Imagine que Sherlock Holmes, o maior detetive de todos os tempos, se depara com indícios de que há em nosso mundo uma cortina por trás da qual se ocultam conceitos e mistérios que vão além das Ciências e do raciocínio lógico…
Uma grande conspiração se desenrola para se apossar de uma cópia de um misterioso livro que pode revelar A Sabedoria dos Mortos e todo seu poder sombrio.
Iniciada em território americano, essa conspiração atravessa o oceano para se infiltrar nas fileiras do influente grupo conhecido como a Aurora Dourada, contra o qual o fabuloso Sherlock Holmes já havia se confrontado em seus anos de áureos.
Estariam as habilidades e o raciocínio apurado de Sherlock Holmes à altura dessa tarefa? O que levou o pacato Dr. John H. Watson a revelar depois de tantos e tantos anos essa estranha aventura ao lado de seu grande amigo e mentor? Que segredos estão ocultos nas páginas do terrível livro cujas cópias estão em poder de nomes proeminentes da aristocracia londrina?
Partindo destes e de muitos outros princípios e ideias é que o autor espanhol Rodolfo Martínez nos leva ao lado da dupla Holmes e Watson para viver um bizarra e inusitada aventura na Londres do final do século XIX que desafia todas as habilidades de Sherlock Holmes em sua tentativa de impedir que o Necronomicon, o livro dos mortes, deixe o território inglês sob as posses de um distinto cavalheiro cuja origem e propósitos são desconhecidos, mas que Holmes tem certeza absoluta que ao se apossar de tal instrumento arcano, algo de muito ruim pode acontecer com o equilíbrio de poder em nosso mundo.
Os Arquivos Perdidos de Sherlock Holmes – A Sabedoria dos Mortos
Em uma narrativa intrincada e labiríntica, Martínez nos guia pelas igualmente labirínticas ruas londrinas ao lado da dupla Holmes e Watson na que talvez seja a mais desafiadora investigação já escrita para o maior personagem de Arthur Conan Doyle por um autor que não o mesmo.
Ao utilizar sua capacidade ímpar para criar a lógica por detrás de qualquer situação, cena, crime ou ação humana, Sherlock Holmes se deparou neste livro com alguns dos insondáveis conceitos do mundo lovecraftiano e dos poderes ocultos da lógica e da ciência humanas.
Cético até o último instante, o personagem se lança página após página numa aventura para desvendar as ações de um estranho homem vindo dos EUA e que vai gradativamente avançando para os meandros da Aurora Dourada em busca de um cópia do Necronomicon, o fictício livro que década mais tarde figuraria nos escritos de um tal H.P. Lovecraft.
Sem acreditar que esse instrumento fosse mesmo detentor de algum poder oculto e sobrenatural, Holmes sai ao encalço do americano que se mostra, tal qual o próprio Holmes, um mestre em se ocultar, manipular pessoas e claro, dos disfarces que usa e abusa para perambular por toda a Londres sem ser reconhecido e atingir seus objetivos.
Para os fãs de Sherlock Holmes e sua perfeita lógica investigativa, esta obra é um prato cheio para matar as saudades do detetive, claro, pelas mãos de outrem, mas ainda assim uma genuína aventura do excêntrico morador do número 221B da Baker Street.
Mas se aqui o fã sherlockiano se encontra em seu elemento máximo e de costume, o fã lovecraftiano parece ter sido deixado de castigo em algum canto.
Se Holmes não acredita em nada da mitologia de Lovecrat, do poder do Necronomicon, Martinez parece coadunar dessas opiniões e visões em praticamente toda sua narrativa.
Aos que vierem aqui para um grande encontro entre a lógica sherlockiana e a narrativa assombrosa e macabra lovecrafitiana, vai, assim como eu, se frustrar em muitos pontos.
Veja bem, não estou dizendo que é um livro ruim ou mal escrito, pelo extremo contrário: A Sabedoria dos Mortos é um belíssimo escrito e uma narrativa construída com excelência em toda a sua estrutura, mas cuja grande estrela é Holmes e seu estilo de narrativa.
Calma, isso também não é nada de ruim e já vou explicar onde e o porquê da minha ressalva em relação a isso.
Aqui o leitor vai passar pelas ruas londrinas numa caçada fria e desapaixonada — o clássico estilo Sherlock Holmes — com a dupla de detetives se desdobrando para solucionar os mistérios envolvendo o estranho americano que busca incessantemente o livro dos mortos. Mas de outro lado, pouco ou quase nada da narrativa de Lovecraft integra esse rico relato, e aí reside a frustração para quem vem até a obra procurando por isso também.
