Em seus maiores momentos de glória é inato a Thanos, o titã louco, inconscientemente abrir mão de suas conquistas, pois em seu íntimo ele sabe ser indigno desses grandes poderes e dos momentos que deles advém.
Há longos anos os leitores das HQs da Mavel Comics já convivem com o titã louco e suas idiossincrasias, seus dilemas, seus desejos mórbidos pelo avatar da Senhora Morte — nos quadrinhos a Morte é uma das muitas entidades que compõem o panteão cósmico da casa das ideias —, sua incessante busca pelo poder capaz de extinguir a vida e muitas outras complexidades e facetas apresentadas pelo personagem.
Depois do advento das adaptações cinematográficas, Thanos também se tornou um personagem amplamente conhecido do grande público, sobretudo depois do arrebatador sucesso dos filmes Vingadores Guerra Infinita e Vingadores Ultimato, nos quais a figura do titã louco foi responsável por alguns dos melhores momentos do Marvel Studios.
Em Thanos Sentença de Morte tanto o leitor das HQs quanto os espectadores dos filmes podem encontrar mais uma aventura do titã louco onde estão presentes algumas de suas características mais marcantes como sua obsessão pela Senhora Morte, sua busca interior por aceitação, superação e poder desmedido para impor sua lógica de vida e domínio.
Mas vale deixar aqui um alerta: Thanos Sentença de Morte é uma obra que funciona por si mesma, pega alguns momentos e características emblemáticas de Thanos e do Universo Marvel das HQs e cria aqui uma realidade própria ao mesmo tempo muito parecida com o que o leitor já conhece de um lado, mas que segue rumos e tem liberdades bem particulares do outro.
Já no começo dos livros temos Thanos em plena posse das Joias do Infinito e quase concretizando sua comunhão total com o universo. Sua vitória é quase certa e seu golpe esmagador sobre a Terra inevitável. Mas numa manobra arriscada e sem precedentes, os heróis da Terra preparam sua cartada final contra Thanos aproveitando a estreita brecha que há em sua incompleta consciência cósmica.
Numa sequência vertiginosa de ações e reviravoltas, o titã louco é destituído do poder absoluto da Manopla do Infinito e a estrutura do universo é restaurada novamente. E calma, leitores… isso é apenas o começo de tudo e não há nenhum Spoiler aqui, o melhor da história de Thanos Sentença de Morte começa justamente depois da queda do titã louco.
A Jornada de Thanos em busca de… Thanos?
Depois de sua grande derrota, Thanos desperta nos domínios da Senhora Morte que tem para o titã louco uma última e derradeira prova. Thanos deve encarar, desprovido de seus dons, poderes e habilidades cósmicas uma nova vida em um novo corpo mortal escolhido ao acaso.
Destemido como sempre, Thanos não recua ante o desafio de se desconstruir e se reerguer a partir de quase nada. Enviado para mundos desconhecidos e frente a frente com desafios que seriam menos do que simplórios para o titã louco, porém de grande dificuldade para seres comuns desprovidos de qualquer dom cósmico ou aprimoramento. E é assim que Thanos começa sua nova vida: desprovido de seus imensos poderes, de sua consciência ampliada, de sua força descomunal e claro, de sua aparência inconfundível.
Thanos Sentença de Morte | Nos desertos de Sacrossanto
A primeira parada do titã louco é no ensolarado mundo chamado Sacrossanto, dominado pela Igreja Universal da Verdade, fundada pelo poderoso Magus, a segunda personalidade de Adam Warlock, maior adversário de Thanos.
Personificado como o escravo Nil, Thanos se depara com as limitações de um corpo frágil e simplório. O cansaço do trabalho pesado e o calor do sol são até leves se comparados com as chicotadas do feitor toda vez que um escravo esmorece em sua tarefa.
Mas assim como dor e cansaço, Thanos também conhece amizade e compreensão ao lado de outros seres ali trabalhando ao seu redor. Sua veia impulsiva não tarda a entrar em ação, pois apesar de estar em outro corpo, a mente de Thanos ainda é a mente de Thanos e ser escravizado por seres inferiores nunca foi uma de suas agendas.
