Resenha | A Garota Anônima, de Greer Hendricks e Sarah Pekkanen

A Garota Anônima é um livro interessante, para dizer o mínimo. Escrito a quatro mãos, a obra nos leva para a vida da jovem Jessica Ferris, em breve conhecida como participante 52, em um estudo sobre ética e moralidade…

Jessica — Jess para amigos e familiares — tem 28 anos, mora em Nova York há alguns anos e trabalha como maquiadora profissional atendendo clientes para a empresa Beauty Buzz. Seus planos eram outros; Jess queria mesmo trabalhar no show business, nas grandes peças teatrais, maquiando atores, atriz, companhias de dança…

Mas seus planos não seguiram os rumos que ela queria, mas voltar para casa não é uma opção viável, sua irmã Becky, 22 anos, precisa de cuidados especiais por conta de um acidente na infância e a ajuda financeira de Jess é fundamental para o bem-estar da irmã caçula.

Resenha | A Garota Anônima, de Greer Hendricks e Sarah Pekkanen — Capa do livro “A Garota Anônima”, de Greer Hendricks e Sarah Pekkanen

Em poucas palavras, Jess é uma moça batalhadora, apesar de ainda muito jovem, ela carrega muitas dores e pesos sobre os ombras, sobretudo o fardo de que ela é responsável pelo acidente de sua irmã anos antes, um segredo que ela esconde até mesmo de seus pais.

Mas essa vida sobrecarregada, porém bem comum na rotina de milhares de pessoas, vai mudar drasticamente para Jess. Em um de seus atendimentos, Jess consegue obter informações de uma pesquisa sobre ética e moralidade que paga bem para seus participantes.

Ao trocar de lugar com a participante original — uma de suas clientes —, Jess se apresente ao local da pesquisa para participar do estudo, seu interesse prioritário é obter o valor em dinheiro pago aos participantes; nada demais poderia ocorrer em um estudo que garante sigilo e é realizado em um belo e imponente prédio.

Diante de um computador Jess, agora chamada de Participante 52, começa a responder de forma natural perguntas aparentemente automáticas e previamente estabelecidas. Mas do outro lado da tela, seu misterioso entrevistador começa a lhe instigar mais e mais em busca de seus segredos e pensamentos.

E é desse modo que a jovem maquiadora começa a se enredar por um perigoso labirinto de situações estranhas em busca de respostas para perguntas que ela mesma sequer desconfia de quais sejam as verdadeiras perguntas.

Instigada a se envolver em situações das quais não tem a menor ideia dos objetivos, a Participante 52 vai a restaurantes, exposições de arte, aguarda no saguão de um hotel, flerta com homens que nunca viu antes e precisa obter deles determinadas respostas em determinadas situações, reportar assim que possível essas situações para os resultados da pesquisa, resultados esses que escapam completamente ao seu entendimento.

Enquanto isso, em um segundo foco narrativos, os leitores acompanham relatos da pessoa por trás do estudo do qual Jessica é agora a única participante real. Esse segundo narrador é frio, inteligente e extremamente calculista. Seus interesses em Jessica vão muito além das perspectivas sobre ética e moralidade.

Observando inicialmente de longe e depois se aproximando cada vez mais e mais da Participante 52, esse misterioso segundo narrador tem uma agenda bem própria e particular para realizar sua pesquisa. O que Jess não tem ideia é de que houve outra participante antes dela, cujo destino é um mistério tanto quanto sua relação com a pessoa responsável pelo estudo no qual a jovem maquiadora está mergulhada.

Este misterioso personagem divide com Jess os dois focos narrativos do livro escrito pelas autoras Greer Hendricks e Sarah Pekkanen. A Garota Anônima alterna entre esses dois focos narrativos enredando não só personagens, mas leitores também em uma trama que começa bem lenta e cadenciada, mostrando muitos detalhes de cotidiano e situações que vão construindo não só as relações de personagens fictícios entre si, mas também a relação destes para com os leitores.

Inicialmente a obra não me pegou pelo ritmo, achei um tanto lento e demorado para que algumas coisas acontecem. Mas foi uma questão apenas de gosto pessoal, estou bem habituado a thrillers mais dinâmicos e ágeis, que já jogam sobre o leitor suas principais questões e seu senso de urgência e imediatismo.