Se você leitor, assim como este humilde escrevente desta resenha, é fã do universo e da atmosfera das obras de Lovecraft, então você, assim como eu, se frustrará nesse sentido, porque a construção desta ótima narrativa é uma grande homenagem para o detetive londrino em sua totalidade, relegando o universo lovecraftiano a um elemento motriz e integrante apenas da condução da história, mas não efetivamente funcional dentro dela em forma e estética.
A meu ver Martinez, um ótimo escritor, reforço, pareceu-me preso demais em sua própria ideia narrativa, dando a si mesmo poucas oportunidades de explorar mais e melhor os conceitos do mundo sobrenatural lovecraftiano. O próprio papel do Necronomicon na trama é constantemente reduzido a um artifício mais simbólico que efetivo, ou seja, um MacGuffin de luxo para atrair a grande audiência de fãs lovecraftianos.
Aqui Holmes usará seus dons detetivescos e de raciocínio para montar as peças da trama que põe a Aurora Dourada e seus influentes membros na mira de um perigoso estrangeiro que, de posse de conhecimentos profanos, opera verdadeiras façanhas para ludibriar Holmes que, a cada instante, nos faz lembrar de forma direta e objetiva que não crê em nada sobrenatural, havendo sempre alguma forma de explicar qualquer fenômeno, dos mais simples aos mais estranhos e desconhecidos.
Outro ponto que vai causar estranhamento aqui é a quase que total ausência dos conceitos mais comuns à obra lovecraftiana, o pouco que há, como disse, é pontuado como elemento de movimento da história: a caçada ao Necronomicon empreendida pelo antagonista que, por sua vez, motiva a caçada do protagonista para impedi-lo de obter o objeto desejado, tenha ele poder real ou não.
Durante todo o livro quem nos narra os fatos é o Dr. Watson, que registrou todas as aventuras de seu mentor e amigo durante longos anos e as publicava esporadicamente através de seu agente literário, ninguém menos que Arthur Conan Doyle; então, tudo que nos chega à percepção nos é passado pela percepção de Watson dos fatos.
Isso, para quem não é fã de longa data do personagem de Doyle, pode causar certo incômodo pelo excesso de divagações do doutor aspirante a detetive que passa páginas e páginas elucubrando sobre esse ou aquele fato, sobre essa ou aquela situação, sobre o estado mental desse ou daquele personagem ou como situação A ou B poderia ter culminado no desfecho X ao invés do Y.
Nesse sentido eu realmente faço uma crítica, pois Martinez se alonga demais nesses momentos que poderiam ser substituídos por uma certa agilidade na trama e em sua condução. São páginas e páginas onde Watson inclusive rememora detalhadamente fatos e casos inteiros da carreira de seu amigo e, o que poderia ser uma bela homenagem, acaba se tornando um sumário relativamente repetitivo dessas outras histórias.
Talvez para o fã de Holmes isso funcione — como acredito que realmente funcione —, mas ao mesmo tempo, como leitor, penso que uma obra deva funcionar por si mesma, sobretudo para o novo leitor que pode, a qualquer momento, buscar as muitas edições dos livros de Sherlock Holmes disponíveis no mercado, sem esquecer que o personagem é de domínio público, logo, podem ser inclusive lidas e encontradas em vários formatos digitalmente e de forma legal.
Mas em momento algum é minha intenção diminuir ou desmerecer o trabalho de Martinez, como disse, é um excelente livro e uma ótima narrativa, cheia de grandes momentos, homenagens e uma escrita elegantíssima, apesar de se prender demais na emulação da obra de Doyle, Martinez sabe conduzir seu escrito com maestria.
Soma-se a isso a ideia de contrapor Holmes ao sobrenatural, uma seara que Doyle não adentrou, uma vez que a bibliografia sherlockiana e seu universo são completa e inteiramente racionalistas, tragar o detetive para o meio sobrenatural sem descaracterizar essa materialidade fundamental de sua existência é sem dúvida trabalho para um grande artífice. Martinez atinge essa altura.
Para além dos momentos de divagação mais excessivos, Watson nos guia pelas brilhantes deduções de seu amigo excêntrico e elenca ao lado da dupla principal um vasto elenco de personagens que atravessaram o caminho dos dois ao longo dos anos.
Alguns destes emblemáticos personagens são apenas citados, outros tem papel mais ativo como Mycroft Holmes, por exemplo, e outros tem até mesmo seus desfechos arquitetados por parte do enigmático cavalheiro americano e seus conhecimentos sombrios aqui neste livro.