Então o leitor tem aqui os primeiros vislumbres de um novo Thanos, percebendo o mundo dos escravos, dos pobres, dos oprimidos pela ótica deles mesmos. Destituído de seu pedestal de poder e glória, dividindo parcas refeições e planejando pequenos roubos ao lado das irmãs Felina e Avia, com quem passa a dividir aventuras e planos para usurpar o tesouro oculto no interior do grande templo da Igreja Universal da Verdade.
Com sua mente imperativa e sua capacidade inata de sobrepujar desafios, não demora muito para que Nil comece a pensar grande como fazia em sua vida como Thanos e esse caminho o coloca em rota de colisão com dos nomes de seu passado: Fauce de Ébano e Próxima Meia Noite, integrantes do grupo de elite conhecido como Ordem Negra.
Nil majoritariamente pressupõe que a dupla desconheça sua verdadeira identidade, ainda assim não se furta em envolver seus ex-generais em seu plano para se apossar dos tesouros da igreja de Magus, não importa que preço cobrado essa aliança venha lhe cobrar, afinal de contas, em seu âmago ainda arde a determinação férrea que constitui a própria essência do titã louco.
Uma revolta no coração do exército Kree
Com as mudanças drásticas ocorridas em Sacrossanto onde nada saiu como Nil havia pensado, o ex-escravo ruma para outro mundo em busca de novas respostas. Emergindo renovado, Nil deixa de existir e dá lugar para que um ardiloso soldado kree que almeja estremecer a estrutura hierárquica do mais poderoso império da Nuvem de Magalhães, mesmo que para isso precise desafiar a lógica implacável da Inteligência Suprema Kree.
Nesse capítulo o leitor tem um vislumbre de mais uma faceta bem conhecida de Thanos: o carismático, manipulador e político orador brilhante que é o titã louco. Se seu corpo foi desprovido de seus grandes poderes e de sua força bruta, seu intelecto continua ferino e sua retórica impecável.
Se em Sacrossanto Thanos precisou superar os limites físicos sem seu poderoso corpo, em Hala, capital do império kree, sua mente sagaz será colocada em xeque num plano ousado para usurpar o controle da poderosa esquadra kree e levar terror e guerra para um sem número de mundos.
Outro aspecto que muda as circunstâncias da jornada de Thanos é que, se Sacrossanto era um planeta precário em infraestrutura e recursos, Hala exalava modernidade, tecnologia de ponta, guerreiros por todos os lados e possibilidades maiores de tudo dar errado devido à presença dos poderosos Acusadores liderados por Ronan, uma ameaça que não pode ser ignorada.
Assumindo a identidade do capitão Teren-Sas da 18ª Divisão Estelar Kree, Thanos arma seu palanque para instigar os ávidos soldados kree para entrar em mais uma batalha para conquistar o planetoide chamado Hemithea, cuja conquista o império kree já havia adiando por longos ciclos.
Mas se a presença dos membros da Ordem Negra de certa forma eram uma lembrança constante do passado glorioso de Thanos, o que dizer quando outros nomes aparecem para atormentá-lo e colocar em dúvida seus planos e projetos? Seria tão simples mesmo remover o poder da Inteligência Suprema, conquistar um imenso exército e espalhar terror por inúmeros mundos com uma única jogada no tabuleiro?
Na identidade roubada de Teren-Sas, Thanos está disposto a arriscar tudo para provar para si mesmo, mas acima de tudo, para provar para a Senhora Morte que seus grandes feitos não resumem ao que pode ser conquistada ou destruído através de seus poderes.
Em Acro, contemplado um horizonte opressivo feito teto de porão
“Dizem que, quando o Titã Louco chegou a Acro, pela primeira vez na vida ele se sentiu em paz”
Mas os testes não são só sobre o corpo e a mente, o teste derradeiro é feito no coração do titã louco: seria Thanos, um dos mais poderosos seres vivos do Universo Marvel capaz de amar algo além da Morte? Seria ele capaz de viver em paz consigo mesmo e com aqueles ao seu redor?
No misterioso mundo chamado Acro, Thanos se depara com humanos vivendo de seu cultivo ou da caça de pequenos animais, morando em cabanas ou casebres simplórios onde aqui e ali resquícios de tecnologia estão jogados em velhos armazéns sem energia ou utilidade. Um vida de privações, mas digna e cheia de vida se estende pelo horizonte… mas esse horizonte começa a instigar a curiosidade de Thanos, talvez seu maior atributo.