Mas a dupla de autoras construiu aqui outro tipo de thriller, um com bastante desenvolvimento de contextos e senso de construção de personagens para depois construir seu suspense. Talvez muitos leitores, assim como eu, achem a primeira parte do livro até meio tedioso, mas não se iludam, as recompensas narrativas estão todas dentro de cada capítulo e cada parte da obra.

Dividido em três partes bem delimitadas, A Garota Anônima é uma ótima pedida de livro para os que curtem uma narrativa bem metódica e com elementos ocultos que são essenciais para a cosntrução narrativa. E nisso a dupla de escritoras fez um belo trabalho, nos entregando personagens bem sólidos e consistentes dentro do que cada um representa na trama.

Greer Hendricks e Sarah Pekkanen, as autoras de “A Garota Anônima”

Com uma trama dividida entre dois focos narrativos, o leitor tem constantemente a percepção de uma dualidade que nos coloca diante de uma relação de admiração, respeito, medo, fascínio e opressão. Aqui as relações de poder entre manipuladores e manipulados dá toda a tônica.

Os dois pontos de vista da obra nos instigam a continuar capítulo a capítulo para compreender como Jess vai conseguir sair de um labirinto cheio de armadilhas… Isto é, se é que Jessica vai mesmo sair.

Escrito a quatro mãos, acredito que cada um das autoras deva ter escrito um dos pontos de vista de forma própria, de modo a dar a cada um deles sua própria e única identidade, garantindo ao leitor a perfeita sensação de que realmente estamos diante de duas pessoas diametralmente opostas e distintas.

Até então, não havia lido nada de nenhuma das autoras e esta primeira experiência me entregou algo muito interessante. Apesar do estranhamento inicial da construção da primeira parte, A Garota Anônima me surpreendeu muito positivamente quando os mistérios em torno da pesquisa que Jessica participa começam a vir à tona e sua vida começa a se complicar ainda mais.

Obsessão, controle opressivo, paranoia, medo, culpa, autodepreciação, busca por aceitação constante, fidelidade, ética e moral são alguns dos temas que permeiam esta ótima narrativa.

A Garota Anônima não é um livro para ser lido freneticamente, apesar de seus muitos e bons ganchos, a obra é muito mais uma leitura cadenciada, analítica e contemplativa, com um estilo misto de thriller e drama, o duplo foco narrativa dá toda a tônica da leitura e da curva crescente de tensão que vai dominado a narrativa; o que torna esse livro uma dessas obras dessas que nos fazem parar e refletir sobre muitos temas e assuntos que, se não são nossos, são de alguém bem perto de nós.

Mais um ponto positivo na extensa galeria de thrillers da Faro Editorial, porque a meu ver, livro bom é justamente aquele que te incomoda em algum aspecto ao mesmo tempo que consegue te prender e te instigar em tantos outros. E aqui confesso: eu me senti muito bem por não ter desistido da obra por conta de alguns aspectos que me fogem ao gosto.

A Garota Anônima | As autoras

Greer Hendricks mora em Manhattan com o marido e dois filhos. Antes de se tornar escritora, Greer foi vice-presidente e editora da Simon & Schuster. Seus textos já foram publicados no The New York Times e na revista Publishers Weekly.

Sarah Pekkanen vive com o marido e os três filhos em Maryland, nos Estados Unidos. Seus livros sempre ocupam as listas de mais vendidos. Já escreveu para vários jornais e revistas como People e Washington Post.

A Garota Anônima | Sinopse e Ficha Técnica

Quando Jessica Farris se inscreve para um estudo conduzido por um grupo de psicologia, ela pensa que tudo o que precisa fazer é responder a algumas perguntas, receber seu dinheiro e ir embora.

Mas à medida que as perguntas ficam mais invasivas, Jess começa a sentir como se soubessem o que ela está pensando… e, pior, o que está escondendo.

Conforme a paranoia de Jess aumenta, fica claro que ela não pode mais confiar no que é real em sua vida e o que são experimentos manipulados pelo grupo de pesquisa. Agora, presa em uma teia de incertezas, Jess rapidamente aprende que algumas obsessões podem ser mortais.