Engenhosamente, Martinez sabe brincar com o grande elenco coadjuvante que Doyle legou à Literatura inglesa, o que só reforça minha percepção de que o autor realmente pretendia escrever sobre e para Holmes, tendo o apoio circunstancial dos mitos lovecraftianos. Maaaaaaas já expliquei essa questão anteriormente, então, é só aquela cota de reafirmação.
Positivamente A Sabedoria dos Mortos é o primeiro livro da série Os Arquivos Perdidos de Sherlock Holmes e chega ao nosso mercado em uma bela edição pela AVEC Editora, com bom papel, folhas diferenciadas nas primeiras páginas e divisória de capítulo, excelente projeto gráfico de capa que utiliza belos adornos e tipografia.
Mesmo funcionando a contento como obra em si mesmo, tal fato já nos deixa antever uma miríade de possibilidades para o grande detetive e seu fiel amigo Dr. Watson. Agora já ciente que o mote da série não é dividir espaço entre o Sherlock Holmes de Doyle com uma trama lovecraftiana e sim contar uma aventura tipicamente sherlockiana com tons de influência ocultista tendo o conhecimento do sobrenatural como possível forma de poder político, tudo funciona muito melhor e sem as expectativas lovecraftianas alimentadas pela sinopse deste primeiro livro.
Aguardo ansioso para os próximos lançamentos dos Arquivos Perdidos de Sherlock Holmes, sem sombra de dúvida é um dos melhores materiais do catálogo da AVEC.
Recomendação para os fãs de Sherlock Holmes
Se você curtiu a ideia de A Sabedoria dos Mortos, recomendo também duas aventuras onde Sherlock Holmes também é protagonista, mas dessa vez acompanhamos o detetive em sua juventude dando os primeiros passos para se tornar o maior detetive do mundo.
A série Sherlock e os Aventureiros já conta com dois volumes de autoria de A.Z. Cordenonsi, ambos lançados pela AVEC Editora e disponíveis em seu catálogo.
Os Arquivos Perdidos de Sherlock Holmes – A Sabedoria dos Mortos | Sinopse e Ficha
Primeiro lançamento no Brasil do autor espanhol Rodolfo Martinez, um dos principais autores de ficção científica e fantasia da Espanha com tradução de Emanuele Coimbra e Enéias Tavares.
O maior detetive do mundo e seu narrador mais dedicado. Um manuscrito amaldiçoado composto por um árabe louco. Uma sociedade secreta que reúne eminentes figuras da sociedade inglesa. Uma mensagem cifrada encontrada em um cemitério indígena. Um príncipe que abdicou de seu reino, deixando os círculos místicos europeus em estado de alerta.
Todos esses elementos compõem o primeiro volume de Os Arquivos Perdidos de Sherlock Holmes, criado por Rodolfo Martínez, um dos mais importantes nomes da fantasia europeia.
Em uma trama de suspense investigativo e aventura sobrenatural, o autor espanhol aproxima a criação máxima de Arthur Conan Doyle do mundo horripilante de H. P. Lovecraft, envolvendo a Ordem da Aurora Dourada, Aleister Crowley e um enigmático monarca, que levarão assombro e misticismo ao universo racional e lógico de Sherlock Holmes e John Watson.
- PREÇO: R$ 44,90
- FORMATO: 16×23 cm, 224 páginas
- Papel: polen soft 80g
- Capa: Supremo cartão 250g Prolan fosco
- CATEGORIA: Sherlock Holmes, Necronomicon, Investigação, Sobrenatural
- Autor: Rodolfo Martinez
- Tradução: Emmanuelle Coimbra e Enéias Tavares
- Capa e projeto gráfico: Samir Machado de Machado
- Revisão: Gabriela Coiradas
- Edição: Artur Vecchi
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SOBRE A EDITORA
A AVEC é uma editora de Porto Alegre criada em 2014 para trazer o melhor da literatura fantástica e da ficção científica para seus leitores, investindo em sua grande maioria em escritores nacionais. Não queremos apenas editar livros, desejamos estar próximo dos leitores e dos autores.
Descobrir novos talentos da literatura e também trazer o que há de melhor no mundo. Compartilhar emoções e ser uma peça do imenso quebra-cabeças da vida de todos.
Os leitores também podem comprar direto no site da editora: http://www.avecstore.com.br/
Sobre o Autor
Designer de produtos e gráfico, mestre em comunicação, professor.