Clássico da literatura brasileira, O Alienista, ganha edição ilustrada pela Editora Cobogó
Conto ou novela? Realismo ou alegoria? Razão ou insensatez? O Alienista, de Machado de Assis, é antes de tudo um texto clássico, que trata de questões atemporais e, agora, chega às livrarias em edição ricamente ilustrada pelas obras da artista mineira Rivane Neuenschwander.
Nesta obra-prima da prosa brasileira, um médico estudioso do juízo humano inaugura um hospício em Itaguaí, a infame Casa Verde, “bastilha da razão humana”. Após internar compulsoriamente quase todos os cidadãos da pacata cidade, o médico decide, por fim, liberá-los e internar-se a si mesmo.
Publicado originalmente em 1882, o texto trata dos limites entre sanidade e loucura, com a ironia machadiana e seu olhar aguçado sobre os personagens curiosamente reconhecíveis na sociedade brasileira. O Alienista reflete e escancara a fragilidade inerente ao conceito de normalidade. Afinal, nem um gênio conseguiria definir o que é normal.
A narrativa de Machado revela uma mordaz analogia com nossos dias. Impulsionada por essa percepção, a artista Rivane Neuenschwander concebeu a instalação O Alienista, em 2019.
Composta de 20 bonecos feitos com garrafas de vidro, tecido, papel machê e uma miríade de materiais, a obra arremessa as personagens da trama machadiana para o contexto político brasileiro atual, criando uma “ficção dentro da ficção” que nos convoca a refletir sobre a irracionalidade e um despautério de grandeza nacional.
Com prefácio escrito pelos sociólogos Laymert Garcia dos Santos e Elton Corbanezi, esta publicação reafirma as livres associações entre a obra literária do século XIX e a obra visual homônima do século XXI, fundindo a cronologia do tempo ao entremear uma à outra, reverberando assim o pulso contemporâneo da história original.
Cobiça de poder, interesses políticos, dogmas religiosos, crendices, são temas que atravessam ambas as obras. Em Machado, a alegoria vem por detrás, vai tomando forma ao longo da leitura, tecendo estranhezas, até que do aparente realismo projetam-se instigantes figuras de linguagem a serem decifradas.
Em Rivane, a alegoria é a forma, enriquecida com plantas e animais, e toda uma gama de simbologias que compõem o conteúdo. No meio do caminho de ambas as obras, imprime-se o humor que é espingarda de cano duplo, ferramenta autoral que produz prazer ao passo que denuncia uma realidade perversa que se estabelece.
A leitura de O alienista, de Machado de Assis, ganha enfim uma edição contemporânea, com o deleite redobrado ao ser ilustrada pela obra de Rivane Neuenschwander, em sua pertinente transposição das personagens para o presente imaginário coletivo.
Sobre Machado de Assis
Machado de Assis (Joaquim Maria Machado de Assis), jornalista, contista, cronista, romancista, poeta e teatrólogo, nasceu no Morro do Livramento, no Rio de Janeiro, em 21 de junho de 1839, e faleceu também no Rio de Janeiro, em 29 de setembro de 1908. Publicou seu primeiro livro de poemas, Crisálidas, em 1864 e seu primeiro romance, Ressurreição, em 1872.
Mantinha forte colaboração com jornais e revistas da época, como O Cruzeiro, A Estação e Revista Brasileira, onde publicava crônicas, contos, romances e poemas, que vinham a público em forma de folhetim antes de serem publicados em livros.
Assim, saíram as primeiras versões de A mão e a luva (1874), Memórias póstumas de Brás Cubas (1880), Quincas Borba (1886-1891), entre outros. Em 1881, publicou em livro Memórias póstumas de Brás Cubas, inaugurando assim a sua fase realista, a qual inclui as suas obras mais conhecidas: Quincas Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó e Memorial de Aires.
Em 1882, publicou a coletânea de contos Papéis avulsos, no qual se encontra “O alienista”. Em 1897, foi eleito presidente da Academia Brasileira de Letras, cargo que ocupou por mais de dez anos. Instituição que Machado ajudara a fundar no ano anterior e que ficou conhecida como Casa de Machado de Assis.
Sobre Rivane Neuenschwander
Rivane Neuenschwander nascida em Belo Horizonte, vive e trabalha em São Paulo. Formou-se pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais e pelo Royal College of Art, Londres. A artista aborda temas como memória, desejo, sexualidade, política e violência em trabalhos que convocam a participação do outro, seja no desenvolvimento, seja na formalização de ideias.
Questões relativas à linguagem se desenvolvem em obras que se apropriam de calendários, mapas, bandeiras, alfabetos e mesmo a comunicação não verbal. Desde 2013, em workshops de criação, ela pesquisa os medos de crianças, tanto em suas variantes psicanalistas como também o medo enquanto afeto fundamental, índice de manipulação política e social.
Baseando-se em referências da literatura, do cinema e diversas manifestações culturais populares, o trabalho de Neuenschwander abarca experiências sensoriais, ativando a participação física e crítica do público. Sua obra faz a mediação entre o íntimo e o público, o autoral e o coletivo.
Participou de importantes exposições coletivas como a Bienal de Veneza (2003, 2005), a Bienal de São Paulo (1998, 2006, 2008) e a Bienal de Istambul (1997, 2011). Dentre as exposições individuais recentes destacam-se O Alienista, Fortes D’Aloia & Gabriel, São Paulo (2019); Alegoria del Miedo, NC-Arte, Bogotá (2018); O Nome do Medo, Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro (2017); mal-entendidos, Museu de Arte Moderna de São Paulo (2014); A Day Like Any Other, New Museum, Nova York (2010).
O Alienista | Ficha técnica
- Título: O alienista
- Autor: Machado de Assis
- Ilustração: Rivane Neuenschwander
- Número de páginas: 120 páginas
- ISBN: 978-85-5591-108-8
- Formato: Brochura
- Dimensões: 14×23 cm
- Ano de publicação: 2020
- Preço: R$69,00
- Editora: Cobogó
Sobre o Autor
Designer de produtos e gráfico, mestre em comunicação, professor.