Em contato com os simplórios moradores de Acro, Thanos começa a sentir seus instintos arrefeceram e suas andanças para desvendar esse estranho mundo cuja órbita estacionária deixa sempre um pequeno sol à vista no céu. Estranhamento a noite nesse mundo de sol constante é criada por placas metálicas que projetam sua sombra no solo. Tudo estranhamento funcionando à revelia dos moradores de Acro que não se importam com nada disso.
A paz irritante desse mundo vai gradativamente se entranhando na mente do antigo titã louco e os anos vão se passando, mesmo que aqui ou acolá Thanos seja incomodado pelos mistérios de um pequeno mundo desconhecido ou pelos ecos de seu passado cheio de glórias e conquistas, uma vida simples e tranquila se torna mais do que uma possibilidade.
Destituído de qualquer elo com seu passado, Thanos viu a colheita, a caça às quimeras, o nascer de dias sob as placas de metal, viu as duas tribos de Acro prosperarem e trocarem amizade e cooperação, aprendeu ofícios como a carpintaria e suas mãos que conheciam bem a destruição, conheceram a criação.
E assim o titã louco poderia ter vivido seus dias em paz, não fosse por seu débito infindável erguido pela promessa feita à Senhora Morte em ocasiões cuja conta já havia se perdido nas areias do tempo.
Nesse estranho mundo onde contemplou um horizonte ainda mais estranho, Thanos teria encontrado seu verdadeiro lugar e um povo para chamar de seu? Algo que não havia em Sacrossanto ao lado das amigas Felina e Avia? Nem ao lado dos soldados Kree na fracassada tentativa de golpe contra a Inteligência Suprema dos Kree?
Não haveria paz em lugar algum para Thanos por conta de seus milhares de crimes? Ou dos milhares de crimes cometidos em seu nome? O que o titã louco precisa fazer para agradar a Senhora Morte e conquistar um lugar a seu lado? Ele ainda precisa provar o que? Já não havia conquistado tantos artefatos poderosos como o Cubo Cósmico e as Joias do Infinito? Já não havia enfrentado centenas de vezes os campeões da Terra e batalhas mortais e provado seu verdadeiro valor?
Ninguém sabe… Nem mesmo o próprio Thanos.
É dada a Sentença da Morte
Stuart Moore vai lançando essas e outras muitas perguntas ao longo de seu livro, algumas bem claramente, outras de formas mais sutis e elaboradas, deixando a cargo do leitor acompanhar os passos e decisões de um dos personagens mais interessantes das HQs.
Aqui, mais do que transportar o personagem de forma direta, Moore opta por deslocar Thanos de seus elementos costumeiros e o lança numa jornada pessoal por descoberta e entendimento. Inúmeras vezes o personagem olhou para o abismo e o abismo olhou de volta para ele; mas aqui não bastou apenas olhar para o abismo, foi preciso que Thanos mergulhasse em suas profundezas e delas se embebedasse.
Talvez os leitores das HQs cheias de ação e raios cósmicos estranhem a narrativa desta obra, já que a narrativa de Moore nos guia por uma aventura estruturada como um Romance de descoberta, talvez isso afaste a galera que curte a ação desenfreada das HQs ou dos filmes. Nem muito lá, nem muito cá, Moore constrói, por assim dizer, seu próprio Thanos, um pouco diferente das HQs, se dúvida, mas também um pouco diferente da versão do cinema, mas identificável por qualquer um dos dois lados.
Vale frisar aqui que Moore intencionalmente, desde o começo de seu livro, quis dar ao personagem Thanos uma abordagem mais intimista, onde o que prevalece são as reflexões advindas das ações que o personagem toma frente aos novos mundos e contextos em que é realocado.
Nunca fica claro para nós o que Thanos deve fazer para se provar, nem que critérios são dados a ele na hora em que está saindo de um mundo para outro, de um corpo para outro.
Talvez isso incomode o leitor que gosta de respostas mais diretas ou de explicações que tirem o véu de certos mistérios, mas acredito que a intenção de Moore é justamente esse elemento de aleatoriedade ao qual Thanos está sujeito nessa história.
Sem saber por quais regras está jogando nem que passos realmente precisa dar para alcançar seus objetivos, o titã louco é realmente testado e a aura de desconhecimento que paira sobre ele, também paira sobre nós.
