendo ao leitor demarcar a fronteira entre outros territórios nesta nova edição de sua obra clássica.
Alexandre e outros heróis traz histórias folclóricas sobre heróis e grandezas – todas elas inverossímeis.
“De certa forma, a obra representa uma rendição de Graciliano Ramos, que resolveu dar trégua à contundência com que procurava revelar as condições inóspitas da região em que nasceu.
O leitor sai das páginas com a impressão de que o autor tenha por momentos interrompido a sua disposição de combatividade e procurado conviver com a realidade que tanto desejou transformar.
Depois de perseguir o enredo imaginoso nos seus textos, o ficcionista aceitaria agora até mesmo a anedota. O drama cedeu o passo ao humor e ao exótico.
A personalidade de Alexandre, bem trabalhada, é a viga mestra que sustenta o todo da narrativa”
Como escreveu Rui Mourão no Posfácio da obra.
Caetés
Nova edição do romance, agora com novo projeto gráfico. A história de Caetés se passa em Palmeira dos Índios, cidade em que Graciliano viveu. Neste romance narrado em primeira pessoa, conhecemos a trajetória de João Valério, um jovem guarda-livros introvertido e sonhador que se envolve com a esposa de seu chefe e amigo Adrião Teixeira.
Existe ainda em João, o desejo de se casar com Luísa Teixeira e poder assim, ascender socialmente. Porém, o livro vai muito além do que uma história de amor e seus desdobramentos.
O protagonista da obra aspira ser reconhecido como autor, e luta contra o bloqueio criativo que enfrenta em sua tentativa de escrever um romance histórico sobre os índios caetés.
Após um acontecimento inesperado e uma reviravolta no curso da história, o jovem ascende à posição de sócio da empresa em que trabalha. Sentindo-se culpado, mas incapaz de resistir ao poder, como em um ciclo, João Valério segue em seus devaneios românticos.
S. Bernardo
A nova edição de um dos maiores romances de Graciliano Ramos. No declínio de um atribulado percurso de vida, Paulo Honório, poderoso fazendeiro do sertão alagoano, conta a sua história. O narrador revisita dramas da sua vida e conflitos internos que permanecem inexplicáveis até o momento em que suas memórias estão sendo escritas.
Nem a fazenda S. Bernardo, que Paulo Honório comprou por preço irrisório, nem a professora Madalena, a quem contratou para alfabetizar as crianças do seu empreendimento rural e com quem acaba se casando, deram-lhe o sossego que tanto buscava. A escrita, então, é o que lhe resta, na tentativa de ter de volta a paz desejada.
Da elaborada teia existencial desenvolvida ao longo da trama – com os conflitos entre as visões de mundo incorporadas pelos personagens –, destaca-se um texto riquíssimo, principalmente nas falas de Paulo Honório, construído em metáforas surpreendentes, ainda que disfarçadas pela concretude das palavras.
Angústia
Nova edição de um dos mais importantes romances brasileiros da década de 1930. Leitura obrigatória para vestibular da Fuvest.
Lançado originalmente em 1936 e apresentado aqui em novo projeto gráfico, Angústia tem como protagonista Luís Silva, funcionário público de Maceió que leva uma vida medíocre e sem grandes emoções até o dia em que se apaixona por Marina.
De início, a jovem demonstra certo interesse no relacionamento e no conforto material que o casamento poderia lhe proporcionar, mas logo acaba trocando o noivo por Julião Tavares, mais rico e poderoso. Tomado por ciúmes e rancor, Silva fica perturbado com os acontecimentos que se desenrolam e passa a acompanhar a vida de Marina enquanto sonha em matar Julião.
Escrito em primeira pessoa, o romance tem estrutura temporal não linear, seguindo o fluxo de consciência do narrador-personagem e aproximando o leitor dos sentimentos despertados pelos conflitos vividos por Luís Silva.
Vidas secas (Graphic Novel)
Um dos mais importantes romances da literatura nacional em quadrinhos Vidas secas: Graphic Novel une o traço do premiado quadrinista Eloar Guazzelli ao texto clássico de Graciliano Ramos.
Com roteiro de Arnaldo Branco — responsável pela adaptação em HQ de outros clássicos da literatura brasileira, como Véu de noiva e O beijo no asfalto, de Nelson Rodrigues —, a história da jornada da família de retirantes sertanejos em busca de água, comida e melhores condições de vida ganha ritmo.
Respeitando o texto original, esta Graphic novel transforma e dá nova dimensão ao romance, consolidando-o como a história de um Brasil, infelizmente, mais que atual.
Fonte: https://www.record.com.br
Para saber mais sobre Graciliano Ramos e sua obra
Na obra de Graciliano, Ivan Marques destaca os momentos-chave em que o autor estabelece algumas de suas principais marcas estilísticas como a incomunicabilidade, a loucura, críticas a condição humana, estilo seco, conciso e sintético, e uma busca por objetividade e clareza, em obras como São Bernardo, Angústia, Memórias do Cárcere, Caetés, Vidas Secas entre outras.
Comparado com nomes como Machado de Assis, Franz Kafka, Samuel Bekett, Fiódor Dostoiévski, Albert Camus entre outros; Graciliano Ramos é realmente um nome de peso em nossa Literatura, exímio dominador do binômio forma-conteúdo, o autor deixou um legado digno de ser estudado e apresentado da forma como este Para Amar Graciliano faz, deixando uma obra complexa e monumental ainda mais acessível para todos.
- Titulo: Para Amar Graciliano
- Subtítulo: Como descobrir e apreciar os aspectos mais inovadores de sua obra
- Autor: Ivan Marques
- Número de páginas: 176
- Formato: 16×23 cm
- ISBN: 978-85-9581-001-3
- Editora: Faro Editorial
Sobre o Autor
Designer de produtos e gráfico, mestre em comunicação, professor.