Bem-vindo à Neuerkerode, uma comunidade ímpar, onde descoberta, amor, liberdade, respeito, inclusão e superação se entrelaçam diariamente com pequenas vicissitudes daqueles que possuem alguma limitação mental, mas nem por isso menos aptos para viver plenamente.
É em Neuerkerode que Noel, nosso protagonista, vai realmente se deparar com tudo isso enquanto está Aprendendo a Cair e a se levantar dos tombos que a vida lhe reserva. E nós estaremos ali, ao seu lado, ora pra lhe estender a mão amiga, ora para sermos erguidos por ele e pelo que ele tem a nos ensinar… e ele tem muito a nos ensinar.
Em um pequeno apartamento em Berlin, Noel e sua mãe levam um vida pacata e comum. Ambos o mundo completo um do outro. O dia tinha sido perfeito, o aniversário de Noel foi agraciado com dois presentes igualmente perfeitos: um par de ingressos para o vindouro show da banda AC/DC e uma guitarra.
Mas o pequeno mundo perfeito de Noel desabou junto com sua mãe no banheiro de casa após um derrame… Uma vida de rotina, constância e segurança acaba de se desmantelar. Veio o socorro e a separação de tudo que havia de concreto na vida de Noel.
Se Noel fosse outra tipo de pessoa, talvez fosse esmagado sob o peso da metade de seu mundo que lhe soterrou no medo e na dúvida, mas Noel vê esse mundo de uma forma mais simples e mesmo na tristeza e no medo, o jovem protagonista de Aprendendo a Cair tem uma mente criativa, lúdica e prodigiosa, se refugindo em outro pedacinho de seu mundo que só ele pode ver e acessar.
Aprendendo a Cair e a se reerguer
Rumando para uma nova história em Neuerkerode, Noel se vê cercado por novas pessoas, todas tão ímpares e peculiares quanto ele mesmo e, apesar de haver tantas diferenças e tantas mudanças, Noel parece estar mais uma vez em casa.
No momento em que mais se sentiu sozinho em sua vida, Noel também se viu cercado de novas pessoas, de sua amizade e aceitação e, das ruínas de sua vida anterior, se ergueu uma nova vida repleta de cores, formas, aprendizados e descobertas.
Feito para comemorar os 150 da comunidade de Neuerkerode, Aprendendo a Cair é uma belíssima narrativa visual construída quadra a quadro pelo artista Mikael Ross com toda a maestria de sua arte colorida, fluída, engraçada e que lembra bastante aquela arte livre e um tanto onírica dos desenhos feitos por crianças, algo que dá toda a tônica da identidade de Noel, uma rapaz introvertido, simples, curioso e claro, muito criativo.
Não há dúvidas de que Noel é o protagonista dessa narrativa gráfica, é ao lado dele que vamos descobrindo cada cantinho e cada morador de Neuerkerode, sua história e a importância desse lugar que, em seu século e meio de existência, abriu suas portas e recebeu de braços abertos todos aqueles que, por um motivo ou outro não poderiam viver no dito “mundo normal” por conta de suas necessidades especiais/específicas.
Nesse sentido, Neuerkerode divide o palco da história de Noel com o personagem. As rotinas diárias da comunidade, as amizades construídas no convívio do dia a dia ou em pequenas aventuras explorando os entornos da comunidade.
Nesse misto de aventura da descoberta e aprendizado, Ross nos guia por temas complexos de se abordar e delicados de se expor: a relação dos portadores deficiências mentais entre si e destes com o mundo que os cerca. Mas o que poderia ser uma abordagem e uma história pesada é, ao contrário, uma abordagem divertida, leve, inteligente e cheia de uma sensibilidade que nos emociona pela naturalidade com que esses temas são tratados, tudo de forma lúdica e natural, sem menosprezar o tema e o leitor.
Neuerkerode é um lugar não só para essas pessoas terem um lar, mas para aprenderem a cuidar dele, de si mesmas e de viver em plenitude, sem medo do preconceito e das complexidades desnecessárias do dito “mundo normal”. Cuidar do próprio lar, de si mesmo, cuidar de seus amigos, compreender que há sim lugar para você, que você faz parte do mundo e que esse mundo é seu também.