Em cada mundo um círculo se ergue em volta de Thanos e ele precisa agir e reagir aos estímulos que esse círculo infere sobre e sob ele. Amizade, companheirismo, respeito, admiração, medo, amor e dúvida são sentimentos praticamente inexistentes no coração do titã louco e é justamente a partir disso que Moore guia sua narrativa, de modo que o personagem seja testado diante de sentimentos e situações que, desprovido de seus grandes dons, precisa lidar de forma direta.
Apesar de ter uma prosa muito simples, o texto de Moore funciona bem em toda a obra, sua construção de Thanos nos três mundos nos deixa perceber que realmente temos ali o titã louco em sua essência — dominador, arrogante, frio, calculista — ao mesmo tempo em que vai delineado outras faces criadas a partir de cada situação.
E, se Thanos brilha sozinho, seus coadjuvantes não ficam atrás, pois é a partir deles que os moldes ao redor de Thanos vão se solidificando nas formas deixadas pelo artesão. Mas assim como Moore nos apresenta esses personagens satélites, ele também os tira de nós de formas bem inusitadas.
Thanos Sentença de Morte é uma obra bem leve e rápida de se ler, aqui e ali o livro nos deixa perceber bem que se trata de uma história do multiverso Marvel, onde há diferenças entre o Thanos do livro, o das HQs e claro, o Thanos dos filmes.
A participação de outros personagens da Casa das Ideias são bem pontuais e se resumem a uns poucos conhecidos do grande público e o autor parece escolher uma amostragem que gire bem entre personagens que já apareceram em filmes com outros que já tiveram muito contato com o titã louco.
Com absoluta certeza os fãs das HQs sentirão muita falta de contextos da famosa Saga do Infinito, Moore opta por fazer, digamos assim, sua própria versão da batalha de Thanos de posse das Joias do Infinito. Como disse antes, temos aqui uma versão multiversal da saga, sendo mais uma das realidades paralelas do Universo 616 da Marvel, inclusive com Thanos tendo vislumbres de outras realidades onde ele e Adam Warlock contemplam um espantalho com estranhas vestes.
Com 320 páginas, Thanos Sentença de Morte é um livro divertido, inteligente e, apesar de às vezes exalar uma certa pomposidade grandiosa que contrasta com uma simplicidade até demasiada, é uma narrativa bem direta no que quer entregar: um romance de autodescoberta que se sustenta num ícone da cultura pop dos últimos anos; por coincidência também um dos maiores vilões das HQs de todos os tempos.
Thanos Sentença de Morte muitos requisitos para agradar o fã do Thanos das HQs, dos cinemas e de outras mídias, porque se tem uma coisa que eu tenho certeza é: Thanos sempre rede no mínimo histórias muito intrigantes; nas mãos de bons autores então fica tudo melhor.
Thanos Sentença de Morte | Sinopse e Ficha Técnica
UM ROMANCE INÉDITO ESTRELANDO O MAIOR VILÃO DA MARVEL!
É uma luta antiga: Thanos conquista as Joias do Infinito, Thanos perde as Joias do Infinito. O mundo é, então, reconstruído. Desta vez, no entanto, a Morte perdeu a paciência com o poderoso Titã Louco. É hora de mudança.
A Morte está cansada de esperar.
Essa incessante busca de Thanos pelas Joias do Infinito sempre o definiu. Mas quando os heróis da Marvel o derrotam mais uma vez, a Morte, amada de Thanos, concede-lhe uma última chance. Desprovido de seus poderes e de sua velha pele, Thanos embarca num itinerário cósmico para reafirmar seu poder sobre si mesmo e sobre o Multiverso.
Thanos Sentença de Morte é uma história original que explora os aspectos mais profundos de um dos personagens mais poderosos do Universo Marvel. Thanos tem em suas mãos a chance de se tornar algo completamente diferente. Ele manterá suas ilusões de grandeza, ou seria este um novo caminho para um deus perdido? Confira neste 19º livro da Série Marvel, trazida a você com exclusividade pela Novo Século.
- Autor: Stuart Moore
- Capa comum: 320 páginas
- Editora: Novo Século
- Edição: 1 (10 de abril de 2018)
- Idioma: Português
- ISBN-10: 9788542810547
- ISBN-13: 978-8542810547
- Dimensões do produto: 22,8 x 16 x 2 cm
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Sobre o Autor
Designer de produtos e gráfico, mestre em comunicação, professor.