O que Noel e seus amigos nos lembram constantemente nesse belo relato é que nosso mundo deveria ter mais espaços de convívio e respeito como Neuerkerode, que cada pessoa dessas não é um ponto fora da curva que precisa ser isolado, de que estamos tratando com seres humanos que anseiam por tudo que todos nós ansiamos: amor, amizade, respeito, companheirismo, aventuras e histórias para contar para filhos e netos.
Com sensibilidade, atenção e delicadeza, todos os temas em torno do tema central das necessidades especiais é posto nas 128 páginas dessa graphic novel sem perder de vista a necessidade de expô-los ao mesmo tempo que nos lembra que falar sobre eles não precisa ser um tabu, que olhar com carinho para essas pessoas não significa pena ou compaixão, mas sim o real sentido do que é sentir carinho pro outro ser humano, respeito pelo outro, empatia pelo outro; que inclusão não é uma obrigação e sim uma atitude natural e humana.
Mas tudo isso não brota por acaso na obra, Ross morou por 2 anos na comunidade e, ao mergulhar em suas particularidades e rotinas, pôde traduzir a espirituosidade do lugar, sua aura de acolhimento, inclusão e integração. A meu ver o resultado foi mais que satisfatório, foi perfeito.
Não foram poucos os momentos da leitura em que me vi sorrindo com as ricas expressões dos personagens desenhados por Ross, todas bem exageradas, mas capazes de sintetizar uma miríade enorme de emoções positivas; mas também não foram poucas as ocasiões que Ross me surpreendeu com momentos de grande sensibilidade, ternura e poesia visual…
Atente-se, deixe a caixa de lenços por perto ao primeiro sinal de uma bailarina montada num cavalo branco se aproximando do carrossel…
Rico em sentido, significado e mensagem, Aprendendo a Cair é uma obra daquelas que vem engrossar a fila de quadrinhos que se baseiam no mundo real para nos trazer histórias com um tipo de aventura diferente daquelas vividas pelos super-heróis e seus grandes poderes e responsabilidades.
Mas não esqueça, Noel tem sua capa, seu traje especial, suas habilidades ímpares e uma imaginação fértil capaz de tornar o mundo real um lugar mais divertido de se viver… E ele tem seus amigos, todos super-seres como ele, todos com suas habilidades especiais, sobretudo a habilidade de viver em plenitude tudo que o mundo tem a lhes oferecer, do amor, passando pela amizade sincera, passando pelos concertos de Rock’n’Roll com longos solos de guitarra.
Aprendendo a Cair está disponível no catálogo da Editora Nemo desde agosto de 2020, a HQ tem 128 coloridas, capa cartão com orelhas, formato 19 x 25 cm em brochura.
Vencedor do Max Und Moritz, o grande prêmio alemão dos quadrinhos
Neuerkerode é uma vila alemã gerida inteiramente por pessoas com algum tipo de deficiência mental. Eles administram o restaurante local, o bar, o supermercado – eles estão no comando. É um lugar lindo, quase inacreditável, que realmente existe, e é lá que esta história se passa.
Noel vive há muitos anos com a mãe em um pequeno apartamento em Berlim, até que um dia tudo muda. Ela cai. Um derrame, ao que parece. De repente, ela está no chão, rodeada por uma grande poça de sangue. A vida de Noel se abala radicalmente. Então um homem com bigode surge e afirma que Noel não pode mais ficar sozinho em seu velho apartamento.
Ele tem que se mudar, para longe de Berlim, para longe de casa. Para um ambiente completamente diferente, um centro de acolhimento para outras pessoas com deficiência. Pela primeira vez na vida, Noel está sozinho. Mas também é a primeira vez que ele vive com tantas outras pessoas.
Em quem ele pode confiar? De quem ele gosta? Quem o ama?
“Uma obra-prima […] Mikaël Ross criou um quadrinho impressionante. Embora ‘impressionante’ não seja suficiente. É também surpreendente… Incrível, para dizer o mínimo, porque não conheço nenhum outro quadrinho dos últimos dez ou vinte anos que tenha se tornado algo tão grandioso.”
Timur Vermes, Der Spiegel
Aprendendo a cair | Ficha Técnica
- Páginas: 128
- Formato: 19 x 25 cm
- Acabamento: Brochura
- Título original: Der Umfall
- Tradução: Renata Silveira
- ISBN: 9786586128055
- Edição: 1
- Mês/Ano de publicação: 08/2020
- Primeira edição: 08/2020
- Selo: Editora Nemo
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Sobre o Autor
Designer de produtos e gráfico, mestre em comunicação, professor.